Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Educação presente

Editoria de arte
Editoria de arte

Cresci ouvindo minha madrinha, Clara Tuacek, falar sobre o ensino a distância. Aquela tia respeitada, professora da tão temida Matemática, estudiosa da EAD – naquela época, ainda por correspondência – trabalhava na Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências. Para mim, no auge dos 9 anos de idade, tudo se resumia a uma sigla – Funbec, e lembro que, em 1989, nossa família ficou muito animada quando ela e mais cinco educadores brasileiros foram selecionados para estudar EAD no Instituto de Educação da Universidade de Londres.

Na passagem para a adolescência, a minha vivência com essa forma de aprender ocorreu por meio dos livros do “Follow Me” e suas fitas VHS com lições de inglês, e por apostilas e tutoriais com os quais me aventurava a mexer no computador – um “ser” que logo começou a ocupar espaço importante na minha casa e na minha órbita de interesses.

Em 1996, minha irmã foi diagnosticada com leucemia, um momento angustiante, de medo e incertezas, que felizmente foi superado. Nesse período tive como refúgio a paixão pelo judô. Mais tarde, este interesse me levou a cursar educação física e a explorar novos horizontes, como pedagogia, didática e seus grandes mestres.

Os anos passaram e em 2007 ingressei no Sesc, onde iniciei minha trajetória na área físico-esportiva e, desde 2014, atuo no campo das iniciativas e realizações para o meio digital, com desafios como o de contribuir para o desenvolvimento de uma plataforma digital de educação a distância, dedicada à oferta de cursos livres.

Em 2016, como em um “déjà vu”, novamente a angústia, o medo e a incerteza. Gabriel, meu filho mais velho, foi diagnosticado com leucemia. O tratamento, complexo e delicado, exigiu de nossa família a utilização de máscaras e álcool em gel, e desenvolvemos hábitos exacerbados de higiene pessoal, num esforço conjunto para evitar a contaminação por vírus e bactérias oportunistas.

Por esse motivo ficou afastado da escola por três anos; tivemos que nos adaptar à educação a distância, para que ele não perdesse os anos letivos.

Por sorte, minha esposa é professora e contribuiu de maneira fundamental em todo este processo que se deu por meio de livros didáticos, lições e trabalhos dos 6 aos 8 anos de idade. No entanto, ficou inacessível a ele, no decorrer do distanciamento para preservar sua saúde, o aprendizado advindo da convivência com seus pares, da relação com o outro, da divisão do tempo e espaço, do convívio humano com seus amiguinhos.

Encerramos esse ciclo no final de 2019, com o término do tratamento quimioterápico. Confesso que esperávamos, em meu círculo familiar, um 2020 com mais vento no rosto que olhos grudados nas telas. Contudo, a pandemia causada pela Covid-19 colocou-nos, porém, diante de renovados desafios – desta vez, acompanhados pelo mundo inteiro!

Nestas últimas semanas, tenho visto famílias se encontrando virtualmente. Educadores diante do desafio de manter a atenção dos alunos por meio de dispositivos. Pais se desdobrando entre o trabalho em casa (para além do trabalho de casa) e o suporte às aulas ao vivo de seus filhos. Este universo EAD, que até ontem era um recurso complementar, hoje se revela imprescindível.

Definitivamente não é tão simples como quando, aos meus olhos curiosos de criança, ficava admirado enquanto a tia Clara me ensinava a calcular no ábaco, contudo, o mais importante é que a educação esteja sempre presente, principalmente na construção de uma nova era pós-pandemia.

 

Fernando Tuacek é graduado em Educação Física, com MBA em Gestão Empresarial, e trabalha como gerente adjunto no Sesc Digital.

 

revistae | instagram