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Tradição Vibrante

Obra de Madriano Basilio
Obra de Madriano Basilio

Tradição vibrante

Manifestação da sensibilidade de seus criadores, a arte naïf expressa atualmente temas rurais e urbanos em sintonia com o contemporâneo

Europa: o ano era 1886 e a exposição dos quadros de Henri Rousseau (1844 - 1910), no Salão dos Independentes, (Salon des Independents), foi o evento catalisador para que a arte naïf se validasse perante aos críticos da época, configurando a legitimação artística de trabalhos originais que caiam velozmente no gosto do público.
 

Revista E Sesc São Paulo - Matéria Gráfica agosto/2016

 

História, temas e técnicas

“Por ser um conceito do século 19, o termo naïf perdeu muito de seu sentido original”, afirma o doutor em Educação, Arte e História da Cultura, autor de livros sobre a modalidade, Oscar Alejandro Fabian D’Ambrosio. Para ele, não há na atualidade artistas ingênuos no sentido estrito do termo, já que naïf, em síntese, acena ao que é espontâneo, instintivo, sem o uso de técnicas formais nem acesso a escolas da chamada arte erudita. “O termo hoje está mais vinculado a artistas sem acesso aos mecanismos formais de ensino de arte, principalmente à universidade. Surgem assim dois grandes grupos: aqueles que trabalham com temas urbanos e aqueles que exploram assuntos rurais”, contextualiza D’Ambrosio. “Tecnicamente, há também dois grupos principais: os que lidam com a pintura em seu formato mais tradicional e realista e os que se valem de materiais alternativos, como caixas de fósforo, colchões, materiais reciclados e outros encontrados em seu cotidiano.”

Manifestação da sensibilidade

Da dicotomia entre os saberes, o realizador naïf constrói valores baseados na tradição. “Um saber que se consolidou com o tempo e se transfigurou numa linguagem poética”, identifica o curador e pesquisador Claudinei Roberto da Silva. Ele alerta que classificar a atuação dos artistas fora do circuito acadêmico não significa dizer que eles não possuam conhecimento técnico e teórico, mas que tal conhecimento é originado em fontes diferentes.

“Muitos dos artistas do expressionismo alemão ou do fauvismo francês e belga no início do século passado tinham nos seus trabalhos marcas que são reconhecidas na arte dita naïf; no entanto, não os rotulamos de ingênuos, ou primitivos”, explica Claudinei. “Precisamos entender o naïf mais como uma manifestação da sensibilidade humana e, assim, abrir espaços para esses artistas fora de nichos, nas mesmas galerias que abrigam quaisquer outras manifestações contemporâneas, já que estão em plena sintonia com tudo o que vai pelo mundo, e pelo mundo também vão as festas juninas, ou reisados, as congadas, os maculelês, expressões da nossa complexa e variada humanidade.”


Universos Particulares

13ª edição da Bienal Naïfs do Brasil pode ser vista até 27 de novembro no Sesc Piracicaba

De 19 de agosto a 27 de novembro o Sesc Piracicaba recebe a 13ª edição da Bienal Naïfs do Brasil, destacando artistas e obras que apresentam um universo visual singular no mundo da arte, a partir de formas plásticas que não se baseiam em postulados da arte acadêmica.

Além da exibição de obras selecionadas, haverá programação abrangente composta por oficinas, cursos, palestras e visitas orientadas à exposição. Para estreitar o diálogo com os moradores da região, intervenções artísticas também ocuparão locais da cidade.

Realizada pelo Sesc São Paulo desde 1992, a atual edição tem o tema “Todo mundo é, exceto quem não é” e conta com a participação de 111 artistas, entre selecionados e convidados, oriundos de 24 estados, apresentando 185 obras nas mais variadas técnicas e suportes, selecionadas pela comissão curadora formada por Clarissa Diniz, Claudinei Roberto e Sandra Leibovici.

A bienal originou-se das mostras anuais realizadas pelo Sesc Piracicaba, no período de 1986 a 1991, sempre com o propósito primordial de valorizar e divulgar essa vertente artística fortemente marcada por elementos que caracterizam a cultura popular brasileira.

Confira mais informações da Bienal Naïfs.