Postado em 02/06/2017
As palavras aportam em nossos ouvidos depois de cruzar um mar. São sussurros, gritos, versos, como uma nação pedindo passagem. Trajam vestes distintas, suas peles em diferentes cores, e carregam a diversidade no olhar. Através de séculos história adentro, a busca de palavras para definir essa (re)aproximação decorre desnecessária: a irmandade se faz por meio da língua.
Encontro: Ato ou efeito de encontrar, de estar diante de alguém; colisão de dois corpos; confluência de rios: encontro de águas.
Desta forma, como num encontro de águas vindas de diferentes lugares, mas que fluem harmoniosamente, a mostra ”Yesu Luso - Teatro em Língua Portuguesa” nos convida a misturar-nos e a ouvir essas vozes que falam da mesma forma, embora soem destoantes, como um eco que retorna após ricochetear paredes.
Cinco países nos quais o português é a língua oficial, mas onde as idiossincrasias reverberam peculiaridades sobre a produção teatral. Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal são as nações que participam desta mostra e invadem os palcos do Sesc Ipiranga de 02 a 11/6. O Brasil, como país sede, estará representado na figura de dois grandes diretores: Eduardo Tolentino, à frente da Companhia de Teatro de Braga, com o espetáculo “Um Picasso”, do dramaturgo norte-americano Jeffrey Hatcher; e Marco Antonio Rodrigues, na direção do Grupo Teatrão e da peça “As Três Irmãs (Making Of)”, inspirada na obra de Anton Tchekhov (1860-1904).
A programação se estende por mesas de debate, encontros e oficinas, que trazem à tona temas como violência sexual, desigualdade de gênero e problemas sociais, ao passo que propõe olhares sobre a relação da lusofonia na abordagem e entendimento desses conteúdos.
De origem bantu, num dialeto moçambicano “Yesu” quer dizer “nosso”, e “Luso” faz referencia a Portugal, e é a partir desta composição que a mostra Yesu Luso convida a todos a se apropriarem da origem que nos espalhou pelo mundo, e partindo desta fragilidade fragmental estruturar um panorama ao mesmo tempo uníssono e diverso.
Várias cabeças, muitos corações e uma só língua; o que parece descrever um monstro mitológico, na verdade, é apenas nosso reflexo compartilhado e luminoso feito luz de caleidoscópio.