Postado em 30/06/2020
Ícone do teatro brasileiro, Antunes Filho (1929-2019) tem sua obra ao alcance dos amantes das artes cênicas na plataforma Sesc Digital (leia Acervo compartilhado), em mostra virtual iniciada no mês de maio, um ano após a morte do diretor. Ilustre morador do bairro do Bixiga, um dos pioneiros das artes dramáticas contribuiu para a formação de gerações de artistas dedicados ao teatro no país.
Quando jovem, estudou Direito por um tempo, mas, em 1952, já era assistente de direção no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde trabalhou com Antônio Abujamra, Fernanda Montenegro, Paulo Autran, entre outros atores. Em trajetória ascendente, dirigiu no ano seguinte a primeira peça, Week-end, uma adaptação da obra do britânico Noel Coward.
Suas criações eram estimuladas pelas inovações do teatro mundial e pelo círculo de realizadores estrangeiros que passaram pelo Brasil na época, entre eles, o polonês Zbigniew Ziembinski.
O método de Antunes é um de seus legados. Desmembrando a palavra, o método se revela desde a lista de livros indicada por ele aos atores e atrizes até a ação em si, ou seja, vai do processo de pesquisa à prática dramatúrgica. O vértice da revolução foi o Centro de Pesquisa Teatral (CPT), atuante na unidade Consolação desde 1982.
Em entrevista concedida para a edição de junho de 2019 da Revista E, o fotógrafo Emidio Luisi, que manteve sua câmera em foco nos bastidores dos espetáculos de Antunes por mais de 40 anos e cujas fotos ilustram esta matéria Gráfica, pontuou a característica do criador que mais saltava aos olhos, a exigência, a busca do melhor em cada ato. “Ao dizer ‘você não pode gostar de teatro, tem que se apaixonar por teatro’, ele deixa clara a dedicação ao ofício”, acrescenta Luisi. “O que aprendi foi a metodologia que ele ensinou aos atores, o ensinamento deixado em cada espetáculo.”
Ator e diretor, parte do CPT, Emerson Danesi explica que o método de Antunes se relaciona com a preocupação com a formação do ator e do cidadão, além da disciplina, conhecimento, técnica corporal e vocal. “Por isso desenvolveu uma série de exercícios de percepção, sensibilização e abertura do instrumento físico (corpo e voz) para o ator/atriz, ampliando o repertório gestual, sonoro e do imaginário”, afirma.
“Se um pintor tem suas ferramentas e possibilidade de se afastar da sua pintura para observá-la e se um músico tem seu instrumento separado de si e ouve a afinação e as notas que poderão ser tocadas, como é que o ator ou a atriz poderão entender que, apesar de não terem esse espaço do seu instrumento de criação e expressão que é o próprio corpo, encontrarão por meio de treinamentos o afastamento necessário para a compreensão entre o que é o seu corpo real e o seu corpo poético?”, questiona.
Com mais de 60 prêmios conquistados ao longo da carreira, Antunes tornou-se um radar da dramaturgia, dialogando com a tradição internacional e cânones nacionais, elencados em adaptações de obras literárias como Macunaíma (Mário de Andrade, 1978), A Hora e a Vez de Augusto Matraga (Guimarães Rosa, 1986) e A Pedra do Reino (Ariano Suassuna, 2006).
Algumas das joias de Antunes Filho estão disponíveis na plataforma do Sesc Digital (sescsp.org.br/mostraantunesfilho). Criações teatrais de diferentes períodos, como A Pedra do Reino (2006), Lamartine Babo (2009), Toda Nudez Será Castigada (2012), Blanche (2016), estão lado a lado dos seis episódios da série O Teatro Segundo Antunes Filho (2002). Também é possível ver sua incursão pelo cinema, com o filme em preto e branco Compasso de Espera (1973) – um dos primeiros no Brasil a trazer à cena um protagonista negro da classe média. Nas redes sociais @sescsp e @sescconsolacao (e de outras unidades), estão registrados depoimentos de atores e atrizes que trabalharam com Antunes.