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Participante do Curumim no projeto Sentidos do Nutrir, no Sesc Campo Limpo | Renata Teixeira
Participante do Curumim no projeto Sentidos do Nutrir, no Sesc Campo Limpo | Renata Teixeira

DENTRO DE CASA, LONGE DAS ESCOLAS E DE ESPAÇOS PÚBLICOS PARA BRINCAR E INTERAGIR, CRIANÇAS MUDAM ROTINA NA PANDEMIA

"Saudade de como era antes.” Essa é uma das frases repetidas pelas crianças quando questionadas sobre o momento presente. Saudades de ir ao parquinho, saudades de visitar os avós, tios e outros parentes, saudades de brincar com os colegas da escola, saudades de sair de casa e passear sem medo da rua. “Estudos apontam o impacto emocional ou psíquico do confinamento e isolamento social nas crianças. Se, por um lado, efeitos como obesidade, transtornos de aprendizagem e miopia já eram mais conhecidos na restrição de circulação ao ar livre a que as crianças estavam expostas, somam-se a estes, agora, outros efeitos de saúde mental: a diminuição de atividades físicas, o aumento do uso de telas, e a falta de contato com outras crianças”, ressalta Laís Fleury, coordenadora do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana.

Esse impacto da pandemia sobre a infância foi debatido durante a 6ª Ciranda de Ações, em fevereiro. A iniciativa tem como foco a união dos integrantes da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI) na construção de uma agenda propositiva para as crianças. Na ocasião, foi lançada uma série de vídeos intitulada Escuta das Crianças em contexto de pandemia, que dá voz a meninos e meninas de diversas regiões do país. “Elas trazem a falta que sentem dos colegas, reclamam de ter que honrar as medidas sanitárias, como usar máscara todo dia e precisar passar álcool em gel nas mãos e aparece muito a vontade de que a vacina chegue rápido para proteger a todos, da retomada da rotina e da construção de relações melhores”, conta Fleury.

 

Vulnerabilidade em questão

Outro importante debate que envolve as infâncias diz respeito à adaptação a aulas remotas e à criação de momentos de lazer propiciados pelo meio digital. Nessa discussão, deve-se levar em conta um número expressivo de crianças sem acesso à internet. Segundo pesquisa TIC Domicílios 2019, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), dados preliminares do levantamento mais recente apontam que quase 5 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, vivem em domicílios sem acesso à internet. E a exclusão é maior entre moradores das áreas rurais, das regiões Norte e Nordeste, e das classes D e E. Quer dizer, o mundo digital não existe da mesma maneira e como uma ferramenta possível para todas as infâncias.

Professora de Direitos Humanos dos Refugiados e Direito da Criança e do Adolescente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Lucinéia Rosa dos Santos frisa que a pandemia escancarou as desigualdades e, com isto, ao nos referirmos ao ambiente escolar, por exemplo, crianças de famílias com maior vulnerabilidade não dispõem de condições para a possibilidade de um estudo remoto e o acompanhamento das aulas. “Isso acarreta uma enorme evasão escolar e o retrocesso na aprendizagem. Sem falarmos nas condições em que muitos dos pais acabam deixando-os em casa, sob os cuidados de irmãos mais velhos que também são crianças, ou aos cuidados de vizinhos, para que haja possibilidade de atribuir minimamente o sustento aos filhos”, aponta.

Além disso, a professora ressalta outra vulnerabilidade das crianças. “Muitas vezes, em razão do trabalho diário dos pais e mães, o convívio com os filhos tornou-se muito escasso, ou seja, não havia um convívio maior a fim de acompanhar efetivamente o desenvolvimento da criança, muitas vezes deixando no plano da educação escolar o papel que os pais deveriam cumprir”, complementa.

Conectadas ou desconectadas, as infâncias já estavam atravessando inúmeros desafios. “Importante lembrar que, mesmo antes do início da quarentena provocada pela pandemia, as crianças já vinham sentindo certo tipo de confinamento físico e social. Com a maior parte da população brasileira morando em áreas urbanas, o modo de vida de muitas delas tem se restringido a espaços fechados”, afirma a coordenadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana. “Essa realidade já configurava um quadro em que as crianças tinham poucas oportunidades de usufruir os espaços ao ar livre, com reflexos significativos em seu desenvolvimento integral e saudável.”

 

Sarau online do Curumim de Osasco. Participaram Daniel Viana e Ronaldo Grillo, de Guardanapos Poéticos e Viagens Ilustradas, para registrar esse encontro em poesia e ilustração | Reprodução

 

Direcionado a crianças de 7 a 12 anos, o Programa Curumim, realizado pelo Sesc São Paulo desde 1987, reuniu todas essas reflexões e dados para pensar em novas formas de interação, atividades e brincadeiras. Antes, os encontros semanais e presenciais consistiam em oficinas, jogos, passeios, vivências ambientais, culturais e corporais com o propósito de contribuir para o desenvolvimento integral da criança, com base na autonomia, afetividade, cooperação, senso crítico, e o respeito pelo próximo. Desde o começo da pandemia, o programa adaptou sua metodologia, em que todas as ações realizadas permitem a articulação entre os diversos saberes trazidos pela criança, a partir do contexto em que ela vive, de modo a colaborar com sua formação e desenvolvimento. Para isso, foram criadas outras maneiras de estar presente no dia a dia dos participantes e de seus familiares. No momento, estão inscritas 3.429 crianças no Curumim em 33 unidades do Sesc São Paulo.

Por exemplo, no Sesc Piracicaba (leia Asas ao curumim), o projeto Biblioteca Drive Thru propôs a circulação dos livros do acervo entre as crianças, no período de isolamento social, e se mostrou uma grande oportunidade de manutenção dos vínculos.

Os livros são dispostos no estacionamento da unidade a cada 15 dias, e podem ser retirados e devolvidos pelos pequenos leitores. Também há a oportunidade do contato distanciado com as educadoras e educadores, que realizam a entrega e recepção dos materiais com o devido distanciamento e protocolos de segurança.

A estudante Nathália Vitória, 12 anos, que participa do Curumim do Sesc Santos, conta que na quarentena teve que se adaptar e fazer videochamadas semanais. “Eu me diverti muito. Joguei, fiz brincadeiras, jornal, coral e conversei um pouquinho também”, contou em depoimento aos educadores da unidade. Para Gisele de Araújo, educadora do Curumim de Bertioga, esse novo formato do programa foi um momento de escuta e acolhimento. “Conseguimos realizar brincadeiras, reforçar nossa imaginação e fantasia, aguçar nosso repertório cultural. Um refúgio lúdico, eu diria, um caminho para nos mantermos próximos mesmo distantes”, arrematou.

 

Asas ao curumim

AÇÕES PERMITEM TROCAS, BRINCADEIRAS E APRENDIZADOS POR MEIO DE CARTAS, DRIVE THRU DE LIVROS, LIVES E AÇÕES DIGITAIS

A pandemia requisitou uma habilidade inerente às infâncias: a imaginação. Dessa forma, medidas restritivas necessárias para conter o avanço da Covid-19 exigiram que os adultos buscassem alternativas para que as infâncias não se limitassem ao espaço doméstico e ao escasso convívio social. Para isso, o Programa Curumim do Sesc São Paulo adaptou suas atividades no início da pandemia. Os educadores e educadoras ressignificaram a relação com as telas e, principalmente, o sentido da palavra encontro, praticando a escuta ativa de cada criança e família, a fim de atender as necessidades de cada grupo.

Segundo Ana Cristina de Souza, assistente da Gerência de Estudos e Programas Sociais, no núcleo de Infâncias e Juventudes, desde a interrupção das ações presenciais, as equipes do Curumim buscaram manter de forma constante o vínculo entre as turmas e os familiares. “Novas metodologias para o desenvolvimento das atividades foram criadas, desde o envio de cartas e materiais, aos encontros online, ações estas sempre pautadas nas bases educativas e na escuta”, relata. “Manter o programa ativo também é uma forma de entrar na casa das crianças e levar um pouco da ludicidade e da convivência, de motivar o protagonismo, a experimentação e a cooperação, que são os valores do Curumim, que se estendem para toda a família.”

Confira outras ações e acesse conteúdos como jogos e animações voltados para as crianças e as famílias na plataforma Sesc Digital, atividades nas redes sociais do Sesc São Paulo (@sescsp e https://www.facebook.com/sescsp), além da programação Crianças #EmCasaComSesc no canal do YouTube do Sesc São Paulo e no www.instagram.com/sescaovivo, aos sábados, às 15h.

CAMPO LIMPO

Sentidos do Nutrir

Projeto realizado pela unidade Campo Limpo, Sentidos do Nutrir busca articular várias percepções colhidas ao longo do trabalho processual desenvolvido virtualmente com as crianças e a partir de demandas do território. Composto por oficinas culinárias e de plantio, suas atividades valorizam o contato com a natureza como elemento do brincar e condição para uma saúde integral a partir de reflexões sobre o consumo consciente e o acesso a alimentos saudáveis.

 

Renata Teixeira

 

INTERLAGOS

Dramaturgias do Brincar

A exposição virtual Dramaturgias do Brincar, criada pela educadora em atividades infanto-juvenis Isabela Mota, aborda o conhecimento sobre si e o mundo ao redor elaborado pelas crianças enquanto brincam. Para esse mundo foram criadas dramaturgias possíveis por meio da organização de imagens registradas em momentos do livre brincar das crianças do programa Curumim da unidade Interlagos antes da pandemia. A exposição se divide em cinco blocos temáticos: Cenários, Processos, As Guerras, As Famílias e Desafios do Corpo. Confira o projeto no portal do Sesc Digital: https://sesc.digital/colecao/dramaturgias-do-brincar

 

Divulgação

 

SANTO ANDRÉ

Diários

Projeto realizado pelo programa Curumim da unidade Santo André, Diários consiste num programa de cartas enviadas periodicamente pelo correio para as crianças participantes, nas quais são propostas de brincadeiras, leituras e escritas, entre outras ações. Esta foi uma das formas encontradas pelas educadoras para manter o laço afetivo entre as crianças e dar continuidade ao trabalho educativo desenvolvido pelo programa.

 

Juliana Thomaz

 

GUARULHOS

Curumim em Pauta: Infâncias e Diversidades em Diálogo

Encontros online com debates sobre os diferentes aspectos da diversidade, sempre na perspectiva do desenvolvimento infantil, partindo da identidade, das experiências vividas no cotidiano, tanto no programa, quanto no convívio familiar, com uma linguagem acessível, que permite a troca de experiências e possibilidades de ações.

 

PIRACICABA

Biblioteca Drive Thru

A circulação dos livros do acervo entre as crianças, no período de isolamento social, se mostrou uma grande oportunidade de manutenção dos vínculos. Os livros são dispostos no estacionamento da unidade, a cada 15 dias, e podem ser retirados e devolvidos pela garotada para leitura em casa. Também há a oportunidade do contato distanciado com as educadoras e educadores, que realizam a entrega e recepção dos materiais com o devido distanciamento e protocolos de segurança. No momento a ação foi interrompida e retornará assim que a fase emergencial acabar.

 

Divulgação

 

SÃO CARLOS

Aconteceu na Minha Casa

A partir da linguagem do rádio adaptada ao meio virtual, as crianças contam histórias com base em seu cotidiano e podem expressar um pouco dos sentimentos relacionados a este período de isolamento social.

 

CONSOLAÇÃO

Corpo e Território Inventando uma Nova Relação

Os encontros online e a entrega de kit de materiais do projeto Corpo e Território: Inventando uma Nova Relação proporcionam atividades mediadas e a busca por reflexões sobre como compreender as transformações causadas pelo atual contexto de restrição social. Além disso, a proposta com as crianças é investigar quais serão as novas relações possíveis entre o próprio corpo e o atual ambiente de convivência e o de quando pudermos nos reencontrar.

 

Marcelo Ancelmo

 

SANTOS

A Pandemia sob o Olhar das Crianças e dos Jovens

Projeto realizado pelo Sesc Santos em parceria com o jornal A Tribuna mostrou como crianças, adolescentes e jovens estão vivendo essa pandemia. Por quais mudanças, restrições e desafios estão passando. O objetivo foi dar protagonismo a esse grupo. Educadores e profissionais da área da saúde também participaram de bate-papos virtuais realizados durante três semanas e que abordaram os sentimentos que afetaram essa grande parcela da população durante a pandemia. O resultado desses encontros foi registrado nas páginas do periódico.

 

Divulgação

 

SESC IDEIAS

Agora É com Elas – A Voz das Crianças

Neste período de isolamento social, muito se discutiu sobre a educação, as aulas online, o excesso de tela, a pouca convivência entre as crianças e a falta de espaços para brincar. Para falar sobre a pandemia, o Sesc Ideias Agora É com Elas – A Voz das Crianças convidou participantes do programa Curumim para compartilharem vivências e impressões na pandemia. Participaram Cecilia Silva, 9 anos, que frequenta o Curumim no Sesc Ipiranga há dois anos, e João Lucas Rodrigues Zanis, de 10 anos, do Curumim no Sesc Rio Preto de 2019 a 2020. Também faz parte do bate-papo Maria Clara Ferreira Nascimento, de 13 anos, do Curumim no Sesc Sorocaba desde 2016, que tem o canal no YouTube Pretinha Sim. Assista no canal do YouTube do Sesc São Paulo: www.youtube.com/sescsp.

 

Reprodução
 

FIQUEI MUITO TRISTE PORQUE A GENTE IA PARAR DE IR, MAS A GENTE VOLTOU ONLINE E EU FIQUEI ALIVIADO.

Nicolas Correa, 10 anos, participante do Curumim do Sesc Rio Preto

ELE FICAVA MUITO NA TELEVISÃO, NO TABLET, E COM ESSA OPORTUNIDADE DE VIR PARA CÁ DUAS VEZES NA SEMANA NOTEI UMA CRIANÇA MAIS SOLTA, MAIS COMPROMETIDA, COM MAIS VONTADE DE FAZER AS COISAS. AGORA, SAÍRAM DO PRESENCIAL, MAS CONTINUARAM ACOLHENDO NO VIRTUAL, E ISSO É MUITO IMPORTANTE PARA A GENTE.

Fabricia Correa, mãe do Nicolas

 

EU FIQUEI TRISTE PORQUE EU GOSTAVA MUITO DO CURUMIM, PORQUE EU IA COM AS MINHAS AMIGAS E A GENTE BRINCAVA DE VÁRIAS COISAS, MAS ESPERO MAIS BRINCADEIRAS DIFERENTES E ENCONTRAR COM MINHAS AMIGAS, PORQUE SINTO FALTA DELAS.

Lorena Oliveira, 11 anos, participante do Curumim do Sesc Rio Preto

EM TERMOS DE BRINCADEIRAS, DE FAZER O BRINQUEDO, O ARTESANATO QUE A GENTE NÃO TINHA O JEITO DE ENSINAR… E QUANDO ELA VEIO PARA O CURUMIM ELA APRENDEU A FAZER ESSAS COISAS, EM CASA ELA FICA BRINCANDO, JÁ COMEÇA A PEGAR CAIXA, FAZER DOBRADURA, A MEXER COM LINHA.

Valcira Oliveira, mãe da Lorena

 

 

 

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