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Humor e ironia em discussão sobre o racismo
Espetáculo Preto no Branco aborda o preconceito, a segregação, o consumismo e a alienação
O espetáculo Preto no Branco (Mirror Teeth, no original), de autoria do dramaturgo britânico Nick Gill, faz sua estreia no Brasil em temporada no Sesc Bom Retiro. A peça faz um retrato crítico da sociedade atual ao mostrar a reação de uma família tradicional – de classe média, branca e cristã - ao se deparar com o novo companheiro da filha: um jovem negro e mulçumano.
Segundo o autor, que sempre viu no texto a representação de diversos aspectos da história da Inglaterra, é uma experiência estranha assistí-lo em terras estrangeiras. Porém, após conversar com Zé Henrique de Paula, diretor da montagem brasileira, ficou clara a universalidade de seu texto. “Isso é muito interessante em termos da peça, mas é bastante deprimente perceber que esses traços terríveis estão em todos os lugares do mundo”, diz Nick em um vídeo de making of do espetáculo.
A versão tupiniquim é feita pelo Núcleo Experimental, um grupo de artistas que se dedica a explorar novos autores e a repensar os clássicos. O processo de criação da companhia é feito na pesquisa de linguagem e na opção por textos que dialoguem com a sociedade contemporânea, para também explorar nos palcos a relação entre música e teatro. O grupo, que conta hoje com 55 atores e 14 técnicos, é formado por uma equipe estável e por vários profissionais da cena paulistana que participam das montagens. O elenco de Preto no Branco, dirigido por Zé Henrique de Paula – que também é ator e cenógrafo – é formado por Marco Antônio Pâmio, Clara Carvalho, Bruna Thedy, Thiago Carreira e Sidney Santiago.
A história começa com uma conversa sobre banalidades entre os integrantes da família Jones. É nesse momento que a matriarca revela seus medos e fantasias sobre os negros.
"Eu não sei o que os negros querem da vida. Você os vê por aí com centenas de filhos, que eu e você trabalhamos duro pra sustentar com os nossos impostos, querido, e eles parecem não querem melhorar – eles simplesmente vivem à custa do Estado, não é isso? Como eles vão conseguir melhorar sem trabalhar pra subir na vida, na sociedade?"
A montagem enfatiza a artificialidade dos diálogos, criando um jogo cênico com pitadas de farsa na construção dos personagens, que trazem como principal particularidade dizer tudo aquilo que pensam. Ao longo da peça, o humor cede lugar ao reconhecimento de graves falhas sociais. “Há um contraste entre a primeira metade e a segunda, ampliando a discussão sobre a aceitação do outro e de suas diferenças”, finaliza o diretor. O espetáculo fez duas apresentações especiais antes da estreia e, segundo Nick Gill, a reação das plateias brasileiras foi semelhante com a das plateias inglesas e francesas: gargalhadas na primeira metade que, gradativamente, cedem lugar a um silêncio constrangido na segunda metade.
O espetáculo tem apresentações todas as sextas, sábados e domingos do mês de novembro – além de uma sessão extra no dia 20 de novembro, feriado do Dia da Consciência Negra.
o que: |
Preto no Branco |
quando: |
De 07 a 31/11/2014 |
onde: |