Postado em 14/07/2018
Para muitos, trata-se da banda do roqueiro maluco que comeu um morcego no palco. Conhecedores um pouco mais atentos e aprofundados, porém, sabem que o Black Sabbath não se resume a esta performance um tanto alucinada, mas está entre os grupos precursores e mais emblemáticos do heavy metal.
E foi esta a banda que inspirou quatro músicos a formarem, em Araçatuba (SP), o grupo Death Target, que leva ao palco do Festival Pandemia Rock, do Sesc Birigui, seu tributo a Ozzy Osbourne (o Príncipe das Trevas), Tony Iommi, Geezer Butler, Bill Ward e integrantes de outras formações.
O Black Sabbath completa 50 anos em 2018 e os músicos Sig Wagner (bateria), Fábio Feitoza (guitarra), Luciano Tencate (baixo) e Charles Max (voz) veem muitos motivos para continuar levando adiante o som de sua banda preferida. Confira a entrevista!
Qual a melhor fase do Black Sabbath, na opinião de vocês? O quanto a saída de Ozzy, em 1979, influenciou na sonoridade e nas produções da banda?
Charles – Para mim foi o começo dos anos 1970. Lançaram em 1971 o “Master of Reality”, com “Children of the grave”, minha musica favorita do Sabbath. Ozzy estava no auge, alcançando tons inimagináveis, e a banda estava voando baixo com força total. Depois foi caindo aos poucos, usaram muitas drogas, até que “saíram com o Ozzy”. A banda mudou bastante com a entrada de outros vocalistas, até porque o estilo e a técnica vocal dos outros eram bem diferentes do estilo ímpar de Ozzy. Dio, Ian Gillan, David Donato, Glenn Hughes etc, todos tinham características e técnicas bem diferentes, e com isso o Sabbath teve que se adaptar em cada troca de integrante.
Fabio - Na minha opinião a melhor fase do Black Sabbath foi na época do Ozzy. Quando tanto o Gillian e o Dio assumiram os vocais, eu não vejo como "Black Sabbath", mas como uma nova banda. E que também gosto muito e acho de excelente qualidade. Mas Black Sabbath mesmo é Ozzy, Iommi, Geezer e Bill.
Luciano - Fase Ozzy, pelas composições características da banda. Mas a saída do Ozzy ajudou a banda a amadurecer a sonoridade e as produções em geral.
Sigmar - Melhor fase foi o inicio até a saída do Ozzy. Outras formações não parecem nada com Sabbath. Parece uma outra banda, mas muito boa também.
Existe uma diferença entre bandas cover e bandas de tributo. Em qual categoria vocês se encaixam e por que decidiram seguir este caminho?
Charles – Nos encaixamos na categoria tributo. Decidimos por seguir dessa forma, pois já existem vários covers espalhados pelo país, e também pelo fato de querermos sair da cópia fiel, aquela em que se toca identicamente à banda original, mesmas notas, mesmos timbres, mesmas roupas, mesmo cenário, mesmos instrumentos. Decidimos trabalhar mais em cima da identidade própria, ou seja, tocamos em cima da raiz do Black Sabbath, mas com uma roupagem mais moderna, sem perder a essência setentista. Inclusive o nome da banda não tem nenhum vínculo com o Sabbath, nos deixando assim livres para apresentarmos tributos a outras bandas de nossas influências ou até mesmo trabalharmos em composições autorais.
Fabio – E temos a liberdade de interpretar uma banda que gostamos muito, mas do nosso jeito.
Luciano - Cada integrante pode imprimir sua própria musicalidade nas músicas.
Sigmar - Bandas cover procuram "copiar" ao máximo as bandas originais, até amplificadores e instrumentos da mesma marca costumam usar. Já vi vocalista com aparência e voz idêntica. Chega a ser estranho. Tributo é um trabalho sem um compromisso fiel, mas a tocabilidade tem que transmitir ao público o sentimento.
E qual a importância das bandas cover/tributo?
Charles – Para as bandas, é o começo de tudo, a porta de entrada para shows. A banda ganha muita experiência de palco, de estrada, porque é muito mais fácil vender um show cover/tributo do que um autoral. Trata-se de uma fase muito importante para a “vida” de qualquer banda. Tem que sentar e estudar as técnicas dos seus ídolos e, como consequência, cria-se a sua própria personalidade musical. Toda banda famosa atual começou com cover ou tributo, e até hoje nos shows eles sempre colocam algumas músicas de outras bandas no meio das autorais. Para o público, é a chance de ver uma banda tocando os clássicos da qual ele é fã e se divertir, se entreter.
No interior de SP, notamos a presença de muitas bandas de tributo e poucos trabalhos autorais de rock sendo feitos. Como vocês enxergam isso?
Charles - Justamente pelo fato do show cover/tributo ser mais rentável. Mas, na realidade, existem várias bandas com trabalhos autorais muito bons, mas a divulgação e os shows não ocorrem por falta de recursos ou por falta de interesse do dono das casas de shows e público.
Fabio - Faltam oportunidades para bandas autorais. Quando se trata do rock, muitas pessoas são fechadas a novidades e acabam não dando oportunidades para novas bandas que estão atrás da conquista autoral. E a banda tem que ser um tributo ou cover, para poder, no meio de uma apresentação, tocar duas músicas próprias.
Luciano - Creio que muitos trabalhos autorais são produzidos em nossa cidade, mas o alcance é pequeno.
Sigmar - No interior e nas capitais. É que nas capitais existem mais bares e alguns só abrem o palco para autorais que se destacam. Proporcionalmente, tem bem mais covers/tributo, mas tem banda autoral pra caramba. Difícil deve ser emocionar o público com novos trabalhos, como antigamente, talvez por isso as casas com covers sempre estão lotadas. Eu me lembro que nos anos 1980 a galera pulava e curtia intensamente qualquer música, os bares com bandas autorais desconhecidas viviam lotados. Hoje, fica todo mundo de braços cruzados criticando os músicos. Faltam composições originais? Sim! Mas falta um público mais tolerante e mente aberta!
Ao mesmo tempo e que a cena autoral parece não ter a merecida atenção, cidades menores como Valparaíso, Penápolis e Birigui investem em festivais (não competitivos). Acha que estes eventos fortalecem a cena do rock no interior? Por quê?
Charles - Com certeza fortalecem e abrem portas para as bandas, além de estimularem a criançada e os adolescentes a procurarem a música, o rock, como forma de entretenimento e cultura. O rock sempre teve seus altos e baixos, o que não pode acontecer é acabar de vez com esses festivais, porque sempre, em qualquer lugar do mundo, vão existir 3, 4 ou 5 caras reunidos em uma garagem, sótão, porão ou, os mais modernos, em um home studio, para ensaiar ou apenas “fazer um som”, e sempre com o objetivo de tocar nesses festivais. É totalmente válido. Sem esses festivais, as bandas ficam a mercê de donos de casa noturnas e pubs, que agendam covers e tributos já conhecidos no cenário musical para gerar um bom público e assim conseguir uma “noite boa”, com um bom lucro, pois ele é empresário e precisa pagar as contas, senão, o bar acaba fechando. Mas, como consequência, isso desestimula algumas bandas. Quer cair na estrada e tocar todo final de semana? Estude, forme uma boa banda e faça um trabalho um bem feito, que você tocará em qualquer Pub ou casa noturna.
Fabio - Acredito que toda tentativa de certa forma ajuda essa cena. Mas, mesmo assim, o apoio é pequeno. Infelizmente vivemos na fase que rock está fora de moda. E o mundo do music business é isso. Por isso, qualquer incentivo, por mais pequeno que seja, já ajuda. Mesmo com esses incentivos pequenos, temos que evitar eventos de má qualidade, tanto por parte das bandas, quanto de quem os produz.
Luciano - Além disso, a união entre as bandas com esses festivais aumenta a visibilidade delas.
Sigmar - Não usaria o verbo fortalecer. É muito mais forte do que realmente é. Pequenos festivais, com pequenos públicos. Muito difíceis de se organizar, pouco apoio dos órgãos públicos e uma região com um preconceito ao rock que é de assustar. Os mesmos eventos, pouca evolução e alguns até extintos. Fortalecer é bem diferente disso. Eventos de rock, cover e outros parecidos chegam a reunir 20 mil pessoas, número muito distante dessa nossa região.
No heavy metal brasileiro, Sepultura conseguiu uma projeção internacional, Angra também tem um destaque, mas ainda há muitas bandas cujo conhecimento ficou restrito aos fãs do gênero. Fora estas, quais bandas brasileiras de heavy metal vocês têm como referência?
Charles - Shaman, Almah, Hangar, Viper, Dr. Sin, Torture Squad, entre vários outros.
Fabio - Sempre temos o esquecido Dr. Sin, que é uma banda excelente e que sofreu por essa falta de oportunidades para autorais que existe. E atualmente quem está na briga por espaço é a Project 46.
Luciano - Maior referência de metal nacional que ficou esquecida e por isso acabou é o Dr. Sin. Exatamente pela pequena projeção de trabalhos autorais.
Sigmar - Sepultura e Angra tiveram reconhecimento primeiro fora do Brasil, e muitas bandas passam por isso no país do É O Tchan, do funk baixaria e do batidão duplo sentido, não poderia ser diferente! Bandas que influenciam são inúmeras, cada um tem uma que lhe agrada mais. Eu curto Claustrofobia, Korzus, Torture Squad e mais uma pancada de coisas...