Postado em 31/01/2020
Desta vez, as câmeras dos smartphones não irão mirar picassos, mondrians, tarsilas ou oiticicas, mas uma obra do artista brasileiro José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899). Nascido em Itu (SP), Almeida Jr. é considerado pelos críticos como um “pintor do nacional”. Isso porque suas telas figuram os costumes, as cores e a luminosidade regional. Temas e elementos que se opõem à tradição eurocêntrica vigente na pintura acadêmica da época. Uma obra, em especial, ganha atenção do público que visita o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo: Cena de Família de Adolfo Augusto Pinto, de 1891. Popularizada em reproduções na forma de marcadores de livro, ímãs de geladeira e quebra-cabeças, este óleo sobre tela ilustra uma crônica da capital paulista do final do século 19.
1 Enquanto duas crianças pequenas cuidam de um bebê, um garotinho examina o álbum de fotografias da família e a mãe parece cochichar algum algum segredo de costura para a filha.
2 Os instrumentos musicais, os quadros na parede, o tapete, a manta, as fotografias e o álbum revelam um interior onde os proprietários aspiram gravitar em um bem viver “civilizado”, europeu. O ambiente revela as pretensões do casal.
3 A natureza tropical, único sinal de “brasilidade” da composição, está representada pela forte luz do sol lá fora (atenuada quando entra no ambiente) e por indícios de sua domesticação: o canteiro ladeando o muro que limita a propriedade, a pintura de paisagem sobre o piano, os vasos que decoram a sala.
4 Adolfo Augusto Pinto, o pai desta família, lê a primeira página de um jornal de engenharia. Ao seu pé, o cão de estimação. Na época, Augusto Pinto era reconhecido como um importante engenheiro na cidade de São Paulo. Conterrâneo de Almeida Jr., o ex-estudante de Medicina em Salvador, formado engenheiro no Rio de Janeiro, trabalhou em alguns dos principais empreendimentos de infraestrutura de uma crescente metrópole paulista. Mais do que um engenheiro bem-sucedido, ele idealizava a capital paulista com potencial para centro econômico, cultural e simbólico do país.