Postado em 01/08/2019
Quantos livros você leu até agora em 2019? Quantos deles escritos por mulheres? E quantas dessas mulheres são negras? O clube de leitura do Sesc Carmo nesse segundo semestre assumiu esse recorte para conversar sobre as obras de cinco escritoras negras.
Na última semana de julho, Bianca Santana mediou o primeiro desses encontros.
O livro A mulher de pés descalços, de Scholastique Mukasonga, apresenta a história da autora quando criança, em um espaço onde viviam refugiados tutsi em Ruanda a partir da década de 1960. Ela olha sobretudo para sua mãe, Stefania, uma mulher que se preocupa com a sobrevivência de seus filhos e de seu mundo em um ambiente de deslocamento. Entre sons de perigo e ameaças veladas - que, um dia, chegariam às últimas consequências -, Stefania é uma das mulheres da comunidade que garante a ela sua coesão e manutenção de hábitos tradicionais. Stefania chama os filhos com os nomes que lhes deu, e não com os nomes que a colonização impôs a eles, tirando pedaços de sua identidade, tão ameaçada física e culturalmente.
Uma das participantes do Clube de Leitura apontou para o forte traço de oralidade no relato de Scholastique. O curioso é pensar que essa oralidade está presente também nas falas dos próprios participantes que se encontravam ali na biblioteca naquela terça-feira. Outra participante retomou a única lembrança que tinha sobre Ruanda, a do filme que narra o massacre acontecido em 1994. O texto, no entanto, não se demora nesse assunto. O importante, como Bianca Santana apontou, era que a autora desse à memória de sua mãe o tratamento que não pôde dar à época de seu assassinato. Sua palavras cobriam seu corpo, ao mesmo tempo em que desvelava para os leitores relações de afeto e de conflitos em uma região outrora colonizada pela administração belga.
Compartilhar em uma roda a leitura de um livro acaba com sensação de solidão que às vezes a leitura pode causar. Mesmo que a gente saiba que com um monte de palavras e ideias nunca estejamos realmente sozinhos, é mais gostoso poder trocar impressões, descobrir o que interessa a outros leitores, entender o outro através de um objeto tão simples como um livro. Por isso, já deixamos aqui o aviso de que os encontros acontecem no fim do mês e os próximos livros e as mediadoras serão:
Diário de Bitita, Carolina Maria de Jesus – Mediação: Ryane Leão - Terça, 27/08, das 19h às 20h30;
Amada, Toni Morrison - Mediação: Elizandra Sousa - Terça, 24/09, das 19h às 20h30;
Adua, Igiaba Scego - Mediação: Mel Duarte – Terça, 29/10, das 19h às 20h30;
As alegrias da maternidade, de Buchi Emecheta - Mediação: Suelaine Carneiro - Terça, 26/11, das 19h às 20h30.