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É a reinvenção da riqueza?

Ilustração: Marcos Garuti
Ilustração: Marcos Garuti

Você tem ouvido falar em trocas? Hortas urbanas? Já contribuiu para algum projeto cultural? Lançou-se em busca de financiamento? Disponibilizou uma criação sua? Fez uso da criação de alguém?

A cada instante, pipocam novidades na onda do colaborativismo e compartilhamento, especialmente no universo digital. Da web, iniciativas transbordam para o cotidiano. Surgem inovações cá e lá, valores ressurgem e se mesclam modulados por um misto de interesses, carências, ideologias – e por aí vai.

Os conceitos no universo da economia não param no lugar. Economia solidária, economia verde, economia da cultura, economia criativa, economia circular, economia compartilhada, economia colaborativa... Experimente pesquisá-los! Os significados podem se transformar pelo caminho.

Vou preferir me deter à faceta “analógica” das práticas de economia colaborativa e compartilhada, as que acontecem na relação tête-à-tête – até para recordar que tais práticas nascem com a sociedade se organizando em grupos e buscando aperfeiçoar o uso de recursos, geração e distribuição de riquezas, lá nos primórdios da civilização. É importante lembrar que a moeda surge mais tarde, como uma maneira de facilitar a circulação de bens e serviços.

Feiras de troca, brechós, hortas comunitárias, uso do espaço público como sala de aula, compartilhamento de produtos de toda a sorte e intercâmbio de serviços – tudo isso sempre existiu! Mas parece haver uma vontade de mudar o rumo das coisas, que tem a ver com as relações entre excessos e escassez, associadas a um aumento da postura crítica das pessoas.

Recentemente, participei de uma feira de trocas¹ que sugeria, entre outras reflexões, a criação de uma moeda local para dar preço aos produtos que cada um levou ao encontro, passando em seguida a negociar uns com os outros. Ao final, um bate-papo, tentando trazer as impressões para a consciência, debateu se o dinheiro era mesmo necessário ali.

Em outra ocasião², havia um posto de avaliação que atribuía um valor aos bens levados e também era possível intercambiar produtos da mesma natureza diretamente. Fotografias já reveladas, discos, livros, moda... Havia um objetivo explícito de ampliar a circulação da arte naquele contexto, transformando a feira em uma estratégia para aproximar pessoas de um mesmo território que não tinham conhecimento das práticas culturais umas das outras. Aqui, o dinheiro não tinha vez!

Por que vemos estas e outras tendências acontecendo cada vez mais?  Penso que somos ativistas em potencial, tentando lembrar que as trocas monetárias são uma dentre muitas possibilidades de fazer circular riquezas, entendendo riqueza como resultado da produção criativa, material ou imaterial. No centro está a vontade de melhorar a vida em sociedade.

Tá aí mais um motivo para participar, difundir e fazer a onda crescer. São ações de cunho educativo e, no campo da educação, não é possível dar passo algum sem acreditar em mudanças!

Vivemos, espero eu, o reencontro com valores comunitários que, vira e mexe, se diluem na lógica do consumismo e na dureza dos grandes centros. Seja qual for a motivação para participar das mudanças urgentes que o mundo pede, perceber que coexistimos, que estamos juntos mesmo como desconhecidos, permite acreditar que é possível, afinal, reinventar a riqueza!


1 Projeto Traga e Troque, Sesc Santos, de março a dezembro de 2015.
2  Projeto Boulevard Trocas no Terraço, Sesc Jundiaí, de agosto a novembro de 2015.
 

CRISTINA FONGARO PERES, licenciada em Educação Física, com especialização em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão, é assistente técnica para a área de Valorização Social da Gerência de Programas Socioeducativos.