Postado em 03/06/2021
Canta Emicida, no verso da música “Principia” em seu premiado álbum “AmarElo”. Talvez nem todos saibam, mas Emicida bebeu na Física para fazer a obra, na qual criou metáforas com as famosas leis de Isaac Newton sobre corpos e culturas humanas.
Para além da genialidade do rapper, a música nos traz um sentimento de força. Vontade de sacudir a poeira, de se juntar com outras pessoas e recomeçar. Sentimentos importantes de serem cultivados, passado quase um ano e meio do absurdo, de tantas tristezas e perdas.
A partir dessa habilidade, quase uma vocação do povo brasileiro, de olhar para a frente, te convidamos a pensar sobre a capacidade do ser humano de questionar ideias já estabelecidas e de se reinventar. Porque o verdadeiro valor está nas pessoas e as melhores soluções para a nossa sociedade surgem de quem está na base, de quem vive o problema da desigualdade social na pele, criando arranjos mais inclusivos e solidários para todo mundo.
O futuro é coletivo, solidário e criativo. A própria natureza nos mostra que a cooperação e a adaptação são essenciais à sobrevivência de tudo e todos. E nós, seres humanos, tivemos que sair do pedestal do individualismo e de nossa zona de conforto, percebendo com mais clareza, desde 2020, como e quão profundamente somos interdependentes uns dos outros.
É, Emicida, “tudo que nós têm é nós”.
#descriçãodaimagem #pratodesverem #pracegover
Descrição da imagem. Foto colorida na horizontal. A imagem mostra cachos de bananas verdes no primeiro plano, e algumas hortaliças ao fundo desfocado. Fim da Descrição.
A pandemia trouxe enormes desafios: físicos, mentais, espirituais e financeiros. Aqueles que puderam, se isolaram. Cada um em sua casa, afastado dos convívios sociais. Muitos nem isso. O distanciamento social nunca foi uma opção viável diante da ausência de uma fonte de geração de renda. Famílias inteiras se viram – e ainda estão – em becos onde a saída encontrada passa pela criatividade e o esforço conjunto.
Em Bertioga, a Feira Saberes e Sabores, antes realizada semanalmente no Sesc, reunia produtores artesanais e agricultores familiares de Bertioga, Guarujá, Biritiba Mirim e Mogi das Cruzes, e levava possibilidade de alimento fresco e saboroso para a comunidade e também aos hóspedes do Centro de Férias. Com o avanço da pandemia e o fechamento das unidades do Sesc, o grupo se viu diante de um cenário inédito. Era preciso digerir e entender, com o mínimo de paz, o que estava acontecendo, experimentar ideias e encontrar novas formas de se organizar e continuar o trabalho.
“Resumo do plano é baixo, pequeno e mundano.
Sujo, inferno e veneno.
Frio, inverno e sereno.
Repressão e regressão.
Angústia é eu ter calma e a vida escada. T
ento ler almas pra além da pressão.”
Então, passado o susto inicial e depois de muitos encontros, fundaram o Coletivo Banana Verde, grupo de agricultores familiares, pequenos produtores de alimentos artesanais e consumidores de Bertioga e região, que desde então colaboram na construção de uma nova economia local a partir da compra e venda de produtos através de um formulário on-line e entrega em casa.
Na lista podemos comprar ovos de galinhas que vivem soltas e felizes no quintal; pães artesanais feitos com farinha e altas doses de carinho; desfrutarmos de geleias, pastas e patês; queijos, legumes, frutas e verduras, tudo orgânico. No formulário não constam os recadinhos personalizados que os consumidores recebem, muitos deles colados nas geladeiras ou postados nas redes sociais de quem precisava de alimentos, mas também de afeto, neste momento tão louco. Também não encontramos a palavra compaixão entre um produto e outro, mas a realizamos a partir do "Germinar Afetos", iniciativa do coletivo que nos permite realizar doações de cestas de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade.
É comida afetiva, de casa, que vem para as nossas e tantas outras casas.
Acompanhe o lançamento do web-documentário Coletivo Banana Verde no dia 5/6:
Assim como seus produtos finais, é de forma orgânica que essa iniciativa une o fazer coletivo à preocupação com o meio ambiente – uma ação local de trato e benefício comum, que reverbera os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), um guia para os países se comprometerem com o desenvolvimento social, proteção ambiental e crescimento econômico. São 17 objetivos e indicadores mundiais que compõem uma agenda global para 2030. Você pode ver os indicadores que foram adaptados à realidade brasileira aqui: https://odsbrasil.gov.br.
O Coletivo Banana Verde, por exemplo, contribui para concretizar o Objetivo número 2: Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. O trabalho dos agricultores tem respeito aos ciclos da natureza, aos tempos das secas, chuvas e aos tempos de cada pessoa. Agricultura que faz bem para o solo, para a água, para quem planta e para quem come. A ação do coletivo se relaciona também ao ODS 12: Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis, ao estimular o consumo e escolhas conscientes.
#descriçãodaimagem #pratodesverem #pracegover
Descrição da imagem. Foto colorida na horizontal tira em uma rua. A imagem mostra no primeiro plano um homem moreno, com cabelos curtos cacheados, usando uma máscara e vestindo uma camiseta com o logo da cooperativa. Ele recolhe três sacos com resíduos de uma cesta de ferro. Logo atrás dele, está um caminhão com um gradil e, dentro dele, alguns resíduos. Ao fundo algumas casas, postes e carros. Fim da Descrição.
Outra iniciativa, também em Bertioga, se relaciona com o ODS 12, assim como com o ODS 8: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável.
A Cooperativa de Triagem de Sucatas União de Bertioga (COORB) surgiu a partir do sonho do Senhor Clóves, que, além de precisar trabalhar, não suportava ver tanto lixo jogado nas ruas e valas pelas quais passava diariamente e então resolveu agir por si. Um dia, levava para sua casa uma geladeira velha, outro dia umas garrafas... o intuito inicial era tirar um pouco dos resíduos que encontrava no caminho, minimizando seus impactos no meio ambiente. Até que depois de um tempo, viu no fundo de seu quintal um grupo de pessoas reunidas a partir de seu propósito e, ao mesmo tempo, tiravam o sustento de suas famílias a partir da coleta de recicláveis na cidade.
Em meio à crise, essas pessoas também se adaptaram à realidade que tinham e hoje contribuem para a cidade, não apenas com o cuidado com rios e oceanos, mas também por meio da destinação mais justa dos resíduos. Seu feito maior foi despertar na comunidade o senso de responsabilidade pessoal na destinação qualificada de seus resíduos, bem como oferecer a ela melhores condições para acompanhar e cobrar ações do poder público destinadas para esse setor, pois a partir de suas realizações mostraram que, com querer, trabalho e coragem, muita coisa é possível.
Acompanhe o lançamento do web-documentário Cooperativa de Triagem de Sucatas União de Bertioga (COORB) no dia 11/6:
“Simbora que o tempo é rei. Vive agora não há depois.
Ser tempo da paz como um cais que vigora nos maus lençóis.
É um dois um dois conjunto playboy como monge sois.
Fonte como sóis, num front sem bois, forte como nós
Lembra a rua é nós.”
Estes dois projetos foram organizados por coletivos de pessoas de Bertioga, que uniram a falta de oportunidade, a necessidade de trabalhar e a indignação com o descaso sobre o meio ambiente, e criaram juntos novas formas do fazer produtivo e coletivo, deram origem a uma série de minidocumentários que apresentaremos a seguir.
Principia vem do verbo principiar. O mesmo que: começa, debuta, estreia, inaugura, inicia. Que essas e outras ideias e ações nos permitam principiar uma nova era na qual a intolerância e o individualismo percam para o bem comum.
E, olha, mesmo quando tudo nos faltar, lembremos daquilo que inspirou Isaac Newton em seu livro, e depois Emicida em seu som: Todo corpo altera/impacta o destino do outro. Tudo no Universo nos afeta.
“Tudo, tudo, tudo tudo Que nóiz têm é nóiz Tudo, tudo, tudo Que nóiz tem é...”
Texto escrito coletivamente por Marcela Oliveira, Séfora Tognolo e Claudio Eduardo, funcionários do Sesc Bertioga, com trechos de Principia, música de Emicida.