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Criar e fortalecer redes colaborativas

 

Por Francine Sayuri Segawa*

 

A ideia de rede remete a fios interligados, pontos de conexão e amarração e a uma grande capacidade de criar novas ligações, de se estender em novas direções. Para além da internet, as redes sociais podem ser dos mais variados formatos, tamanhos e finalidades. Formadas por grupos de pessoas que intercambiam conhecimentos, produtos, serviços, afetos; ou que dividem despesas, gerenciam recursos financeiros em comum, competem de um lado e convergem interesses por outro. O que as define é a existência de um objetivo em comum. Redes sempre existiram e estão na base da formação de famílias a sistemas monetários, de conglomerados comerciais aos de cooperação científica; viabilizam aplicativos de compartilhamento de vídeos, bikes ou carros, empréstimos de quartos para viajantes ao redor do mundo ou financiamentos coletivos em torno de uma questão.  

Com o desenvolvimento das tecnologias da informação, se tornou possível criar, manipular, acessar dados, conectá-los e medir seus efeitos de modo único na história da humanidade, o que vem alterando a forma como criamos, fazemos e nos relacionamos com a ideia das redes e suas potencialidades. Vinte anos atrás, por exemplo, era impossível você encontrar, a alguns cliques de distância, milhares de moradores da sua cidade e lhes enviar um convite para participar de uma mobilização cidadã.

Tornam-se viáveis mapeamentos precisos e de grande alcance. Contatos virtuais reduzem custos. A informatização também disponibiliza ferramentas de controle, medição, organização e comunicação.

A formação de redes colaborativas é uma potência a ser explorada. Podemos encontrar exemplos em ecovilas, associações de produtores agroecológicos, grupos de voluntariado, redes de produção de conhecimento científico, movimentos nacionais, coletivos de compradores, entre outros.

São, por si só, uma resposta à busca por novas configurações de força e poder, e vêm se mostrando capazes de transformar processos de produção, a cultura e a experiência de existir na coletividade ao valorizar o diálogo, a articulação, a interdependência, a cooperação e a solidariedade como processos sociais, econômicos e políticos fundamentais na construção do comum. 

Para desenvolver e fortalecer redes, estão entre os ­maiores desafios o cuidado e a organização das pessoas. Motivar, dividir tarefas, encontrar talentos, buscar um novo integrante, encontrar meios de tomar decisão coletivamente e a ver respeitada. Acontece, com frequência, dos participantes estarem habituados a redes centralizadas e bem delimitadas, como a escola e a equipe de trabalho, com poderes estabelecidos e obrigações definidas.

Redes descentralizadas e distributivas, que dependem mais de engajamento do que de ordens, de afetos do que de obrigações, exigem a criação de novas formas de fazer que são próprias da atualidade, em que vivemos um processo social de maior participação e flexibilização de esferas da vida que antes eram muito mais rígidas e fechadas. Novos estudos, pesquisas e experiências desenvolvem técnicas, ferramentas, metodologias, critérios e vêm buscando entender como as redes colaborativas se comportam, que elementos as compõem e como cuidar de cada um desses aspectos para que se fortaleçam e se desenvolvam, entendendo ainda que há momentos de esvaziamento, de retração e reinício.

O tema vai ganhando espaço em escolas, faculdades, empresas e instituições, visto em sua potencialidade de responder à complexidade de desafios do nosso tempo. Complexidade que precisa do poder do pensamento coletivo para lidar com a escassez e com a abundância que resultam das desigualdades e com as crises sistêmicas que rondam a vida no planeta e mostram, muitas vezes, que a educação e participação das pessoas pode ser muito mais transformadora na direção do bem estar comum do que recursos materiais ou tecnologias de ponta.

Buscando abordar a temática, o Sesc Sorocaba realizou no dia 13 de junho de 2020, em seu canal de Youtube, um bate papo online com Ana Karolina Andrade e Floriana Breyer, facilitadoras de redes e processos coletivos que iniciaram suas ações juntas na Aliança pelo Rio Doce, nascida em 2015 para criar respostas ao maior crime socioambiental da história do país, o rompimento da barragem da mineradora Vale, em Brumadinho, Minas Gerais.

 

*Francine é animadora sociocultural do Sesc Sorocaba.