Postado em 01/09/2020
Realizada no Sesc Piracicaba há quase 30 anos, a Bienal esse ano teve sua visitação presencial adiada em razão da pandemia. Contudo, dá início a ações online, que se estenderão até julho de 2021.
Sob o título Ideias para adiar o fim da arte, com curadoria de Ana Avelar e Renata Felinto, a 15ª Bienal Naïfs do Brasil, realizada pelo Sesc São Paulo na unidade de Piracicaba, anuncia os artistas premiados na edição 2020 da mostra. No final do ano passado, foram selecionadas 212 obras de 125 artistas – de 21 estados brasileiros, além do Distrito Federal. As inscrições se deram por meio de uma convocatória pública realizada entre setembro e novembro de 2019. As obras e instalações dessa edição apresentam técnicas como pintura, colagem, desenho, aquarela, gravura, escultura, entalhe, bordado, costura, crochê, marchetaria e modelagem.
Compõem também o recorte da curadoria obras das artistas convidadas Carmela Pereira, Leda Catunda, Raquel Trindade e Sonia Gomes, estabelecendo diálogos com o resultado da seletiva. Prevista inicialmente para abrir em agosto de 2020, a exposição na unidade do interior de São Paulo, em função da pandemia, ainda não tem data de abertura ao público.
"Manto tropeiro: um breve olhar do caminho das tropas", obra de Angeles Paredes e Carmem Kuntz, composta por desenho, aquarela e bordado livre | Foto: Paulo Parra Munhoz
Obras premiadas
Como forma de estimular a participação, valorizar seu trabalho e diversificar a coleção permanente da instituição – o Acervo Sesc de Arte –, o Sesc São Paulo concede a alguns dos artistas selecionados, por meio de suas obras, o Prêmio Destaque-Aquisição, o Prêmio Incentivo e Menções Especiais. Na 15ª edição da Bienal Naïfs, as obras agraciadas pelo júri (composto por Ana Avelar, Renata Felinto e Nilva Luz) são:
Prêmio Destaque-Aquisição
Totem Apurinã Kamadeni, de Sãnipã (Pauiní, AM)
O renascimento de Luzia, de Paulo Mattos (São Paulo, SP)
O martírio de Nossa Senhora do Brasil, de Shila Joaquim (São Matheus, ES)
Prêmio Incentivo
Manto tropeiro: um breve olhar do caminho das tropas, de Angeles Paredes e Carmem Kuntz (Sorocaba, SP)
Em busca de uma liberdade que ainda não raiou, de Con Silva (Batatais, SP)
Comadre Fulosinha dá a luz depois de degolar o caçador que a engravidou, de Eriba Chagas (São Paulo, SP)
Esperança em pedaços, de Chavonga (Diadema, SP)
Brincantes do imaginário, de Valdeck de Garanhuns (Guararema, SP)
Menção Especial
É óleo no mar..., de Alcides Peixe (São Paulo, SP)
Cantinho do benzer, de Alexandra Jacob (Piracicaba, SP)
Vazante, de Eri Alves (São Paulo, SP)
Jandira #33, de Hellen Audrey (Campinas, SP)
Aprendiz de Pajé, de Yúpury (Manaus, AM)
Umbuzeiro florindo, de Nilda Neves (São Paulo, SP)
Gorda, de Soupixo (Crato, CE)
Alma da estrada, de Thiago Nevs (São Paulo, SP)
Dia-a-dia de Finoca, de Zila Abreu (São Paulo, SP)
"Gorda", matriz de xilogravura de Soupixo | Foto: Paulo Parra Munhoz
Ações online
A Bienal Naïfs do Brasil 2020 teve sua visitação presencial adiada em razão da pandemia. Contudo, ações online, que se estenderão até julho de 2021, permitem ao público que se aproxime deste universo mesmo durante o isolamento social.
Ao longo dos próximos meses, a equipe curatorial, artistas e especialistas participarão de uma série de atividades gratuitas por meio de plataformas digitais e com a possibilidade de alcançar pessoas de todas as regiões do país, nas quais serão abordados temas como as estratégias de visibilização de produções artísticas, as dinâmicas dos espaços de criação, além de diferentes perspectivas sobre o campo da arte dita popular.
Todas as ações, por enquanto online, da Bienal serão anunciadas periodicamente nos canais do Sesc Piracicaba no Facebook, Instagram e Twitter.
Processo de curadoria
Para Ana Avelar e Renata Felinto, os próprios trabalhos inscritos – foram 980 obras, de 520 artistas com idades entre 19 e 87 anos – deram a temperatura da pluralidade e da diversidade dessa produção de arte brasileira a qual chamamos naïf. De acordo com as curadoras, o processo de seleção de trabalhos partiu do critério da representatividade. Foram levadas em conta as regiões de onde provêm e atuam esses artistas, suas declarações étnico-raciais, suas faixas-etárias, os assuntos e as materialidades com as quais trabalham.
A 15ª edição da Bienal também vai homenagear Lélia Coelho Frota e Ana Mae Barbosa, mulheres intelectuais brasileiras que demonstraram em suas pesquisas a preocupação com o entendimento da pessoa artista e de sua produção de forma mais humana e plural; e Leda Catunda e Sonia Gomes, com obras que dialogam de forma pioneira com o universo que caracteriza a arte naïf. A mostra irá apresentar também o ateliê como um local de criação em suas múltiplas possibilidades trazendo fragmentos dos ateliês das artistas Carmela Pereira, Raquel Trindade e Sãnipã.
O título Ideias para adiar o fim da arte, que dá nome à 15ª edição da Bienal é uma referência direta às ideias de Ailton Krenak (1953) – pensador dedicado a refletir sobre o modelo de vida de populações originárias no território brasileiro em relação ao modelo capitalista ocidental – e de Arthur Danto (1924-2013) – pensador norte-americano interessado em revisar a concepção de arte no cenário contemporâneo –, uma aposta na convergência de narrativas dessemelhantes como um modo de estimular a formulação de novas epistemologias para a geração de conhecimento.
*
Veja imagens de algumas das outras obras premiadas na 15ª Bienal Naïfs do Brasil na matéria gráfica desse mês da Revista E, além de áudios gravados com as curadoras e uma das artistas. E, no último dia 22 de agosto, Ana Avelar e Renata Felinto participaram do debate Tensionando Hierarquias: Arte Naïf e Arte Contemporânea, ao vivo, na série Ideias #EmCasaComSesc. Assista aqui a íntegra desse bate-papo, que contou também com a presença de Ana Magalhães, curadora do MAC/USP.
A lista completa de artistas selecionados para a essa edição da Bienal Naïfs do Brasil, bem como catálogos e informações de edições anteriores, podem ser conferidos em sescsp.org.br/bienalnaifs. Originada das mostras anuais realizadas pelo Sesc Piracicaba de 1986 a 1991, a Bienal teve sua primeira edição em 1992 na mesma cidade. Desde então, consolidou-se como uma referência para aqueles que possuem algum vínculo com sua proposta.