Postado em 21/10/2019
O ambiente está completamente escuro, exceto por fontes luminosas que vemos brilhar a alguma distância. É como deitar em um gramado em noite estrelada e enxergar o pulsar de estrelas a anos-luz de nós. A sala onde isso é possível fica no primeiro andar do Sesc Carmo e a obra Orun de Paula Scamparini nos faz admirar uma paisagem visual que remete ao céu ao mesmo tempo em que nos apresenta 62 relatos sobre isso que está lá em cima.
A instalação "Orun" recebe seu nome da língua iorubá, uma palavra que significa "Céu". Produzida ao longo de um ano, ela alia percepções científicas, mitológicas e espirituais nos depoimentos ininterruptamente apresentados em pequenos televisores. É através da voz e da linguagem de povos do Brasil que aprendemos como diferentes culturas interpretam o cosmo. Esse "céu" multitelas criado pela artista coloca o visitante em contato direto com as estrelas, o tempo, o espaço sideral e as memórias ancestrais, realinhando o humano em relação à natureza e em relação ao outro.
Na abertura da exposição, Carlos Doethiro Tukano, membro da Aldeia Macaranã, que aparece em um dos vídeos-depoimentos de Orun, mostrou aos presentes o que significavam as constelações vistas e interpretadas por sua comunidade no Alto Rio Negro, no estado do Amazonas. Os animais avistados ao longo do ano no céu informam às pessoas na terra a época da colheita, da cheia ou da baixa do rio. Cada vez que acontece o ocaso de uma constelação, inicia-se o período de chuvas. Quando a constelação da jararaca, por exemplo, é a que está se pondo, as enchentes duram mais tempo, pois se trata de um animal comprido. Mas mesmo na terra, os tukanos tratam do céu. A casa - chamada maloca - abriga as pessoas da aldeia e é comparável ao universo. Seu teto de palha é o céu e suas duas portas criam o caminho do sol.
Orun nos mostra que o céu é cheio de sentidos e de mistérios e que cada grupo humano constrói sobre ele seu significado. Mesmo sem sabermos onde começa ou onde termina - é finito ou infinito? - é através das histórias contadas nos mais diferentes sotaques que a obra de Paula Scamparini nos apresente um céu que alia arte, tecnologia, ciência e cosmologias.
A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, no Sesc Carmo, das 9h30 às 19h30, até 10 de janeiro de 2020. Para mais informações, clique aqui.