Postado em 31/05/2019
Desde que chegou ao Brasil, nos anos 1970, o Funk passou por transformações, tanto em suas características musicais quanto no modo de dançar. A cultura também se expandiu para além das comunidades cariocas e se tornou um mercado que, só na cidade de São Paulo, chega a movimentar cerca de R$ 30 milhões por mês, de acordo com o produtor cultural Bruno Ramos, membro da Liga do Funk, associação sem fins lucrativos criada em 2012, para estimular a conscientização política e a profissionalização da cadeia produtiva do Funk, que inlcui MCs, DJs, dançarinos e produtores, por exemplo.
Bruno mediou um bate-papo com a produtora cultural e gestora de projetos Andressa Oliveira e a MC Cacau Rocha, também associadas à Liga, com o tema "O Funk e a Representação Feminina", no Sesc Itaquera. Durante o debate, Andressa destacou o crescimento de espaços para mulheres neste universo, para além da posição de dançarinas: "Há uma abertura para as minas terem um espaço de voz e de liderança, um estímulo ao diálogo para entender o feminismo e o funk".
Cacau Rocha, por exemplo, afirmou que a sua motivação é rimar a partir de uma perspectiva própria, ou seja, dizer o que sente enquanto mulher pertencente a esta cultura. A MC também defendeu a dança como uma expressão de liberdade, que se contraporia à repressão dos corpos femininos. "O funk é uma dança e tem técnica, aulas, ensaio, figurino... Por que o collant no ballet clássico é aceito e o shortinho é um absurdo?"
O desenvolvimento do funk enquanto uma tradição cultural ficou evidente no encerramento da atividade, com a apresentação "Timeline do Passinho", com Michel Quebradeira Pura, diretor do grupo de dança de mesmo nome, Alê Valladares, dançarina, e Keyson, integrante do grupo Imperadores da Dança. Eles mostraram a evolução do passinho, um jeito de dançar o funk que foi criado em meados dos anos 2000 e, ao longo desses quase 20 anos, deu origem a variações em diferentes regiões do país. Veja a seguir a evolução do passinho.
O funk sempre teve mais adesão no Rio de Janeiro e foi lá que surgiu o “passinho foda”, em 2004 - o único dos passinhos com passos oficialmente nomeados. De acordo com Michel, “entre 2006 e 2007 apareceram os primeiros bondes de passinho, que na linguagem do Hip Hop são chamados de crew [grupo, equipe]”. O passinho começou a ganhar o Brasil a partir de 2012, com o lançamento do documentário A Batalha do Passinho – O Filme, dirigido por Emilio Domingos. Michel mostra as variações:
Sabará
Cruzada
Rabiscado
Embolada
Caidinha
Em 2013, surgiu o primeiro passinho de São Paulo, o passinho do Romano, na zona leste, no Jardim Romano, no distrito de São Miguel Paulista. Ele foi criado por Magrão, durante uma brincadeira, e sua principal característica são as caretas feitas durante a movimentação. O vídeo do Magrão dançando no baile viralizou, mas ele morreria antes de saber que se tornaria um sucesso, em um acidente de carro.
O responsável por manter o passinho vivo foi Fezinho Patatyy, que também desenvolveu o jeito de dançar, com a inclusão do movimento de mãos elevatórias, por exemplo. Keyson, que é de São Paulo, mostra pra gente.
Magrão
Caidinha andando
Tapa no vento
Mãos elevatórias
Sarrada
Mãos e pés cruzados
Quadradinho – RJ
O rebolado das mulheres sempre foi um dos principais movimentos na dança funk e ganhou fama com a Gaiola das Popozudas. Com o tempo, o passo foi se tornado mais complexo, por exemplo, com a execução do “quadradinho”, que depois evoluiria para o “quadradinho de oito”, com o Bonde das Maravilhas. A Alê quebra tudo!
Quadradinho
Destravada
Tremidinha
Em 2017, São Paulo lança mais um passinho, inspirado nos movimentos criados no Rio de Janeiro, o “maloka” vem com uma pegada mais “corpo de mola”. Hoje a maior referência de maloka é o grupo NGKS.
Ombrinho
Arremesso
Balanço dos braços
A transformação sonora do funk, com menos graves e mais batidas “metálicas”, é perceptível nas músicas atuais. Ao mesmo tempo, algumas características dos primórdios dos bailes aparecem ressignificadas. Um exemplo é o passinho malado, de Belo Horizonte, que se destaca pelos passos coreografados, para dançar em galera, com giros, pulos e movimentos pélvicos no ar, sempre com ênfase na cintura para baixo. Um dos divulgadores desse estilo é MV Oliveira.
A propósito, “malado” é uma gíria que em Belo Horizonte que tem o significado de “legal”, "maneiro", “muito bom”.
Em Recife (PE) surgiu a vertente mais recente do passinho, o bregafunk. Dynho Alves foi um dos primeiros que trouxe o passinho para São Paulo. No estilo, também dançado com movimentos coreografados e em galera, se destacam as sarradas e o molejo e a sensualidade típicos da música brega.
A partir daqui, fica a expectativa de como a evolução do passinho vai continuar!