Postado em 31/10/2017
Ilustração: Marcos Garuti
Peço licença para aqui rimar
em ritmo e poesia venho lhe saudar
Bauru foi o meu palco para o que vou contar
O Hip Hop veio para me apadrinhar
Recém-formada fui buscar o meu rumo
Busquei no Hip Hop o meu
primeiro prumo
Num chafariz fizemos nosso
encontro em roda
Quilombo do Interior que até hoje brota
E teve mil projetos, batalhas de Break
O interior mostrando seu grande valor
Um salve pro Nelsão, amigo da gente
A ONG Quilombo recebeu seu louvor
A militância deu continuidade
mesmo depois que eu saí da cidade
Então eu fui pro Sesc com
esta minha bagagem¿Hip Hop e educação, uma
outra abordagem
No Sesc de Campinas, Projeto Curumim
CD de Rap com as crianças fomos gravar
A rima foi o meio, o início e o fim
Palavras dançantes pra poderem brincar
No Teatro Paulo Autran,
veio depois o “Fala Sério”
Batalha do Conhecimento
junto com Marechal
O tema vinha do público, esse era o critério
Os mil lugares lotados de jovens
na maior moral
Assim eu vivi o Movimento Hip Hop
Não venha aqui resumir,
dizer que tudo é Pop
O Rap é expressão como o erudito e o Rock
Cavar protagonismo, não apenas Ibope
B.Girls, B.Boys, Manos e Minas na fita
Dj’s, Graffiti, é festa, celebração, alegria
Pois África Bambaata mostrou a sua sina
Criou um movimento pra cidadania
Não venha dizer que é um produto importado,
Não adianta chamar de “americanizado!”
Pois vem da África tudo e todo este legado
É ancestralidade desde o canto falado
É forma de expressão, de indignação
É periferia alerta em mobilização
“Se tu lutas tu conquistas”, esse é o lema
Batalha, estilo livre, pra encarar o problema
“Hip Hop é compromisso, não é viagem”
“Sem proceder não para em pé”,
senão é sacanagem
“A vida é um desafio” pra quem está à margem
Dar letra de uma ideia é grande traquinagem
Assim o jovem encontra sua superação
Segura a autoestima na palma da sua mão
E faz do “negro drama” alvo e munição
Subtrair o déficit de anos de escravidão
Graffiti pelos muros mostrando sua estética
A galeria da rua é o concreto armado
Não vem dizer que não é arte, você e sua poética
Ninguém vai pedir licença para mandar o recado
Infelizmente o machismo continua presente
Mas as minas seguem firmes com
argumento nos dentes
A mente engatilhada da Dina Di, chapa quente
“Mulher preta da quebrada é sempre sobrevivente”
Eu vejo grande avanço no curso da história
“Reconhecer um erro, primeiro passo pra vitória”
pro pobre na corda bamba fugir da lei predatória
Ganhar do crime e da morte já é
uma grande glória
“Respeito é o que prevalece” na periferia sofrida
Mostrar pro jovem a potência naquilo
em que acredita¿“Essa é a vida de muitos em tantos,
tantos, São Mateus”,
A cada segundo um jovem
negro nos dá adeus
Só há transformação pela arte e cultura
Ocupe o centro, os museus, escolas,
todas as ruas
O Sesc acolheu, dentre outras, esta pauta
É palco sempre aberto pra receber
esta causa
Promove o acesso em oportunidades
E tem em sua essência sempre a diversidade
Não quer julgar a arte pela arbitrariedade
Pois pensa que cabe tudo aqui de verdade
O Hip Hop andou junto com avanço do tempo
“Aceite-C” aqui pois é um novo momento
Tem causa LGBT, Indígena e Maioridade
São muitas vozes clamando pela liberdade
O Hip Hop é pra todos em qualquer idade
Caminho de luta pra desigualdade
“O ódio mata, mas o amor vem e salva”
Dialogar pelo afeto é bala na agulha, combata!
Aprenda com o Hip Hop e não se deixe calar
Não cabe racismo, misoginia, pra discriminar
Eu creio na utopia para me alimentar
O céu fica bonito se milhões
de estrelas brilharem!
Mara Rita Oriolo é formada em Comunicação Social pela Unesp e Mestre em Educação pela Unicamp. É coordenadora da programação do Sesc Vila Mariana.
*Algumas frases em aspas são citações de letras de rap.