Postado em 31/10/2018
Ziraldo constrói personagens e histórias para alimentar
a curiosidade de um público amplo e de todas as idades
Turma do Pererê (1959), The Supermãe (1968), O Menino Maluquinho (1980), O Bichinho da Maçã (1982) e Uma Professora Muito Maluquinha (1995) são alguns exemplos da galeria de mundos e personagens criados por Ziraldo em sua extensa e profícua carreira, numa sequência que vai de A a Zi, como sinaliza a exposição em cartaz até 4 de agosto de 2019, no Sesc Interlagos.
Seus achados têm origens diversas, desde o folclore brasileiro, no caso da Turma do Pererê, até amigos, costumes e família, como The Supermãe e Jeremias, o Bom. No entanto, para Ziraldo, não há distinção em elaborar personagens inspirados em temas mais amplos, como cultura popular e infância, ou em pessoas que fizeram parte de seu convívio. “Não acredito que haja diferença no ato de inventar uma história. Não me parece que seja o tema que influencia mais ou menos o ato da criação em si”, explica o autor.
A inovação se fez pela introdução da brasilidade nos quadrinhos, pouco explorada antes de Ziraldo voltar lápis e papel para essa ideia. “Nisso de desenvolver personagens que são como todos nós, Ziraldo criou alguns que são muito brasileiros”, complementa o jornalista Ricky Goodwin, especialista em desenho de humor. O pesquisador destaca, como primeira incursão do autor nesse rol de temas, a Turma do Pererê: “Foi sucesso do início dos anos 1960, quando não havia revista em quadrinhos totalmente brasileira”. O comprometimento com assuntos relacionados à identidade nacional também está presente. “Os animais são da nossa fauna, as histórias vêm do nosso folclore e os personagens são engraçados, mas falam também de questões do nosso país”, afirma.
O estudioso define Ziraldo como um artista de personalidade intensa e com imaginação sem limites – característica de seu herói mais famoso, o Menino Maluquinho. Também destaca o lado engajado daquele que teve papel importante em publicações como o semanário alternativo O Pasquim, fundado em 1969. Dessa época, outro expoente é Jeremias, o Bom, lançado em 1965, no ano seguinte ao golpe militar: “No meio daquele chumbo pesado, Ziraldo fez da bondade uma declaração política”. E também vemos a Supermãe e o Flicts (1969), que é uma cor que não se encaixa em lugar nenhum. “Não é genial isso?!”, opina o jornalista.
Sintético, Ziraldo define o apelo de suas criações de forma simples: “O personagem deve atender ao interesse e à curiosidade do público ao qual ele se destina. O Menino Maluquinho pertence ao universo onde vivem e circulam seus parceiros”, resume. Ponto para Ziraldo, que em 86 anos de vida publicou quase uma centena de livros e deu vida a histórias memoráveis na literatura e nos quadrinhos.
Exposição sobre o artista reúne
obras autorais e peças de acervo
Até 4 de agosto de 2019 a unidade Interlagos recebe a exposição Ziraldo... de A a Zi, trazendo aos leitores de todas as idades um panorama do imaginário de Ziraldo. A cenografia da mostra está distribuída em cubos temáticos, com aproximadamente 500 obras, entre elas 200 originais do acervo pessoal do artista, peças de colecionadores, além de ampliações gigantes de obras já consagradas.
A idealização, cenografia e curadoria da mostra são da cineasta, cenógrafa e diretora teatral Daniela Thomas (filha de Ziraldo), da designer, produtora e fotógrafa Adriana Lins (sobrinha do artista) e do jornalista, curador e especialista em desenho de humor Ricky Goodwin, que trabalha com Ziraldo há 47 anos.