Postado em 30/04/2021
DESAFIOS E AVANÇOS DE ACESSO E PARTICIPAÇÃO
DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO
Qual será o futuro do trabalho e quais serão os protagonistas desse cenário? – perguntam sociólogos, economistas e outros estudiosos. Longe de prevermos o amanhã, o momento presente aponta o grande desafio de acesso e de participação de um bilhão de pessoas com deficiência no planeta. Em oito regiões do mundo, apenas 36% das pessoas com deficiência em idade de trabalhar têm emprego, comparados aos 60% das pessoas sem deficiência empregadas. E, na maioria dos países, pessoas com deficiência economicamente ativas estão em empregos vulneráveis ou ganhando menos que as pessoas sem deficiência, segundo dados do relatório Atingindo Objetivos Sustentáveis por, para e com Pessoas com Deficiência, de 2018, da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, a Lei de Cotas, que determina a ocupação de 2% a 5% dos cargos de empresas por pessoas com deficiência, é um importante marco que, em 2021, completa 30 anos. Nessas décadas de trajetória, há conquistas e obstáculos no caminho.
O capacitismo, termo usado para definir o preconceito contra pessoas com deficiência, ainda é uma barreira na sociedade (leia matéria Acessibilidade presente, na Revista E nº 286, de agosto de 2020). “Ainda existe essa visão capacitista. Empresas e gestores que pensam que pessoas com deficiência vão atrapalhar e não vão produzir. Há aqueles que até mesmo usam o argumento de que não há pessoas com deficiência que queiram trabalhar”, observa a secretária-executiva do movimento Rede Empresarial de Inclusão Social pela Empregabilidade das Pessoas com Deficiência, Ivone Santana.
Somente no estado de São Paulo, há mais de 1 milhão e 600 mil pessoas com deficiência em idade produtiva e com formação, sendo que a quantidade de vagas reservadas pela Lei de Cotas, até o final de 2019, era de 700 mil em todo o Brasil, segundo o Relatório Anual de Informações Sociais – Rais de 2019. “Então, tem muitas pessoas preparadas e uma dificuldade enorme do mercado de contratar e incluir essas pessoas”, complementa a especialista.
O atual cenário de restrição social pela Covid-19 também acentuou outro problema: a falta de condições das pessoas com deficiência empregadas para desempenharem bem suas funções profissionais dentro de casa. “Como eu faço uma reunião de trabalho para que o trabalhador com deficiência possa participar? Como ele consegue ter acesso a documentos digitais? A pandemia está obrigando as empresas a olhar para questões que vão além de substituir uma escada por uma rampa, ou de instalar um elevador”, constata a especialista em acessibilidade Aline Morais, da Santa Causa Boas Ideias & Projetos, que desenvolve projetos de inclusão de pessoas com deficiência em empresas.
Além de muitos desses profissionais não terem um espaço adequado e ergonômico para o teletrabalho, muitas vezes eles também não contam com ferramentas digitais de acessibilidade, como libras e audiodescrição. “Um profissional que é surdo e precisa de um intérprete de libras ou de legendas, por exemplo, mas não conta com esses recursos, tem menos possibilidades de participação e menos chances de desenvolvimento”, exemplifica Morais.
Ou seja, uma empresa onde o ambiente de trabalho ofereça acessibilidade, não só arquitetônica, mas em recursos de comunicação inclusiva, terá um maior leque de profissionais que podem ser recrutados. “Não podemos olhar pelo viés de que a deficiência limita a participação se não oferecemos um ambiente acessível”, acrescenta a consultora.
Se por um lado ainda há uma discrepância em termos de representatividade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, por outro aumenta o interesse de empresas que buscam a inclusão e participação desse segmento ativo da população. “Tem crescido muito o número de empresas que procuram fazer um programa estruturado para fazer a inclusão das pessoas com deficiência. Isso não foi abalado em 2020, pelo contrário: houve um aumento da procura por maior profissionalização nessa gestão; inclusive, essa é uma tendência que veio com a estruturação das áreas de diversidade e de inclusão”, destaca a secretária-executiva do movimento Rede Empresarial de Inclusão Social pela Empregabilidade das Pessoas com Deficiência, Ivone Santana.
Dessa forma, empresas que não tinham essa área começaram a criá-la e a investir na inserção desses profissionais. Até o momento, mais de 40 empresas já procuraram a Rede Empresarial de Inclusão Social e estão em processo de adesão ao Pacto pela Inclusão, endossado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Um número significativo considerando-se que, quando o pacto foi lançado em 2016, apenas 21 empresas haviam aderido.
“A gente percebe que aquela engrenagem que estava ali parada e enferrujada há séculos começou a se mexer no sentido de perceber as pessoas com deficiência como pessoas produtivas. Pessoas que têm direito de ter autonomia e independência, que querem falar por si”, conclui Ivone Santana.
PROGRAMAÇÃO FOMENTA DEBATES, CURSOS E OUTRAS INICIATIVAS PARA ACESSO E FORMAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
No mês em que se celebra o Dia do Trabalhador (1º de maio), o Sesc São Paulo realiza atividades em suas plataformas digitais voltadas às diferentes realidades do mercado de trabalho. Principalmente, o desafio de inclusão e participação e de reconhecimento de pessoas com deficiência. Ao todo, seis unidades do Sesc São Paulo realizam atividades que compõem uma programação em suas plataformas digitais. Todas as ações contam com recursos de acessibilidade (libras, legendas, audiodescrição) e levantam temas como, Trabalho, Renda e Pessoa com Deficiência, entre outros.
De acordo com Fabio Luiz Vasconcelos, gerente adjunto da Gerência de Educação para Sustentabilidade e Cidadania do Sesc São Paulo, lidar com nossos preconceitos é tomar contato com nossas ideias e valores, ressignificando-os, e construir modos de ser a partir do olhar para a complexidade da diversidade humana. “Somos diferentes uns dos outros, há muitos corpos diferentes. No campo da acessibilidade a pessoas com deficiência é urgente criarmos e reforçarmos os espaços de afetos e de protagonismo para e com elas”, explica. “O desenvolvimento de atitudes acessíveis depende de voltar o olhar para as pessoas com deficiência como sujeitos de direitos, tendo como essência o valor da convivência, em um processo educativo permanente que reforce um pensamento anticapacitista.” Confira alguns destaques da programação e assista a debates que já foram realizados pela programação #EmCasaComSesc:
Acessibilidade, barreiras e capacitismo
Neste mês acontece o 6º encontro do curso Acessibilidade, Barreiras e Capacitismo, formado por rodas de conversa independentes mediadas pela pesquisadora Marta Gil, especialista em comunicação e disseminação da informação na área da deficiência, especialmente em temas como educação e trabalho. Ex-coordenadora da Rede de Informações Integradas sobre Deficiência, que teve como desdobramento a Rede Saci (Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação) na Universidade de São Paulo (USP), Marta Gil recebe um convidado a cada encontro para falar sobre vários âmbitos da acessibilidade: profissional, pessoal, trabalho, educação, lazer e empoderamento feminino, nesta ação realizada pelo Sesc Carmo. Dia 3/5, das 19h às 20h15. Saiba mais: www.sescsp.org.br/carmo.
Descrição de Imagens
Realizada pelo Sesc Sorocaba, a oficina Descrição de Imagens, ministrada por Marisa Pretti, audiodescritora da empresa As Meninas dos Olhos, busca a difusão da acessibilidade às pessoas com deficiência visual e baixa visão ao formar audiodescritores aptos a traduzir imagens em palavras por meio de técnicas da audiodescrição. Ao final, o aluno terá conhecimento de técnicas facilitadoras para construção imagética, fundamentadas na interpretação do objeto a ser descrito. Dias 18 e 20/5, terça e quinta, das 10h às 12h. Saiba mais: www.sescsp.org.br/sorocaba.
Trabalho, renda e pessoas com deficiência
Qual a situação das pessoas com deficiência neste momento, para além da Lei de Cotas? Esta e outras questões fazem parte do Sesc Ideias Pessoa com Deficiência, Inserção no Trabalho e Geração de Renda na Atualidade, transmitido no canal do YouTube do Sesc São Paulo no dia 1º de maio. Participam da live a diretora-executiva do Instituto Modo Parités e secretária-executiva do movimento Rede Empresarial de Inclusão Social pela Empregabilidade das Pessoas com Deficiência, Ivone Santana; Djalma Scartezini, da EY Consultoria em Acessibilidade e Inclusão; e a especialista em acessibilidade e inclusão Aline Morais, sócia-diretora da Santa Causa Boas Ideias & Projetos, que fará a mediação. Assista: www.youtube.com/sescsp.
O Protagonismo das Pessoas com Deficiência nas Produções Culturais no Meio Digital
Os avanços, desafios e usos das tecnologias nas plataformas de encontros virtuais, permitiram encontros a distância e possibilitaram novas formas de fazer, mostrar e apreciar as atividades artísticas. No entanto, estigma, capacitismo e dificuldade de acesso das pessoas com deficiência permaneceram e se mostram presentes nesse novo formato. Essa é uma das questões debatidas no Sesc Ideias O Protagonismo das Pessoas com Deficiência nas Produções Culturais no Meio Digital, transmitido em dezembro de 2020. Participaram a diretora e dramaturga Cintia Alves, o dançarino e professor da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Edu O., e a criadora e coordenadora do Projeto de Recursos de Acessibilidade para as produções culturais do Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural da Unicamp (Ciddic) Nicole Somera. Assista: www.youtube.com/watch?v=ICzvDc59b5Y.