Postado em 30/04/2021
Jornadas curtas começam com um pé em falso.
Sua estrada para o ostracismo será suave, mas frustrante.
Seja mais irresponsável que um floco de neve durante uma avalanche.
O grande amor da sua vida vai entrar e sair por aquela porta.
Seus números da sorte são 0, 00, 000 e 0000.
Ei, não vai me engolir!
Quão raso é um oceano sem areia?
A impaciência é doce, mas sua semente é amarga.
Logo você será humilhado por alguém que você despreza.
O que achou do nosso Rato à Pequim?
A próxima lua nova trará uma noite desastrosa.
É mais difícil desistir no fim do que no começo.
Tem uma mancha de frango xadrez na sua camisa.
Quão pequeno é o céu visto do fundo de um poço!
Embebido em coronavírus.
Um serial killer em breve entrará em contato com você.
Uma viagem adiada esvaziará a sua vida com amnésias incalculáveis.
As pessoas sentem uma repulsa natural de você.
Um cético é só um pessimista de sucesso.
Não sorria! Coisas chatíssimas podem acontecer se você acreditar.
Todo mundo neste restaurante gostaria de não ser você.
Desfaça as malas: você está prestes a ficar no mesmo lugar.
Continue não sendo você.
Apresente hoje suas piores ideias a uma plateia hostil e desinteressada.
Um pesadelo que você teve vai acontecer.
Impressionante como você só faz o mal se tiver certeza de que vai levar o crédito.
Há um pequeno ódio em seu passado.
As pessoas vão achar a sua ausência inspiradora.
Traia todos os seus pesadelos de velhice.
Seja mais pessimista: há muitas coisas ainda para deixar de realizar.
Sou só um biscoito, não o Exército da Salvação.
Desculpe pelo cianeto no Chop Suey.
Sempre deixe as coisas pela m
Há a visão de que a poesia deva melhorar sua vida.
Acho que as pessoas a confundem com o Exército de Salvação.
John Ashbery
Seja esperto o bastante para achar
que você é incapaz daquilo que não quer.
Basta uma boa dose de desesperança
(de desconfiança em si mesmo)
e outra de covardia
pra que você alcance
só aquilo que não desejar.
A falta de sorte
ajuda os covardes.
A grama do vizinho sempre parece
mais seca.
Não há fórmula mágica para o fracasso: ele é
resultado de desleixo, preguiça e de jamais aprender
com os acertos.
Desista.
Pare por aqui: não há menor chance de você
tropeçar em algo maravilhoso.
Levante-se sete vezes. E caia oito.
Vá firme rumo à sua falta de metas, pois,
você sabe, o pensamento destrói,
a falta de desejo repulsa, e a falta de fé pulveriza.
Pense assim: que a descrença que me habita
seja fraca o bastante para vencer
o entusiasmo e a alegria que me rondam.
Se você está feliz com alguma coisa,
não faça nada: você é uma árvore.
A inação pode dar prazer
mas conduz, por descaminhos, a algo pior.
Deixe o silêncio da plateia vazia repercutir
sua própria mudez interior.
Não viva só do que não faz sentido.
Viva do que te faz infeliz.
Tudo o que a realidade precisa para ser sonhada
é alguém que duvide que ela possa sequer ser sonhada.
A renúncia é o pai do azar.
Imagine uma história batida para sua vida e duvide dela.
Todos recusam o inodoro das flores, mas muitos limpam as suas mãos para destruí-las.
Junto com o fracasso virá uma reputação de ignorante.
O segredo é descuidar do jardim, para que as borboletas
não venham até você.
Minta sempre. É o jeito mais fácil de esquecer.
A melhor maneira de superar os momentos de alegria
é focando no que existe de negativo e trágico em sua vida.
Não saia da sua zona de desconforto.
A desistência não é uma corrida longa:
ela é muitas corridas curtas, uma atrás da outra.
Ânimo nenhum pode ser maior
do que a vontade de ser infeliz e naufragar.
Seja sempre obscuro.
Mas que sua obscuridade não seja motivo
para agradar os outros.
As frases mais feias de amor
são caladas na eloquência de dois olhos fechados.
O fracasso nunca termina.
Rodrigo Garcia Lopes é poeta, romancista, tradutor, compositor, ensaísta e jornalista. Publicou os livros de poesia Solarium (1994), Visibilia (1997), Polivox (2002), Nômada (2004), Estúdio Realidade (2013), Experiências Extraordinárias (2015) e O Enigma das Ondas (Iluminuras, 2020). É autor do romance policial O Trovador, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura de 2015.