Postado em 17/07/2018
Antes da abertura da 14ª Bienal Naïfs do Brasil, no Sesc Piracicaba, vale um rápido passeio por mais de 30 anos de história de uma iniciativa de valorização da cultura brasileira que segue desafiando as fronteiras da arte na contemporaneidade
"O que a gente faz é 'abrir espaço para'", diz o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, no documentário "Desta terra, nesta terra, para esta terra: 30 anos de Bienal Naïfs do Brasil" (assista abaixo), realizado para a mostra "Bienal Naïfs do Brasil: Evidências", exposição que comemorou, no Sesc Belenzinho, no ano passado, 30 anos do projeto que acontece desde os anos 80 em Piracicaba.
Foi abrindo espaço para um pequeno grupo de artistas chamados de "ingênuos" ou "espontâneos", que não conseguiam expor suas obras nas salas consagradas de arte moderna e contemporânea, que o Sesc Piracicaba criou, em 1986, dentro do projeto Cenas da Cultura Caipira, a Mostra Nacional de Arte Ingênua e Primitiva, com apenas 38 obras de 19 artistas.
Nos anos seguintes, a mostra passou a receber um número maior de inscrições e ampliou a quantidade de obras em exposição. Em 1990, ela já não fazia mais parte do projeto Cenas da Cultura Caipira. Tornou-se uma ação autônoma promovida pelo Sesc Piracicaba. Em 1991, teve quase 50 artistas inscritos e 100 obras expostas.
Em linha com a proposta original e reconhecendo a crescente importância que o espaço foi adquirindo para a cena da arte de matriz popular de todo o país, a mostra transforma-se, em 1992, na primeira Bienal Naïfs do Brasil. Até a sexta edição, em 2002, o evento contou com a curadoria de Antônio do Nascimento – profundamente envolvido no projeto desde a sua gênese.
Ricardo Resende, Armando Queiroz e Juliana Okuda Campaneli, curadores da 14ª Bienal Naïfs do Brasil, que acontece de 18 de agosto a 25 de novembro, no Sesc Piracicaba, escolheram "Daquilo que escapa" como título da mostra de 2018. A transgressão sugerida pelo nome reafirma a tensão colocada, desde o início, por linguagens e artistas que reclamam o seu lugar no sistema – por vezes elitista – da arte contemporânea.
"E não deixa de ser uma ideia magnífica você ter uma bienal em que se possa ver a produção do povo e a produção também daqueles que têm interesse pela iconografia popular. Porque, em geral, o que domina a arte no Brasil é o código hegemônico europeu e norte-americano branco", afirma Ana Mae Barbosa, curadora da 8ª Bienal Naïfs do Brasil (2006), no documentário dos 30 anos do projeto.
A própria noção de "arte naïf" escapa à tentativa de compreender em definitivo que segmento da produção artística, dentro e fora do Brasil, seria adequadamente qualificado dessa maneira. "Naïf" é um termo de origem francesa, derivado do latim "nativus". Sugere algo "natural", "ingênuo", "primitivo" e teria sido utilizado, originalmente, nas artes, para descrever a pintura do artista modernista francês Henri Rousseau (1844-1910). Não se trata de uma nomenclatura livre de controvérsia. Nilson Pimenta, um dos 85 artista selecionados para esta edição da bienal, adverte em sua ficha de inscrição: "Popular sim, ingênuo jamais."
A secretaria da 14ª Bienal Naïfs do Brasil recebeu 1164 trabalhos, inscritos por 583 artistas de 24 estados brasileiros. 155 obras, nos mais variados suportes e técnicas, foram selecionadas para a mostra, cujo evento de abertura acontece no dia 17 de agosto, às 20h, no Sesc Piracicaba.
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