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Se a família come bem, o bebê também!

Os adultos são modelo para as crianças todo o tempo.<br>Foto: Dani Sandrini
Os adultos são modelo para as crianças todo o tempo.
Foto: Dani Sandrini

Tão importante quanto o que oferecer para os bebês que estão começando a receber outros alimentos além do leite materno, é como oferecer. Dedicar tempo e estar atento ao momento da refeição são atitudes que fazem parte de uma rotina saudável e que influenciam na forma como nos relacionamos com a comida no decorrer da vida.

A Unicef orienta: na hora das refeições, é melhor que a TV e o celular estejam desligados. A mesma ideia é reforçada pela especialista em nutrição pediátrica Daniela Neri “O ambiente alimentar é super importante. E somos modelos para as crianças todo o tempo. Na forma como nós nos comportamos à mesa, na valorização do momento da alimentação. Por mais que ele seja curto, ele deve ser intenso”.

Mesmo antes da criança aprender a falar, conversar com ela durante a refeição estimula o cérebro e abre caminho para um hábito de manter boas conversas à mesa.

Evitar as distrações na hora de comer tem outras contribuições para o bem estar da criança. É uma forma de colaborar para que ela não perca a sua auto regulação da fome e da sacieade. “Essa é uma capacidade que o indivíduo nasce com ela. Se a gente aprende a entender os sinais do bebê, quando ele está com fome, quando é que ele está irritado por diversas outras razões, a gente preserva essa capacidade”, explica a pesquisadora, que integra o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo. Esta forma empática e respeitosa de atenção é conhecida como cuidado responsivo. Ele se manifesta por meio da resposta afetuosa, que promove a segurança e atende às necessidades do indivíduo. 

 

Foto: Dani Sandrini

 

Muitas vezes as telas são usadas como uma estratégia para enganar a criança e fazer com que ela coma mais do que ela quer, na expectativa de que ela termine a quantidade que está no prato. Com este comportamento, pouco a pouco esta habilidade natural de entender a fome e a saciedade é enfraquecida: “Quando a gente não ouve essa manifestação de saciedade da criança, ela tende a comer mais do que ela precisa. E isso ao longo do tempo faz com que ela perca essa capacidade”, explica Daniela.

O bebê e a criança pequena tem um tempo de atenção muito curto e passam por diferentes fases em relação à aceitação da alimentação. Nestes momentos, um caminho é utilizar a disciplina positiva, orientando a criança de maneira firme e gentil e estando engajado na conversa. Já da pra imaginar que aqui as telas não ajudam muito, não é?

Se somos modelos para as crianças, é fato que se a alimentação dos adultos não é lá muito saudável, os filhos vão seguir no mesmo ritmo. A chegada de um pequeno novo integrante é um ótimo momento para que a família olhe para a forma como está comendo e, se necessário, faça mudanças na alimentação.

 “A gente observa uma redução do consumo da alimentação tradicional, baseada nos alimentos in natura e minimamente processados, o nosso arroz, feijão, legumes, verduras, tubérculos, e uma adesão a uma alimentação pronta, baseada em alimentos ultraprocessados”. As crianças não são poupadas deste movimento.  “Os inquéritos nacionais no Brasil têm mostrado que os bebês antes dos 6 meses estão tendo acesso a essa alimentação (ultraprocessada) e isso é muito preocupante”, conta a pesquisadora.

Os primeiros dois anos de vida são fundamentais para a formação de hábitos e para a programação da saúde futura. Por isso, recomenda-se que nesta fase não sejam oferecidas à criança preparações com adição de açucar. Isso vale tanto para o que é feito em casa quanto para os produtos ultraprocessados - como bolachas, iogurtes saborizados e refrigerantes - que em geral usam grandes doses deste ingrediente. Se para a população adulta a indicação é evitar o consumo desta categoria de alimentos, na primeírissima infância eles não devem ser oferecidos em nenhuma situação. Se eles não fazem parte da rotina da casa, a criança tem menos chance de ser exposta a eles, e isso deixa de ser uma preocupação.

 

Foto: Dani Sandrini

 

Para se reagir a este processo de adesão aos alimentos que vêm prontos das indústrias, existem dois pontos fundamentais: cozinhar e dividir tarefas entre os moradores da casa. Com a divisão é mais fácil dar conta de driblar as dificuldades do dia a dia, privilegiando a alimentação caseira para assim melhorar a alimentação da família toda e poder incluir o bebê nos mesmos cardápios.

E, pensando de forma mais abrangente, é necessário que no ambiente social os alimentos frescos e saudáveis sejam acessíveis. “Precisamos ter um conjunto de políticas públicas que favoreçam um macroambiente que proporcione saúde, por que a escolha da alimentação não é uma questão individual, vai depender muito de como esse ambiente está organizado”, defende Daniela. Não somos mais crianças, porém a forma como o nosso ambiente se organiza é tão importante para nós quanto a família é para os pequenos.

 

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Para promover o aleitamento materno e a alimentação complementar saudável na primeriríssima infância, o Sesc São Paulo realiza o projeto Do Peito ao Prato. Saiba mais em sescsp.org.br/dopeitoaoprato