Postado em 18/11/2016
Para que uma organização, uma comunidade ou um sistema funcione, é necessário que todos os seus elementos estejam combinando.
Ou bem arranjados.
Um bom arranjo é o que separa o pequeno gafanhoto do lutador de karatê.
Mas não pense que arranjar músicas é uma tarefa fácil ou glamurosa.
Segundo o músico Paulo Tiné, a atividade é tão desgastante que o maestro Tom Jobim, assim que ficou famoso, tratou de terceirizar esse procedimento.
Mas o que é um arranjo?
Tomemos por base a matemática: a análise combinatória estuda dois tipos de agrupamentos: Arranjos e combinações.
Nesse caso, os arranjos são caracterizados pela natureza e pela ordem dos elementos escolhidos.
Na área da computação, o arranjo é a estrutura de dados para organização de elementos através de índices.
Na culinária, é necessário que os ingredientes harmonizem para que a receita dê certo. As vezes o menos é mais. Em outras ocasiões, é permitido um exagero aqui, outro ali. Outras receitas requerem quantidades exatas. Por mais que não exista uma fórmula definitiva, é preciso que tudo esteja combinando.
Nos esportes coletivos, um time bem arranjado tende a ser superior aos adversários. Vamos pegar como exemplo a última Copa do Mundo. Todos lembram o que aconteceu quando uma certa seleção europeia que “jogava por música” enfrentou a seleção anfitriã, que desafinou em campo, permitiu tabelas em espaços menores que semicolcheias e acabou levando um gol para cada nota musical da escala natural.
O maestro alemão (aquele treinador que possui uma mania nada higiênica de se “alimentar” durante as partidas), deu uma lição de coletividade, de fazer inveja às melhores orquestras do mundo e conduziu seu time ao tetracampeonato mundial.
Na música, a organização dos elementos, a função de cada instrumento e a preparação de uma composição musical para a execução por um grupo específico de vozes ou instrumentos musicais é denominado arranjo.
Todas as músicas possuem seu arranjo.
Veja o exemplo dessas adaptações de clássicos da música Barroca feitas pelo cravista Osny Fonseca e pela violinista Raquel Aranha para seus instrumentos.
Versões mais “simplificadas”, mas que em momento algum perdem sua beleza nem sua essência.
Alguns arranjos são mais elaborados, como aqueles que são executados por orquestras. Outros são mais simples, como aquele forrozinho maroto tocado em estabelecimentos “risca-faca”, por um cantor que abusa da criatividade e do repertório de reputação duvidosa acompanhado apenas de um teclado e um microfone.
Assim como no nosso sistema digestivo, um “desarranjo” pode trazer danos irreparáveis à reputação de um músico. Por isso é importante caprichar nesse processo. É necessário saber para que e para quem se destina o trabalho a fim de que a mensagem seja transmitida de forma clara e objetiva no resultado final.
Ao recriar o material pré-existente para que fique em forma diferente das execuções anteriores ou para tornar a música mais atraente para o público, o arranjador precisa estar ciente dos recursos disponíveis, tais como a instrumentação e a habilidade dos músicos.
Deve também planejar seu trabalho e conhecer bem seus objetivos. Em muitos casos, o arranjo inclui a mudança no estilo da música. É possível, por exemplo, transformar um samba em um rock ou uma peça composta para uma voz solista para ser cantada por um coral.
O arranjo pode ser uma expansão, quando uma música para poucos instrumentos é executada por um grupo musical maior como uma orquestra ou grupo coral. Pode também ser uma redução, como quando uma música para orquestra é reduzida para ser tocada por um conjunto menor ou mesmo por um instrumento solista.
Outro exemplo é essa versão para piano e voz que a lenda Brian Jackson fez para a canção Lady Day and John Coltrane, de Gil-Scott Heron.
Portanto, para desenvolver um bom arranjo, o músico deve dominar a criação da base rítmica, contracantos e linhas de baixo, instrumentação, estilo, dinâmica, variações de andamento, expressão e a estruturação da peça.
E depois documentar esse trabalho através de uma partitura - ou outros métodos de notação musical - para o registro da obra e para que outras pessoas possam executá-la conforme o planejado.
E pode ter certeza que aquele forrozinho maroto do estabelecimento "risca-faca" também levou um certo tempo para ser elaborado.
No Festival Sesc de Música de Câmara você terá contato com todo tipo de arranjo! Desde peças originalmente compostas pra conjuntos regionais e arranjadas para quinteto de clarinetes, no caso do Sujeito a Guincho, até o arranjo que a compositora Sally Beamish fez para a peça “La Mer” composta em 1905 por Debussy, para orquestra! Nesta transcrição, ela reinventou a peça, a pedido do Trio Apaches, adaptando o arranjo para um trio com piano, o que torna essa audição ainda mais do que especial.
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A segunda edição do Festival Sesc de Música de Câmara acontece entre 22 de novembro e 4 de dezembro de 2016, em 11 Unidades do Sesc na capital, interior e litoral, além de espaços como a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, no centro de São Paulo e o Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera.
São 12 conjuntos convidados, 47 concertos e uma intervenção, mais de 120 intérpretes, em repertórios que vão do antigo ao contemporâneo, em abordagens inovadoras.
Para conferir a programação completa, clique aqui.