Postado em 30/11/2017
COM SEU FORTE VALOR SIMBÓLICO, A ÁGUA
ESTÁ PRESENTE NO FAZER ARTÍSTICO DESDE A ANTIGUIDADE
E HOJE FIGURA COMO MATERIAL OU REPRESENTAÇÃO EM OBRAS DIVERSAS
Não é de hoje que o elemento água pauta as artes. Desempenha papel de destaque na cultura e na arte da Antiguidade, seja na mitologia grega e romana, com Poseidon (Netuno para os romanos) ou Narciso, seja na tradição cristã, desde o Gênesis, seja no Alcorão. “Ela é vista como o primeiro elemento de todos, tanto nas formas de explicação mais espirituais e religiosas, como também na ciência”, contextualiza o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Hugo Fortes.
Muito presente também como tema na arte da Idade Média e do Renascimento, só bem mais tarde, na contemporaneidade, passou a ser utilizada como matéria-prima para a construção das obras. Um dos artistas que mais utilizaram a água como instrumento em seus trabalhos, na opinião do professor Fortes, é o alemão Klaus Rinke (1939). “Em uma trajetória que inclui muitas instalações, esculturas e performances, utilizou a água tanto em seus aspectos simbólicos como físicos, apresentando tonéis com água proveniente de diferentes mares e rios”, explica.
Em sua interpretação, “reunir água de lugares distantes confere uma impressão de unidade entre os povos e ambientes que o cercam”, completa.
Dentre os artistas brasileiros contemporâneos que se inspiraram neste tema está Jonathas de Andrade, cujo trabalho Maré integra a exposição Água, a partir deste mês no Sesc Belenzinho [leia boxe Recurso vital]. Composta por 111 fotografias em preto e branco impressas em madeira de bordo, a obra apresenta imagens de um velho iate clube de Maceió, estado de Alagoas (onde Jonathas nasceu), registrando o movimento cotidiano da maré. “As madeiras são organizadas como uma tábua das marés, criando uma relação poética entre a Lua, a arquitetura e o desejo, sendo representada pelo mar”, detalha o artista. “Esse mar, aqui como símbolo emocional de um desejo inundado, é o mesmo mar que faz parte de um mundo colapsado por mil questões ambientais, onde a crise das águas é um dos pontos cruciais.”
Água. Esse é o título da exposição que o público pode conferir até 28 de fevereiro no Sesc Belenzinho. Com visitação gratuita, é concebida pela organização não governamental Art for the World com curadoria de Adelina Von Fürstenberg. “A água é o elemento principal e mais importante de todos os quatro (água, terra, fogo e ar). Um sistema simbólico que tem nutrido, ao longo dos séculos, uma importante e filosófica tradição artística”, afirma Adelina.
Ao recrutar 23 artistas de diferentes regiões do globo, a mostra tem como resultado a diversidade dos trabalhos e dos olhares sobre a água: escassez, gestão e modos de conservar esse recurso vital. De caráter itinerante, estreou em Genebra, Suíça, no Dia Mundial da Água, comemorado em 23 de março.