Postado em 31/05/2019
A gravura ganhou relevância no Brasil como técnica e linguagem artística voltada à crítica social, na década de 1940, em meio à efervescência política e de costumes surgida com o fim da Segunda Guerra Mundial, e teve papel importante na circulação de imagens e textos de forte caráter social, aproximando elementos do universo da arte do cotidiano de uma parte significativa da população.
A exposição Xilo: Corpo e Paisagem, em cartaz no Sesc Guarulhos (leia boxe Marca registrada), aborda as diversas formas de fazer e de circular gravuras, assim como suas relações com ambiente urbano e com os espaços da arte. Propõe um recorte contemporâneo de artistas e coletivos que iniciaram seus trabalhos nos anos 1990, em São Paulo, período marcado por uma "aventura gráfica”, nas palavras de Claudio Mubarac, curador da mostra, artista e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Mubarac aborda as funções sociais da gravura, ao relacionar a atual presença de imagens impressas coladas nos muros da cidade com experiências passadas: “Os gregos e os romanos já usavam a cidade para falar sobre a cidade.
Os grafites existem há milênios como formas de diálogo, nas trocas sociais, políticas, comerciais, culturais, pessoais, num grande livro aberto que é a urbe”.
Pelos muros
Com o intuito de reforçar o impacto causado pelas imagens no meio urbano, Mubarac cita os pixos e lambe-lambes como elementos "de alta combustão pelos muros, edifícios e viadutos”.
Ao salientar a versatilidade dos usos da xilogravura, a artista Flavia Yue esclarece que seu processo de produção é simples, direto e possibilita inúmeras formas de impressão da imagem. Flavia utiliza técnicas como: montagens, sobreposições e alterações na transparência das tintas. “Durante muitos anos, me aproximei do processo japonês de impressão com tinta à base de água, o que me influenciou bastante nos trabalhos em gravura e xilo”, explica.
Outra artista visual que adotou a xilogravura foi Ana Calzavara, quando a técnica cruzou sua trajetória em 2008, depois da participação em uma oficina. Fortemente ligada à pintura e à fluidez que a tinta à base d'água oferece, ela nutriu empatia pelos resultados pictóricos que a xilo possibilita. Segundo a artista, alguns dos pontos que guiam sua prática são:
“O diálogo entre um meio tradicional, que se serve da madeira como suporte e a mão do artista (para o gesto do corte), com imagens que a princípio trazem consigo o indício da natureza de captura mecânica (câmera fotográfica ou cinematográfica)”.
De acordo com Calzavara, seu trabalho com xilogravura é baseado em um movimento de revisão dos usos e características tradicionais dessa técnica milenar, a partir do desenvolvimento de suas pesquisas artísticas. “O que contribui para a riqueza de abordagem/linhagem dessa linguagem e ao mesmo tempo faz com que ela continuamente se renove”, completa.