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As artes visuais no Sesc São Paulo: 1o semestre de 2018
Atento ao campo diverso e amplo da arte contemporânea e de seus diálogos estabelecidos com as demais formas de expressão cultural, o Sesc São Paulo apresenta uma série de exposições que debatem temas da ordem do dia. Ao longo do 1º semestre de 2018, o público paulistano e aqueles que visitam a cidade terão acesso às manifestações da arte e de suas histórias em abordagens mais democráticas, abertas às demais produções da cultural global e dedicadas aos contextos e manifestações dissensuais, ou seja, diferentes ao que se está habituado.
Tendo em vista essa atenção, destacam-se duas exposições na programação, que constroem uma história e parceria com o próprio Sesc, cada uma em seu tempo. Travessias Ocultas – Lastro Bolívia, retoma no Sesc Bom Retiro o programa Lastro Arte, sob curadoria de Beatriz Lemos. Já a Itinerância do 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, pelo interior de São Paulo, amplifica a parceria institucional longeva com a Associação Cultural Videobrasil. Merecem igual atenção outras cinco exposições selecionadas, cada qual com características próprias.
Travessias Ocultas - Lastro Bolívia (Foto: Júlia Braga)
A primeira delas, uma exposição inédita no Brasil das produções mais recentes de Bill Viola (Nova Iorque, 1951) ocupará os espaços do novo Sesc Avenida Paulista. Focada nas vídeoinstalações das duas últimas décadas do renomado artista norte-americano, a seleção de Kira Perlov enfatiza um amplo espectro da produção do artista centrada em três iniciativas conjugadas e inseparáveis em sua prática artística: a pesquisa acurada sobre o corpo em performance; a exploração permanente das tecnologias da imagem extrapolando seus recursos, usos e suas formas de instalação; e mais importante, a discussão e a representação dos aspectos relativos aos ciclos da existência humana e dos seus dramas comuns a nós todos. Nessa mostra será possível vivenciar na escala ideal obras como as séries recentes Inverted Birth e Martyrs, bem como outras produções dos anos 2000, entre as quais estão a série Transfigurations e os trabalhos Study for the Path e The Quintet.
Jamaica, Jamaica! apresenta no Sesc 24 de Maio uma vasta mostra acerca do influente ambiente cultural jamaicano, a partir da experiência musical lá nascida e difundida desde a segunda metade do século XX. Sob a ótica da crítica pós-colonial – perspectiva crítica e teórica que desconstrói os processos de colonização e propõe uma história não-eurocêntrica das sociedades e de suas culturas -, a exposição trará uma história das nuances dessa riqueza musical lá produzida e que contribuiu de sobremaneira para a cultura contemporânea de forma protagonista, distinguindo-se elementos como o próprio reggae, os dubs, os deejays, os soundsystems, os remixes, entre outros. Como posto pela curadoria de Sebastién Carayol, trata-se de uma perspectiva feita em vários eixos históricos que vão da escravidão ao pan-africanismo; esse um movimento de união e afirmação dos povos e culturas africanas. Apresenta por meio de amplo material audiovisual e documental uma narrativa feita por um processo descolonização através da música, afirmando-se uma riqueza cultural genuína e única. Por ocasião de sua realização no Brasil, a mostra contará com produções locais, diretamente derivados ou influenciados por essa cultura musical.
Jamaica, Jamaica (Foto: Beth Lesser)
Focada na arte brasileira, Lugares do Delírio, montada anteriormente no Museu de Arte do Rio (MAR), é uma exposição cujo tema delimita uma reflexão política e ética sobre as noções de loucura e arte, desmistificando preconceitos e visões míopes dos dois temas que, por vezes, estão relacionados sim de forma positiva. Com cerca de 150 trabalhos organizados no espaço expositivo do Sesc Pompeia, a curadora Tânia Rivera parte da premissa de que tanto a arte como a loucura têm em comum a capacidade de subverter e transformar a noção de normalidade e a realidade que nos cerca e às quais somos cotidianamente submetidos. Constam na exposição artistas como Cildo Meireles, Laura Lima, Anna Maria Maiolino, Arthur Bispo do Rosário, Fernand Deligny, Raphael Domingues, Gustavo Speridião, Fernando Diniz, Claudio Paiva, Geraldo Lucio Aragão e outros.
Exposição Lugares do Delírio
Vela Roxa, s/d, Arthur Bispo do Rosário | Madeira, metal, fórmica, tecido e linha | Col. Museu Bispo do Rosário
Arte Contemporânea | Foto: Divulgação
Por sua vez, Yoyo, tudo que vai, volta reúne trabalhos da arte brasileira atual dedicados ao universo infantil ou que ao menos convidam o público à participação e estimulam a imaginação livre. Sob curadoria de Ricardo Ribenboim, as obras de Dudi Maia Rosa, Franklin Cassaro, Guto Lacaz, Leandro Lima e Gisela Motta, Lia Chaia, Raul Mourão, Regina Silveira e Sandra Cinto ocupam as dependências do Sesc Belenzinho. As obras criadas por esses artistas revelam didaticamente o papel, a pertinência e os conceitos da arte contemporânea, contemplando o público com sua potência libertadora e transgressora semelhantes à liberdade e espontaneidade comuns à infância.
Exposição Yoyo, tudo que vai, volta
Nivens, Dudi Maia Rosa | Foto de celular com interferência do desenho feito no programa Brushes | Foto:
Dudi Maia Rosa
A exposição Entre Construção e Apropriação: Antonio Dias, Geraldo de Barros, Rubens Gerchman analisa de forma mais aprofundada uma passagem da história da arte brasileira e de suas interpretações referentes a meados dos anos 1960. À luz de hoje, ao reunir cerca de 50 obras selecionadas desses três artistas, o curador e escritor João Bandeira retoma o debate público daquela época, construindo um novo ponto de vista histórico e valorizando essa produção. Cada um a seu modo, subvertendo as formas de representação, retrabalhando elementos das poéticas construtivas dos anos anteriores, referenciando a cultura de massa e usando materiais do mais diversos e inusitados, os três artistas determinaram novos sentidos plásticos e imagéticos à arte brasileira.
Exposição Entre Construção e Apropriação: Antonio Dias, Geraldo de Barros, Rubens Gerchman
Eating each other, 1995, Geraldo de Barros | Pintura a óleo e colagem sobre aglomerado, 78 x 114 cm |
Coleção Adolfo A. Leirner | Foto: Adolfo A. Leirner