Postado em 30/06/2020
Eu te protejo e você me protege. Seguindo esse princípio, a máscara se tornou um símbolo de cuidado e de coletividade. Classificada pelos órgãos de saúde como importante instrumento para diminuir as taxas de transmissão do novo coronavírus, a máscara de tecido é indicada para minimizar os riscos de uma pessoa contaminada, sintomática ou não, disseminar o vírus. Estamos aprendendo – e nos adaptando a – outra forma de viver e de conviver. Cuidando um do outro, estaremos todos mais protegidos.
Sobre esse cenário, o psicanalista Christian Dunker, professor do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo (USP), escreveu em seu blog: “Nesse sentido, a tecnologia representada pela máscara é o inverso da técnica do muro, empregada pela lógica dos condomínios”. Ou seja, “no muro, eu torno o outro invisível e perigoso, eu me protejo dele criando uma realidade artificial onde só existem pessoas como eu mesmo”. No entanto, ele complementa, “a máscara é uma forma de reconhecer a importância do outro”. Trata-se, portanto, de uma barreira necessária para a convivência, e não para o isolamento.
Associada a medidas preventivas, como higienização das mãos, atenção ao tossir e espirrar, evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca, e distanciamento social, a máscara é indispensável para quem precisa sair de casa. Inclusive, o uso obrigatório em São Paulo ganhou decreto estadual no começo de maio, por tempo indeterminado. E, em junho, o Congresso aprovou o projeto de lei que obriga o uso de máscaras em locais públicos ou privados, em todo o país.
A máscara de tecido trouxe ainda possibilidades de empreender. Formada em Moda pela Universidade Anhembi Morumbi, Selma Paiva trabalhava com figurino de teatro e também realizava, antes da pandemia, oficinas de costura no Ateliê Cendira – espaço coletivo criado em 2016 com mais duas sócias, cujo foco é o bem-estar, autocuidado, moda sustentável e diversas atividades voltadas ao empoderamento e empreendedorismo das mulheres no Jardim São Luís, zona sul da cidade.
Desde o começo das medidas preventivas contra o novo coronavírus, Selma e sua mãe buscaram uma alternativa para a geração de renda. Juntas, fizeram modelagem, corte e costura, e ainda empregaram mais duas ajudantes para finalizar a produção e entrega de 300 máscaras de pano para o projeto Tecido Solidário do Sesc São Paulo (leia Somar forças). “Por causa dessa confecção, estou conhecendo outros grupos de mulheres para formar uma grande rede. São várias iniciativas, coletivos ou empreendedoras sozinhas, todas se juntando. Espero que continue dessa mesma forma porque não tinha isso antes. Era cada uma na sua ilha. De repente, apareceram muitas costureiras das zonas norte, sul, leste e oeste”, conta Selma.
Seja na máquina de costura ou à mão, a criação deste item também tem sido uma forma de repensar, segundo a empreendedora do Ateliê Cendira, a valorização de quem trabalha nesse segmento. “Acho importante a valorização da profissão de costureira, mas também repensar sobre sustentabilidade e consumismo desenfreado”, analisa. “Eu cresci vendo minha mãe costurar e eu fiz moda. O resto de tecido que iria para o lixo sempre me incomodou. Então, fazer a máscara ainda te traz a possibilidade de aproveitar qualquer retalho”, acrescenta.
Essa mesma alternativa está dando suporte aos participantes do Projeto Tear, no município de Guarulhos. Fundado em 2003, o Tear é um serviço da rede de atenção psicossocial que atua no campo da inclusão social pelo trabalho, convivência e cultura da população em situação de sofrimento psíquico. Vinculado à Secretaria Municipal da Saúde, é um espaço de oficinas de marcenaria, serigrafia, encadernação, costura, culinária, jardinagem, mosaico, entre outros ofícios, onde os participantes (a partir de 18 anos) aprendem, criam e recebem pela venda de seus produtos.
Em parceria com o Sesc Guarulhos, a instituição deve produzir 1.500 máscaras para o projeto Tecido Solidário. A iniciativa envolve, em cada ponto dessa teia, 16 pessoas. “Todo o valor da confecção vai ser revertido para pagamento de uma bolsa-auxílio para todos os participantes, já que neste momento da pandemia estamos sem poder produzir coletivamente e fisicamente em nosso espaço. E, se não produzimos, não vendemos”, explica Denise Castanho Antunes, coordenadora de equipe do Projeto Tear.
Ao todo, 120 pessoas receberão a bolsa-auxílio, inclusive aquelas que por pertencerem a um grupo de risco, ou por outras complicações, não puderam se envolver na produção. “Trabalhamos com pessoas que não estão inseridas no mercado de trabalho. E essa oportunidade é fundamental”, destaca Denise. “A gente está envolvida numa ação que vai gerar benefícios para outras pessoas. Vamos multiplicar esse benefício. Esse é o lado humanitário da confecção das máscaras.”
Ação de produção e doação integra diferentes segmentos sociais
Além de promover diversas ações de enfrentamento à pandemia, o Sesc São Paulo reforça seu compromisso social e educativo com o projeto Tecido Solidário. O objetivo é mobilizar a capacidade produtiva de cooperativas de costureiras e outras entidades sociais presentes no território de suas unidades, além de funcionários da instituição, para confecção de máscaras de tecido e distribuição gratuita. Dessa forma, há geração de renda e incentivo à integração de diferentes segmentos sociais neste momento.
Essas ações, segundo Midiã Claudio, assistente da Gerência de Educação para a Sustentabilidade e Cidadania, integram o trabalho social que a instituição vem realizando desde o início da pandemia. “O conceito de solidariedade presente no nome do projeto materializa-se no engajamento espontâneo dos funcionários e funcionárias do Sesc São Paulo na produção das máscaras, na geração de renda para iniciativas sociais e pequenos empreendedores e empreendedoras a partir das contratações feitas pelas unidades em todo o estado, na doação desse item para trabalhadores e populações dos territórios mais expostos”, explica.
O foco de educação em saúde também faz parte desse projeto e começa ainda na fase de produção das máscaras, etapa em que as pessoas envolvidas recebem orientações de como realizar a confecção dos itens de forma segura e quais tecidos são apropriados. Na etapa de distribuição, são dadas dicas de como as máscaras devem ser usadas, a importância de incorporar o uso na rotina e como deve ser feita a higienização. O projeto conta ainda com um suporte de materiais gráficos impressos, vídeos e cards distribuídos pelo WhatsApp e também pelas redes sociais do Sesc.
Mais de 50 cooperativas e entidades sociais mapeadas participam dessa ação. Entre as primeiras instituições que iniciaram as atividades de produção estão, na capital, o espaço de cuidado e bem-estar de mulheres periféricas Ateliê Cendira, no Jardim São Luís; o Projeto Tear, no município de Guarulhos; o grupo de artesãos Rede CriaNorte, na Vila Guilherme; a marca de vestuários com atuação local Mile Lab, no Grajaú; e os coletivos de costura Meninas Mahin, na Vila Progresso, e SoudPano, em Guaianases. No interior do estado, o Instituto Empodera, em Sorocaba; a Casa do Hip Hop, a Apae e o Quintal da Dona Marta, todos na região de Piracicaba; e a Rede Solidária, em Birigui, entre outras associações.
Outras mãos
Pequenos núcleos de produção também foram compostos por funcionários do Sesc São Paulo que quiseram contribuir com a mobilização. A rede de unidades possui, no total, cerca de 200 máquinas de costura, que normalmente são usadas em cursos e oficinas – atualmente suspensos –, e parte delas está sendo enviada às casas dos funcionários que se engajaram na ação.
Ao final, as máscaras serão distribuídas entre comunidades em situação de vulnerabilidade, instituições atendidas pelo programa Mesa Brasil, entidades sociais, cooperativas de materiais recicláveis, funcionários do Sesc e outros grupos identificados como prioritários.
O projeto Tecido Solidário se soma a outras iniciativas do Sesc, como a doação de máscaras cirúrgicas, toucas sanfonadas, luvas de procedimento e luvas plásticas provenientes dos estoques das clínicas odontológicas e serviços de alimentação das unidades do Sesc. Outra ação nesse sentido é a fabricação digital, também para doação, de protetores faciais, indicados como equipamentos de proteção complementares.
Por que usar? A máscara é uma barreira que diminui a circulação do vírus.
Quando usar? Sempre que estiver em ambientes coletivos.
Quem deve usar? Todos devem usar. Apenas crianças menores de 2 anos devem evitar o uso.
Lavar a máscara antes do primeiro uso
Lavar as mãos antes de colocar a máscara
Manipular sempre pelas alças e cobrir queixo, boca e nariz
Não colocar as mãos na parte central do tecido e não tirar a máscara para falar
Usar por no máximo 2 ou 3 horas
Lavar as mãos antes e depois de retirar a máscara
Colocar a máscara usada em uma sacola plástica
Ao sair, leve mais de uma máscara limpa, para trocar quando necessário
Lavar a máscara sempre que usar, com água e sabão
Deixar de molho em solução com água sanitária (2 colheres para cada litro de água) por 20 minutos
Deixar secar bem
Passar com ferro quente, sempre que possível
Entenda melhor as orientações com os cuidados de uso e higienização das máscaras de tecido neste vídeo abaixo e aproveite para conhecer a página do projeto Tecido Solidário em sescsp.org.br/tecidosolidario