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De portas abertas

Beto Assem
Beto Assem

Reabertura dos teatros promove o tão desejado reencontro de artistas e espectadores

 

Hoje, o aplauso vai reverberar nas salas de teatro. Risos, lágrimas e outras reações da plateia irão transbordar no exato momento em que, do tablado, o artista soprar para longe a saudade do encontro. E, assim, depois de um longo período de apresentações imersas no ambiente online, aos poucos, espaços culturais vêm reabrindo as portas para a presença do público nos últimos meses. Para o músico Chico César, que fez de sua casa um palco, transmitindo seu show em uma das primeiras lives do #EmCasaComSesc, pelo canal do YouTube do Sesc São Paulo, em abril do ano passado, esse novo momento é vestido da alegria para todos que fazem arte e se nutrem dela.

“A sensação que tenho é de que esse sentimento de retomada é para todos os envolvidos no processo dessa cadeia libertária da atividade artística. Para a plateia, mas também para as equipes, motoristas que vão buscar e deixar os artistas (nos espaços culturais), seguranças, camareiras, pessoas da limpeza, da alimentação, produtores… Para todo mundo”, compartilha o cantor e compositor, que em novembro se apresentou para o público no Sesc Piracicaba. “Acho que é uma sensação de vitória no sentido de que nós sobrevivemos a essas batalhas duras e árduas. É também um momento de celebração por estarmos vivos e prontos para seguir adiante.”

 

 

Dinho Lima Flor e Karen Menatti, artistas integrantes da Cia. do Tijolo em cena do espetáculo O Avesso do Claustro, encenado no Sesc Santana neste período de retomada de público presencial do Sesc São Paulo | Alécio Cezar

 

Outro tempo

Desde abril de 2020, música, teatro, dança, circo e outras linguagens artísticas se reinventaram em novas formas de fazer e de se aproximar dos espectadores diante da restrição e dos cuidados impostos pela pandemia da Covid-19. No começo, sobressaiu o estranhamento desse novo formato. “A presença é essencial para o teatro e essa mística que o envolve, esse encontro ao vivo entre ator e espectador. Mas o fato de não haver uma presença física e essa presença ser remota não deve ser algo que a desqualifique. Afinal, algum tipo de olho no olho acaba se tendo nessas lives”, disse o professor titular do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Luiz Fernando Ramos, em agosto de 2020, na matéria Um palco em casa, publicada na Revista E, quando as apresentações eram realizadas apenas por meio das plataformas digitais.

De lá para cá, outros processos criativos foram pensados e realizados por artistas e grupos. Primeiramente, dentro das próprias casas e, depois, com todos os cuidados e protocolos, transmitidos (ou gravados) em salas de teatro sem plateia. Entre tropeços e sobressaltos, a Cia. do Tijolo aprendeu com esse novo percurso. “No início, o virtual nos deu, de certa forma, uma rasteira, porque era uma ferramenta nova. Fomos aprendendo, construindo arduamente e chegamos à ideia de que esta também é uma ferramenta fundamental na medida em que se ampliam os públicos. Ou seja, você pode estar dentro de uma sala de espetáculo com 50 pessoas e numa sala virtual com 200 pessoas ou muito mais”, conta o ator Dinho Lima Flor. O grupo apresentou O Avesso do Claustro na unidade Santana, na retomada de público presencial nos teatros do Sesc São Paulo. Além disso, participou do episódio De Onde a Gente Quase Parou, do projeto Artes Cênicas em Processo, realizado pelo canal do YouTube do Sesc Pinheiros.

Dúvidas e indagações também conduziram o trabalho do diretor e produtor Ricardo Grasson. “Quando começamos a realizar apresentações online, não fazíamos ideia do que aquilo seria. Se era um teatro filmado ou um teatro ao vivo, porque o teatro existe com a plateia, quando há uma troca de energia, de emoção. Então, no início, a gente não entendia muito bem e, com o passar do tempo, vimos outro tipo de arte se desenvolvendo e se aperfeiçoando: algo que não era teatro, não era cinema, não era televisão nem série”, observa Grasson, que dirigiu o espetáculo O Ovo de Ouro, transmitido do palco do Sesc Jundiaí pelo #EmCasaComSesc no canal do YouTube do Sesc São Paulo, sem a presença de público.

 

Aprender com o improviso

Escrita por Luccas Papp, O Ovo de Ouro foi a última peça encenada por Sérgio Mamberti (1939-2021) (leia Perfil na Revista E nº 301, de novembro de 2021), em 2019. “Desde os primeiros espetáculos até os mais recentes, aprendemos muito nesse ambiente online, tanto na parte técnica quanto na direção e na atuação. Testamos a câmera de diferentes formas: fixa na plateia, acompanhando o ator, vindo das coxias. Estamos experimentando muita coisa e espero que isso continue”, afirma Grasson.

 

Escrito por Luccas Papp e dirigido por Ricardo Grasson, O Ovo de Ouro foi apresentado no palco do teatro do Sesc Jundiaí, sem público presencial, e transmitido pelo #EmCasaComSesc pelo canal do YouTube do Sesc São Paulo | Leekyung Kim

 

Para o músico Chico César, a cena virtual não substitui a presença física do público. “As apresentações online nos ensinaram que nada substitui a presença do ser humano no que ela tem de mais corrosivo e afetuoso. Nada substitui a presença da equipe humana, técnicos, músicos, iluminadores. Esse contato é essencial para o que nós fazemos. De solitário basta o processo de criação das canções”, desabafa. No entanto, de acordo com o compositor, que manteve seu processo criativo nas redes sociais durante o isolamento doméstico, as plataformas digitais traçaram uma nova estrada a percorrer.

“Por outro lado, a atividade virtual, as lives e os vídeos também nos mostraram que é possível utilizar o presencial numa situação e transmiti-lo virtualmente para outro lugar, para outra realidade. Ou seja, vamos aprender a conciliar esses dois movimentos: a presença física e a virtual. Creio que isso pode vir a se estabelecer como um novo modelo, algo que estamos aprendendo a fazer”, complementa.

 

Além do horizonte

Este momento de retorno aos palcos com público presente também deixa ensinamentos e um legado de experiências para as artes cênicas. “A gente não volta como era antes. Voltamos com uma vontade maior de escavar, ainda mais, a ação teatral, para ter ciência de nossa história e de nossa existência. O teatro da volta é o teatro com mais caminhos. E desejamos que nesse caminho torto esteja o esperançar nos olhos de quem nos assistirá”, destaca o ator Dinho Lima Flor.

Seja online ou presencial, mais possibilidades de fruição da arte multiplicam seu alcance. “Acho que a forma híbrida (online e presencial) é positiva ao dar às artes a possibilidade de escolher qual formato é melhor. A gente consegue atingir não só o público presencial, que vai ao teatro, mas pessoas que talvez não tivessem a menor possibilidade de acesso não só no Brasil, como no mundo”, analisa Ricardo Grasson. Para o diretor, o importante é alcançar o maior número de pessoas com a arte e que esse se torne outro caminho possível de fazer teatro. “Que seja uma nova forma de contar histórias porque, no fundo, somos contadores de histórias”, conclui. 

 

Ao som do jazz

Entre os dias 15 e 31 de outubro, o Sesc Jazz 2021 foi uma das primeiras ações culturais do Sesc São Paulo realizadas em formato presencial e online. Na programação, o multi-instrumentista moçambicano Otis Selimane Remane, a cantora estadunidense Alissa Sanders, a cantora e instrumentista Joyce Moreno e os músicos João Donato e Toninho Horta foram alguns dos artistas que se apresentaram para uma plateia presencial e para espectadores que acompanharam a transmissão dos shows pelo #EmCasaComSesc, no canal do YouTube do Sesc São Paulo. Além das apresentações, ações formativas e exibições de documentários e webséries que aconteceram durante a programação em outubro, também está disponível no ambiente virtual a coleção Jazz na Plataforma. Um acervo da diversidade do jazz nos palcos do Sesc São Paulo, em apresentações de edições passadas de festivais como o próprio Sesc Jazz e o Jazz na Fábrica, além de espetáculos do Instrumental Sesc Brasil, de outros projetos e dos discos do Selo Sesc. Saiba mais: sesc.digital/colecao/jazz-na-plataforma.

 

O multi-instrumentista moçambicano Otis Selimane Remane em apresentação do Sesc Jazz 2021 | Taba Benedicto

 

 

Bom espetáculo!

NO FORMATO ONLINE OU PRESENCIAL, PROGRAMAÇÃO TEATRAL E MUSICAL CONVIDA PÚBLICO À FRUIÇÃO DA ARTE

Seguindo todos os protocolos de segurança frente à Covid-19, o Sesc São Paulo começou a reabrir os teatros das unidades Consolação, Pompeia, Pinheiros, Vila Mariana, Guarulhos, Santos, Rio Preto e Jundiaí, no dia 15 de outubro, com capacidade reduzida para até 30%. Depois, de maneira gradual, em novembro a capacidade aumentou e, neste mês, os teatros das unidades da cidade, do interior e do litoral do estado de São Paulo estão abertos para o público em sua capacidade integral.

“Queremos ampliar a oferta de atividades e serviços aos trabalhadores e à população; contribuir para o aprimoramento da qualidade de vida, do bem-estar individual e do desenvolvimento social, como sempre fizemos, por meio de ações permanentes e eventuais nas unidades de todo o estado de São Paulo”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

Além da programação presencial, espetáculos online e gratuitos podem ser assistidos no #EmCasaComSesc, pelo canal do YouTube do Sesc São Paulo, na plataforma Sesc Digital e também nas redes sociais do Sesc São Paulo e das unidades.

 

Confira alguns destaques da programação de dezembro:

MÚSICA

João Donato e Jards Macalé – Lançamento do álbum Síntese do Lance

Os compositores, cantores, arranjadores e instrumentistas se encontram para gravar uma parceria inédita. O resultado é o disco Síntese do Lance com 10 canções inéditas. Cada uma leva a assinatura de um dos músicos, que também fizeram todos os arranjos. João Donato e Jards Macalé  ainda compartilham uma composição feita a quatro mãos. (Dia 17/12, no Sesc Pinheiros)

 

Leo Aversa

 

TEATRO

A Pane

Baseada no texto homônimo do dramaturgo suiço Friedrich Dürrenmatt, A Pane fala sobre as armadilhas de uma suposta justiça. No elenco, Antônio Petrin e grande elenco interpretam a história de um hóspede inesperado que se transforma em réu de um jogo cruel e divertido onde juiz, promotor, advogado e carrasco aposentados revivem suas profissões. (Dias 10, 11 e 12/12, no Sesc Santana)

 

CIRCO

Ensaio sob a chuva

De repente é sábado, e todos querem sair e se divertir. Mas, subitamente, cai uma chuva torrencial, e o fim de semana se converte em um tédio. Assim os palhaços Sanduba e Fiorella, da Cia. Suno, fazem da própria casa um espaço para brincadeiras e criam um universo fantástico, repleto de guarda-chuvas, baldes, geleiras e até um elefante. (Dias 10 e 11/12, no Sesc Santo Amaro)

 

DANÇA

O Musical 10 Anos

A Cia. Gumboot Dance Brasil completou dez anos em 2019. Para comemorar montou um novo espetáculo composto por uma trajetória sonora, performática, musical e dançante. Dirigido e coreografado por Rubens Oliveira, O Musical 10 Anos resgata trechos dos outros dois espetáculos da história do grupo: Yebo e Subterrâneo. (Dias 3 e 4/12, no Sesc Pinheiros)

 

Para ver de perto

OUTROS ESPAÇOS TAMBÉM RETOMARAM A PROGRAMAÇÃO PRESENCIAL

 

Theatro Municipal

Desde junho, o público voltou a ocupar as poltronas do Theatro Municipal para assistir aos concertos da Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experimental de Repertório, Coro Paulistano e Coro Lírico, além das apresentações do Balé da Cidade. A programação respeita os protocolos sanitários, tanto na plateia como no palco, e foi norteada pelo tema Liberdades Reinventadas, fomentando reflexões para indivíduos e coletivos. Entre os destaques da programação de dezembro está o Concerto de Natal, sob regência de Mário Zaccaro. Confira mais informações e acesse o Manual do Espectador: https://theatromunicipal.org.br.

 

Teatro Oficina

Na data em que celebrou 63 anos, dia 28 de outubro, o Teatro Oficina reabriu as portas ao público depois de um ano e nove meses fechado pelas restrições e cuidados exigidos na pandemia. A reabertura foi marcada pelos espetáculos Paranoia, monólogo com Marcelo Drummond baseado na obra homônima do poeta paulistano Roberto Piva (1937-2010), e, em seguida, Esperando Godot, que ficou em cartaz até final de novembro e também foi filmado e exibido em plataformas de streaming sob demanda. Na ocasião da retomada presencial, o diretor e ator Zé Celso Martinez falou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, sobre a emoção de retomar as apresentações com o público presencial: “Tenho que me conter, se não o coração explode”. Neste mês, O Bailado do Deus Morto, de Flávio Carvalho e direção de Marcelo Drummond, reestreia no Teatro Oficina dias 3, 4, 5, 17, 18 e 19/12. Saiba mais:  www.teatroficina.com.

 

Sala São Paulo

 

Divulgação

 

Reaberta ao público presencial no fim de abril, a Sala São Paulo reúne em sua programação o coro e a temporada da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, além dos concertos gratuitos da Osesp e de orquestras parceiras aos domingos, 11h. Outro ponto alto é a série Encontros Históricos, com a Brasil Jazz Sinfônica e artistas convidados. Em dezembro, destaque para as participações de Hermeto Pascoal, Hamilton de Holanda e Arismar do Espírito Santo (4/12), além de Gilberto Gil (18/12). A Sala São Paulo segue as diretrizes do decreto municipal em relação à Covid-19 e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado – é obrigatório o uso de máscara e a apresentação do comprovante de vacinação. Saiba mais: www.salasaopaulo.art.br.

 

Centro Cultural Vila Itororó

Espaço público e cultural da Secretaria Municipal de Cultura, composto por mais de dez edificações construídas no início do século 20, o Centro Cultural Vila Itororó passou por um processo de restauro desde 2013 e reabriu em setembro para o público presencial. Patrimônio histórico localizado entre os bairros da Liberdade e da Bela Vista, ele retoma suas atividades com uma programação de cinema, artes visuais e música. Em novembro, apresentaram-se o cantor e poeta Jairo Pereira, O Menor Sarau do Mundo e a Cia. Odora, encenando o espetáculo O Jardim das Yabas. Conheça: vilaitororo.prefeitura.sp.gov.br.

 

O cantor e poeta Jairo Pereira | Aurea Matos

 

 

Lives pelo #EmCasaComSesc

De março de 2020 a novembro de 2021

330          Música

167          Teatro

100          Dança

66            Crianças (todas as linguagens)

20            Circo

Fonte: Sesc São Paulo

 

 

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