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Uma vida mais ativa na cidade: vamos de escada?
Em passagem pelo Sesc Consolação, o educador físico especialista em treino funcional Fellipe Franco ministra aulas abertas de corrida nas escadas da unidade. A atividade, acompanhada de um bate-papo no mesmo dia, também com a participação da arquiteta Nathalie Prado, faz parte das ações do Dia sem elevador, no dia 24 de abril de 2019, uma ação do Sesc São Paulo e da ISCA (International Sport and Culture Association).
Como um incentivo ao uso das escadas, a vivência tem o objetivo de melhorar o condicionamento físico, principalmente para os atletas de corrida. Inclusive, o treino de Fellipe surgiu como uma demanda de atividade extra em uma academia em que dava aulas. “A proposta do treino de escadaria surgiu como um treino outside pra galera da academia que eu trabalhava anteriormente”, explica Franco ao justificar a criação deste “produto” para os alunos da academia praticarem do lado de fora, na rua, em qualquer lugar que gostariam de correr. “E como eu já trabalhava em uma assessoria de corrida eu já tinha essa experiência de trabalhar com grupos e aí, pela proximidade com a escadaria de Sumaré, acabei criando esse treino para dar suporte aos alunos, dar uma ‘mudada’ mesmo”.
Sucesso
Fellipe conta que, com a sua experiência anterior em treinos funcionais e de corrida, o treino nas escadas era diferente e intenso, já que o estímulo da escadaria é muito avesso ao que os alunos estão acostumados. Isso atraiu mais alunos do que os da academia, criando grandes turmas.
“Eu cheguei a ter 50 alunos em uma aula e uma regularidade, em média, de 30 alunos por aula. Então eu levava bastante gente, tanto da academia quanto de fora, que a galera começou a convidar amigos para treinar lá na escadaria do Sumaré.”
Os treinos normalmente são divididos em fases para que hajam períodos de descanso e hidratação intercalados à prática em si. “[Tem] um tempo de trabalho e um descanso (geralmente eu levo água pros alunos) e aí, dependendo do estímulo que eu quero, eu consigo manipular essas fases pra ser mais intenso, mais leve”.
Fellipe acredita que esse tipo de treino desmistifica o uso da escada em nossa rotina, uma vez que as pessoas adquirem um melhor condicionamento físico. “Muita gente fala pra mim que começou a subir pro seu apartamento de escada, as pessoas não usam mais escada rolante no shopping”.
É uma forma de treinar o corpo para o uso das escadas, mas só depende de nós a mudança do hábito, um degrau de cada vez.
A pessoa muda a paisagem muda a pessoa
A iniciativa “Olhe o degrau”, fundada pelos arquitetos e urbanistas da Cidade Ativa, é uma das ações do grupo que procura ocupar os espaços públicos, transformando o entorno em uma cidade mais humana, mais acolhedora para uma vida mais ativa. Ela nasceu com a demanda de olhar para as escadarias a fim de estimular uma mudança em seu uso.
Abandonadas, a insegurança deixa a população afastada, sem se dar conta de que é possível integrá-la ao seu dia a dia. Os espaços públicos proporcionam o encontro, o convívio e a prática de atividades físicas e de lazer, portanto possibilitando treinos como o de Fellipe Franco acontecerem. “Olhe o degrau”, então, criou um mapa colaborativo de escadas com suas características e projetos que permitem a participação da comunidade na revitalização de seus próprios espaços para o encontro e o movimento.
Junto com Fellipe Franco, a representante do grupo, Nathalie Prado, conversa com o público sobre essa ocupação do espaço público para uma vida mais ativa. Nathalie tem desenvolvido trabalhos relacionados a temática da produção do espaço urbano, em especial focado nos estudos de mobilidade, desenvolvimento urbano e suas práticas possíveis. E é transformando lugares como as escadarias da cidade que o Cidade Ativa quer mudar a vida das pessoas.
Cidade Ativa é uma organização social que nasce da constatação da urgência de criar cidades mais inclusivas, resilientes e saudáveis. A ideia é incentivar comportamentos mais ativos, focados na leitura e transformação da paisagem, por meio de pesquisas e projetos que modificam o ambiente construído. E também pensando na transformação das pessoas: criando campanhas; elaborando planos e projetos de desenho urbano; formulando diretrizes, estratégias e políticas para um melhor uso da cidade; e, por fim, dividindo e disseminando conhecimento para um maior engajamento dos cidadãos no processo.