Postado em 30/11/2017
Parque Ibirapuera. Foto: Leila Fugii
Pisar a grama molhada, ler à sombra de uma árvore ou simplesmente contemplar uma revoada de pássaros são ações consideradas “remédios” pelo estudioso e ativista ambiental norte-americano Richard Louv. Fundador da organização Children & Nature Network, que promove um movimento global de conexão entre crianças e adultos com a natureza, Louv contraria a ideia de que somente aqueles que moram no campo ou no litoral poderiam se beneficiar dessa que ele chamou de “vitamina N” (“n” de natureza). Ou seja, todo e qualquer espaço verde, mesmo numa metrópole como São Paulo, é capaz de proporcionar, segundo o pesquisador, diversos benefícios à saúde.
Isso quer dizer que não é preciso viajar para tão longe, ou reservar parte das economias, para poder desfrutar do contato com – e ter mais consciência sobre – diferentes espécies de fauna e de flora. Em São Paulo há 106 parques municipais, segundo dados da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, além de praças e jardins públicos. Mas, ao seu lado – e talvez você ainda não tenha se dado conta –, é possível esticar uma toalha, ou sentar-se num banco, para se entregar a uma realidade distante do tráfego, de arranha-céus e da poluição sonora (confira boxe Passear é verdejar).
Essa ligação com a natureza merece mais atenção. “Ainda que alguns bairros sejam muito áridos e não atinjam o índice mínimo de vegetação por habitante, que seria de três árvores por pessoa, precisamos estimular essa aproximação com o verde”, defende Juliana Gatti, presidente e sócia-fundadora do Instituto Árvores Vivas. O instituto, cujo propósito é resgatar a identificação entre moradores da cidade com a natureza, realiza, entre outras atividades, caminhadas por parques, ruas e praças valendo-se da metodologia Vivência Passeio Verde.
“Poucos caminham pelas ruas e apreciam com profundidade, ou sequer apreciam, um contato que provoque bem-estar. Por isso, nessa metodologia não só falamos [sobre as espécies de árvores] durante a caminhada, mas fazemos pausas para que haja uma percepção sensorial da natureza, e seja estabelecido um vínculo além do aspecto mental”, explica Juliana.
Da mesma forma, observar pássaros pode desvelar outra compreensão da cidade. “Esse é um hobby a que cada vez mais brasileiros estão aderindo”, sugere Karlla Barbosa, coordenadora de projetos da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil). “Existem várias vantagens em ser um observador de aves, pois além de conhecermos melhor as espécies, essa atividade proporciona uma vivência com a natureza e relaxamento. Qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode realizar. Seja em uma Unidade de Conservação, numa praça ou no quintal de casa.”
INTERAÇÃO COM A NATUREZA
Tendo em vista a importância de promover esse contato aprazível e saudável com a natureza, o Sesc Itaquera implementou, no mês de novembro, a atividade Passeio Verde em parceria com o Instituto Árvores Vivas (veja boxe Olha lá!). Grupos formados por crianças, jovens e adultos são acompanhados por um guia de Educação Ambiental pelas alamedas da unidade, que fica dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental (APA) Parque e Fazenda do Carmo.
“A caminhada de observação, com o apoio do material, instiga um olhar mais focado, mais curioso, estimula a atenção aos detalhes e desta maneira mobiliza nossa relação com cada ser vivo encontrado no caminho, traz à tona nossa presença e a noção de responsabilidade como parte integrante do meio”, destaca Tânia Jardim, assistente técnica da Gerência de Educação para Sustentabilidade e Cidadania do Sesc São Paulo.
No caminho, seringueiras, palmeiras, ipês, cedros, jatobás e outras espécies são re-apresentadas e identificadas, enquanto bem-te-vis, tico-ticos e outras aves tornam-se anfitriãs do passeio. Munidos de um caderno com explicações sobre a fauna e a flora que podem encontrar ao longo do trajeto, os visitantes são, então, convidados a reconhecer e anotar quais espécies são avistadas.
“Nesse guia, também há espaço para registros afetivos, inspiradores, como desenhos e poemas. Todos são processos valiosos resultantes dessa interação. Por isso, costumo falar que estamos plantando árvores nas pessoas. Pela empatia, eu aprecio, valorizo e me identifico com a natureza para me sentir bem junto a ela”, complementa Juliana.
As aves têm papéis ecológicos muito importantes no meio ambiente, como a dispersão de sementes, a polinização e o controle de pragas. Além disso, assim como os outros animais, as aves contribuem para o equilíbrio do meio ambiente sendo presas para predadores, e suas fezes e carcaças agem como adubos naturais para as florestas.
Fonte: Sociedade para a Conservação das Aves
do Brasil − SAVE Brasil (www.savebrasil.org.br)
PARQUES, JARDINS E OUTROS ESPAÇOS ONDE FLORA E FAUNA PRESERVADAS SÃO ATRAÇÕES PARA QUEM MORA OU VISITA A CAPITAL PAULISTA
VIVEIRO MANEQUINHO LOPES
Parque Ibirapuera
Criado na década de 1920, e restaurado em 1993 pelo paisagista Roberto Burle Marx, esse viveiro municipal histórico fica dentro do Parque Ibirapuera. Lá, é possível observar a produção de mudas destinadas ao plantio em áreas públicas da cidade. Também dá para contemplar um acervo de 200 espécies em estufas, estufins (canteiros suspensos), telados (estruturas cobertas com tela de sombreamento) e quadras.
Portão 7A do Parque Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral - Vila Mariana
segunda a sexta-feira, das 7h às 17h | info: (11) 3887 6761
PARQUE DO CARMO
Localizado na Zona Leste da cidade, esse parque reconhecido nacionalmente pela Festa das Cerejeiras – celebração à florada das cerejeiras-de-Okinawa no mês de agosto –, tem outros atrativos, como lagos, o Museu do Meio Ambiente, o Viveiro Arthur Etzel e o Bosque da Leitura. A vegetação do local é composta de eucaliptais, brejos, cafezal, pomar, entre outros.
Av. Afonso de Sampaio e Souza, 951 – Itaquera
diariamente, das 5h30 às 18h | info: (11) 2748 0010
PARQUE DA INDEPENDÊNCIA
(ou Parque do Ipiranga)
Marco histórico nacional, foi nessa região que Dom Pedro I declarou o país independente de Portugal, em 1822. Localizado na Zona Sudeste da cidade, esse parque criado em 1989 abrange mais de 161 mil metros quadrados de jardins e bosques. Destaque para o jardim francês à frente do Museu Paulista, seus canteiros de rosas e arranjos de palmeiras.
Av. Nazareth, s/n - Ipiranga
diariamente, das 5h às 20h |
info: (11) 2273 7250
JARDIM BOTÂNICO
Criado em 1938, o Jardim Botânico está dentro do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. Espaço de conservação de grande diversidade de espécies de árvores nativas e de outros países, nele o visitante percorrerá bosques, alamedas e trilhas. Destaque para as escadarias históricas, o Jardim dos Sentidos, a trilha da Nascente e o Lago das Ninfeias – flores aquáticas que são símbolo do Jardim Botânico.
É permitido piqueniques com até 20 pessoas.
Av. Miguel Stéfano, 3031, Água Funda |
terça a domingo, das 9h às 17h (no horário de verão, das 9h às 18h) | info: (11) 5067 6000
PARQUE BURLE MARX
Criado em 1950 e restaurado em 1991 pelo paisagista Roberto Burle Marx, o parque tem uma área superior a 108 mil metros quadrados, composta por trilhas, bosques, lagos e outros atrativos, como a observação de pássaros pelos visitantes. Destaque para o Jardim Burle Marx, criado pelo paisagista, onde foi registrada a presença de mais de 50 espécies de plantas herbáceas e arbóreas. No parque também há uma horta comunitária aberta para visitação, contato e voluntários.
Av. Dona Helena Pereira de Moraes 200, Campo Limpo |
diariamente, das 7h às 19h | info: (11) 3746 7631
PARQUE ECOLÓGICO DO GUARAPIRANGA
Este parque de 250 hectares localizado na zona sul de São Paulo, nas proximidades da Represa do Guarapiranga, é lar para cerca de 50 espécies de aves, mamíferos e répteis. Entre alguns passeios que podem ser feitos pelos visitantes está a Trilha da Vida. Detalhe: ela só pode ser feita de olhos vendados. A ideia é promover um contato sensorial com a natureza e entender que o meio ambiente também pode ser sentido pelo olfato, pelo tato e pela audição.
Estrada do Riviera, 3286 | terça a domingo, das 8h às 17h | info: (11) 5517 6707
PARQUE TRIANON MASP
No coração da Avenida Paulista, este parque destaca-se pela fauna, flora e esculturas – Fauno, de Victor Brecheret, e Aretusa, de Francisco Leopoldo Silva – ao alcance dos visitantes. Sua vegetação é composta de remanescentes da Mata Atlântica. Nela sobressaem cedros, jequitibás e outras árvores, além de espécies exóticas como palmeira-de-leque-da-china. Na fauna, prevalecem duas espécies de borboletas, sete de morcegos e 28 de aves. Sentar em algum banco para relaxar e observar a natureza é uma boa pedida.
Rua Peixoto Gomide, 949 -
Cerqueira César | diariamente,
das 6h às 18h | info: (11) 3253 4973
SESC INTERLAGOS
O Sesc Interlagos oferece diferentes passeios que convidam o público para esse contanto consciente com a natureza. Na Trilha Billings, grupos de visitantes percorrem um trajeto de mata ciliar, nascentes e lagos. Por ele, temos contato com a mata atlântica recuperada, que margeia a Represa Billings. Esse passeio ainda inclui uma visita à instalação Água Viva, que apresenta o tempo de degradação de alguns resíduos descartados na água. Já no Viveiro de Plantas, são mais de cinco mil mudas em exposição. Nele também é possível visitar: estufa de plantas, ervanário, horta orgânica, orquidário, terrário, jardim sensorial e pomar. Lá são oferecidos cursos, oficinas e palestras para crianças, jovens e adultos.
Av. Manuel Alves Soares, 1100, Parque Colonial | de quarta a domingo, das 9h às 17h | info: www.sescsp.org.br
Fotos: Leila Fugii
NOVA ATIVIDADE NO SESC ITAQUERA
PROMOVE CONTEMPLAÇÃO E CONHECIMENTO
SOBRE PÁSSAROS DA FAUNA DE SÃO PAULO
De um grupo de 10 mil espécies de aves, o Brasil é habitado por 1.919, segundo dados da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil). Desse total, 166 correm risco de extinção. Indicadoras de fenômenos ambientais, elas detectam mudanças e condições do ecossistema. Mesmo na cidade de São Paulo é possível encontrar, nas áreas verdes, 465 espécies, ou seja, 24% de toda a avifauna brasileira, de acordo com a coordenadora de projetos da SAVE Brasil, Karlla Barbosa.
“Quando conhecemos nossas aves, sabemos, por exemplo, qual é o limite de impacto humano que elas suportam ou qual o tipo de ambiente que elas preferem, e essa pode ser uma ferramenta para a conservação das aves e de toda a fauna local”, explica. Visando a esse objetivo, a unidade Itaquera oferece uma boa opção para observação das aves.
Durante a atividade Passeio Verde, já foram avistadas 21 espécies. Recomenda-se o uso de binóculos e roupas de cores neutras, uma vez que cores chamativas podem afastar as aves. O passeio é oferecido aos finais de semana, mediante agendamento de grupos de até 20 pessoas, acompanhadas por um agente de educação ambiental. Confira algumas das aves que podem ser observadas pelos visitantes durante o passeio:
PICA-PAU-DE-BANDA-BRANCA
Vive solitário ou em casal em ambientes abertos e de floresta. Mede 35 centímetros e é uma das maiores espécies de pica-paus conhecidas. Para impedir o ataque de predadores ao ninho que constroem em árvores, o acesso tem o tamanho exato do seu corpo.
SABIÁ-DO-CAMPO
Pode ser observado em pequenos grupos em ambientes abertos, como campos, cerrados e áreas urbanas. É uma ave comum do Brasil e conhecida pelo variado repertório de cantos, inclusive por imitar outras espécies de aves.
BEIJA-FLOR-TESOURA
Pode ser facilmente identificado pela sua longa e escura cauda em formato de tesoura. Tem cerca de 19 centímetros de comprimento. Alimenta-se do néctar das flores e de pequenos invertebrados.
PARA LER E DESFRUTAR...
Obra reúne levantamento de espécies
de pássaros que vivem na área do Sesc Bertioga
Em sua segunda edição, o livro Aves do Sesc Bertioga (Edições Sesc São Paulo), de Cristiane Demétrio e Luiz Sanfilippo (org.), apresenta mais de 100 espécies de aves que habitam a unidade, mapeadas pelo projeto Avifauna. Repleta de imagens e informações sobre características físicas, hábitos alimentares e reprodução das aves, a publicação também orienta a como atrair e observar os pássaros. A obra traz ainda uma breve contextualização histórico-geográfica de Bertioga, conduzindo o leitor à compreensão da diversidade cultural, arquitetônica e paisagística da região.
(Versão digital na www.amazon.com.br)
Foto: Julio Cesar da Costa