Postado em 04/10/2017
Odair José, o cantor da pílula, o terror da empregadas, o Bob Dylan da Central do Brasil. Estes foram algumas das expressões criadas pelos jornalistas da época para tentar definir o então novo fenômeno que surgiu nos anos 70, começou a compor aos 17 anos e aos 19 já gravava seu primeiro disco.
Alguma vez na sua vida você já deve ter ouvido falar e ter escutado alguma música dele. Mesmo os mais novos já se depararam com os pais ou avós cantando ao som daquela melodia e letras tão emblemáticas, na vitrola do disco de vinil ou cd.
Não importa! O que vale é que Odair José entrou na sua casa alguma vez.
Seu sucesso começou com a música “Vou tirar você desse lugar”; logo, sua carreira disparou com outras canções que tomaram conta das rádios e dos corações das pessoas, como: "Eu, Você e a Praça", "Assim Sou Eu", "Na Minha Opinião", "A Noite Mais Linda Do Mundo", "Essa Noite Você Vai Ter Que Ser Minha", "Foi Tudo Culpa do Amor", "Sem Saída", “Pare de tomar a pílula”, “Cadê você” (que foi regravada por outros artistas famosos), “Dia 16” e muitas outras.
Ele surgiu no cenário musical brasileiro como um furacão. Rotulado pela imprensa, recebeu, na época, inúmeras críticas e também estereótipo de brega, romântico e inúmeras características que, segundo ele, nunca teve.
Compositor de melodias simples e letras diretas, ressaltou o cotidiano do povo para dentro da música brasileira, para os discos, as estações de rádio e televisão. Fez com que as pessoas se identificassem com suas letras. E o mais importante: trouxe à tona um sentimento de verdade e felicidade.
O goiano, que se instalou no Rio de Janeiro, durante a carreira também tocou em boates, "inferninhos", e dormiu na rua e passou momentos difíceis. Também foi criticado pela igreja, rotulado pela imprensa e censurado pelo regime militar. Mas teve dezenas de hits nas rádios e vendeu milhões de discos.
Odair José, que se apresenta no Sesc Osasco, conversou com a revista Eonline e abriu seu coração relembrando inúmeros acontecimentos que marcaram sua vida e sua extensa carreira.
EONLINE: Roqueiro, romântico ou brega? Afinal de contas, quem é Odair José?
ODAIR JOSÉ: Olha, hoje tenho certeza que o meu trabalho tem um pouco de tudo...do rock ao clássico! Minhas informações musicais são bem ecléticas e depois de 48 anos fazendo músicas é complicado achar uma definição... mas me vejo como um músico/compositor popular.
EONLINE: Você acredita ter contribuído de alguma maneira na mudança comportamental na sociedade brasileira nos anos 70 - 80? Por quê?
ODAIR JOSÉ: Afirmam que sim, que o meu trabalho foi um divisor de águas tanto no nível de gravações como na abordagem dos temas... Um cronista do Dia a Dia disse que sou um sociólogo musical do seu tempo, com arranjos e timbres diferentes daquilo que se fazia no Brasil... Tanto assim que há quem diga que a década de 70 é do Odair José; até uma Ópera Rock foi escrita " O Filho de José e Maria".
EONLINE: Nos anos 70 a imprensa dizia: “O terror das empregadas domésticas”; o “Bob Dylan do Brasil”. Você alguma vez se considerou assim?
ODAIR JOSÉ: Olha, eu nunca dei muita importância pra esse tipo de definição, sempre vi como uma brincadeira. Algumas até acho que tem a ver com os temas, em outras rola um certo preconceito e aí eu não gosto.
EONLINE: Você acredita ter ajudado na regularização da profissão das empregadas domésticas?
ODAIR JOSÉ: Quando fiz a musica em 73 essa era a intenção, chamar a atenção das pessoas para esse total descaso com as empregadas domésticas... Fizemos dois Shows, um no Rio e outro em São Paulo. Tivemos políticos e grupos classistas participando na luta pela causa. Fiz a minha parte não sei se ajudei... Espero que sim!
EONLINE: Como surgiu a ideia ou a inspiração para a canção que foi proibida nos anos 70, “Pare de tomar a pílula?”
ODAIR JOSÉ: É a história da crônica, sociologia popular, o assunto era um enorme tabu... Para os mais esclarecidos, a liberdade feminina; para o povo, um pecado! Quis trazer a conversa para todos os níveis e com isso ajudar... A música foi proibida no Brasil e em toda América Latina. Controle da Natalidade somado à um pouco de hipocrisia religiosa... mas mesmo proibida, fez e ainda faz muito barulho, fiquei conhecido como o cantor da Pílula!
EONLINE: O álbum “Dia 16” tem muitas curiosidades. Pode contar algumas pra gente?
ODAIR JOSÉ: Fazia tempo que eu pensava em fazer um trabalho que falasse no Dia 16... demorou pra ser feito mas consegui encontrar o jeito. Com guitarras estilo ACDC, é um convite a uma comemoração, pois apareci pra vida em 16 de agosto de 48... Aí tivemos a ideia de pesquisar fatos acontecidos na data e colocamos na Capa do CD, acho que ficou legal!
EONLINE: Como é o repertório de seu novo trabalho em Gatos e Ratos? O público pode esperar um pouco de rock'n'roll ?
ODAIR JOSÉ: Em Gatos Ratos, ao contrário do que alguém possa pensar, estou muito fiel ao estilo Odair José... Crônicas do meu tempo atual, olhando pra coisas que acontecem na nossa sociedade... Seja essa sujeira política, a hipocrisia da sociedade, o preconceito estampado numa falsa moral e tudo isso com um som de banda quase ‘garagem’ - mas com muita disciplina... O conceito é de rua, e pode dizer que é Rock!
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Sesc ao pé do ouvido
Playlists criadas especialmente por artistas convidados e outras inspirações estão no perfil do Sesc SP.
Bom para acompanhar você quando estiver correndo, com saudade do Angeli e do Laerte dos anos 80 e outras cositas más. Chega mais!