Postado em 31/10/2019
Aos 71 anos, Cildo Meireles é um dos principais artistas de sua geração no mundo. Em sua trajetória, não se atém a uma forma única de criar, utilizando diversos suportes, materiais e objetos em sua produção. Desde Um Sanduíche Muito Branco (1966) – saído direto de um sonho no qual comia um sanduíche de pão com algodão –, passou por instalações, esculturas e desenhos. Obras realizadas com garrafas de Coca-Cola, cédulas de dinheiro, madeira, projéteis, ossos, ferro, entre outros materiais.
Boa parte desta diversidade pode ser vista na exposição Entrevendo, no Sesc Pompeia (leia o boxe Material + Espiritual). Não há um roteiro fixo a seguir. O público se aproxima do que salta aos olhos e é convidado a interagir com os objetos. Com frequência, Cildo busca representar em suas criações algo que, a princípio, não poderia ser retratado.
Esse é o caso de Malhas da Liberdade (1976-77/2008). Ao ver um pescador tecendo uma rede em Alcântara, em São Gonçalo (RJ), “Cildo lhe propôs a feitura de uma rede com estruturas tão largas que perdesse a sua utilidade, já que nada seria pescado por ela”, explica Diego Matos, que partilha a curadoria da mostra com Júlia Rebouças.
De acordo com Júlia, os trabalhos expostos em Entrevendo cobrem um arco temporal extenso do artista: mais de meio século de carreira. Obras que se conectam com questões prementes do agora, trazendo à tona relações entre texto e imagem, passado e presente, princípios de química e física, abordagens formais e histórico-sociais.
EXPOSIÇÃO É A MAIOR MOSTRA DO ARTISTA JÁ REALIZADA NA AMÉRICA LATINA
Entrevendo é composta por cerca de 150 obras criadas por Cildo Meireles entre os anos 1960 e os dias de hoje. Inclusive, a instalação que dá nome à exposição convida o visitante, já na entrada, a caminhar contra um ventilador de ar quente, antecipando ao público a possibilidade de interagir com o trabalho do artista. Esta e outras obras foram escolhidas pelos curadores Júlia Rebouças e Diego Matos. Outro exemplo é Amerikkka (1991/2013), pela primeira vez no país, na qual o visitante é convidado a caminhar sobre 17 mil ovos de madeira e sob a mira de 33 mil balas de arma de fogo. Há também versões de trabalhos já exibidos no Brasil, como Missão, Missões (Como construir catedrais), original de 1987, que se formou, segundo o artista, a partir de uma equação que reúne “poder material, poder espiritual e uma espécie de consequência inevitável ea historicamente repetida dessa conjunção”. Reconhecido como um dos nomes mais importantes da arte brasileira, Cildo já expôs no Museu Reina Sofia (Madri), no MoMa (Nova York) e esteve por quatro vezes na Bienal de Veneza, principal evento do calendário internacional de arte. Entrevendo ocupa a Área de Convivência, o Galpão e o Deck do Sesc Pompeia até 2 de fevereiro de 2020. A visitação é de terça a sábado, das 10h às 21h30, e aos domingos, das 10h às 19h30.
Confira como foi a montagem da exposição: