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O ator e diretor Bruce Gomlevsky procura resgatar a tradição dos contadores de história ao encenar uma releitura do poema épico grego Ilíada

O ator e diretor Bruce Gomlevsky esteve em cartaz no Sesc Pompeia em janeiro com a peça Uma Ilíada, trabalho que dirige e no qual atua (com texto de Lisa Peterson e Denis O’Hare, tradução de Geraldo Carneiro e participação da musicista Alana Alberg). A ideia era resgatar a tradição dos contadores de histórias ao narrar a Guerra de Troia e como ela se relaciona com os conflitos e disputas que vemos ao longo da história. A famosa guerra que deu origem ao texto épico do poeta Homero aconteceu na cidade que lhe dá nome, no atual território da Turquia, contra várias cidades-estados da Grécia, num período entre os anos de 1500 e 1200 a.C. (antes de Cristo).
O ator, com mais de 20 anos de carreira, também se interessa por música: em 2015 lançou o disco autoral Eu me Recuso a Abandonar Meu Romantismo (que pode ser ouvido em www.bruce.art.br) e tem planos de continuar a agenda de shows em 2016, excursionando por cidades brasileiras. Acompanhe a conversa de Bruce com a Revista E.


Paixão à primeira leitura

Sempre faço uma pesquisa dramatúrgica de textos contemporâneos e chegou a mim esse texto em inglês [de Lisa Peterson e Denis O’Hare], que li e pelo qual me apaixonei. Nunca tinha lido a Ilíada [de Homero] na íntegra, mas já conhecia a história da Guerra de Troia. Li o original em seguida porque me apaixonei pela peça e fiquei com vontade de montar e contar essa história. Vivenciei um processo de quase dois anos para conseguir viabilizar o trabalho. Em 2015, estreei no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro e depois viemos para São Paulo, em temporada no Sesc Pompeia (em janeiro de 2016).
 

Trabalho árduo

Realmente, eu intercalo várias peças. Às vezes, sou obrigado a dirigir mais de uma montagem ao mesmo tempo para sobreviver de teatro. No ano passado dirigi seis peças inéditas e quatro reestreias, então foram dez espetáculos dirigidos no ano, mas Uma Ilíada foi a minha prioridade, porque estou atuando também, e a produção é minha, além da direção. Foram três meses de ensaio (de agosto a novembro) até a estreia, no Rio de Janeiro. Em Uma Ilíada quis resgatar o lugar do contador de histórias, mas nunca tinha feito uma peça nesse contexto, dirigindo completamente a plateia. No início eu queria um cenário imenso, vários objetos, mas fui chegando à essência, à síntese, pensando que seria suficiente centrar o espetáculo no trabalho do ator, nesse lugar tão ancestral – anterior ao teatro –, de um ser humano contando uma história para outro.
 

Cereja do bolo

A montagem original americana já trazia alguém tocando ao vivo, ou um contrabaixo ou um violoncelo, porque os Aedos – poetas que contavam histórias na Grécia antiga – eram acompanhados de um músico tocando instrumento de corda. Então achei que seria bom ter música ao vivo, porque é a cereja do bolo, dá o charme. É muito especial o trabalho que Alana Alberg (musicista convidada) faz quando toca. O baixo é um instrumento grave, que traz uma sonoridade e um timbre muito potente, tem a ver com a guerra, além de ser visualmente bonito tê-lo em cena, mas servindo à história, sempre ajudando a contá-la.
 

Simples e essencial

O trabalho da peça ficou centrado no corpo, na voz, sem nenhum artifício ou truque. Busquei o que há de essencial no teatro, seguindo o que a peça pediu. Assim conseguimos chegar ao mais simples.

A ideia era levar a peça para o maior número de pessoas e nunca direcionar para um grupo de literatos ou experts em Grécia antiga. O importante era comunicar a história da maneira mais direta e objetiva. Eu tive a sorte de ter a tradução do Geraldo Carneiro, que é um grande poeta. Ele já conhecia e gostava da Ilíada, além de conhecer a profundidade do texto original, mas sem ser hermético ou complicado. O objetivo era comunicar a história até para quem nunca ouviu falar da Ilíada e da Guerra de Troia.


A ideia era levar a peça para o maior número de pessoas e nunca direcionar para um grupo de literatos ou experts em Grécia antiga. O importante era comunicar a história da maneira mais direta e objetiva.