Postado em 09/03/2011
por Cecilia Prada
A associação imediata que se faz, quando se fala em “história em quadrinhos”, é com as múltiplas expressões de uma arte sequenciada, vistosa e colorida, predominantemente destinada ao público infantil e juvenil e que invade o mundo contemporâneo, presente em numerosas manifestações, das artes plásticas ao cinema, da literatura ao desenho gráfico comercial – transformada quase, diríamos, em signo do up-to-date, da contemporaneidade.
Como tal, suas origens e primeiras manifestações são em geral definidas como florescentes em meados do século 19, na Europa e na América. Uma simplificação, sem dúvida. Porque variadas manifestações de arte sequencial podem ser registradas em toda a história da humanidade – desde a pré-história. Nossos protoavós, mal atingida a condição de Homo sapiens, já rabiscavam cavernas para representar, por meio de desenhos, suas crenças e temores, o mundo ao redor. Da simples imagem-registro evoluiu naturalmente o desejo do sequenciamento – de contar, como pode ser visto nas grutas de Lascaux, na França, ou de Altamira, na Espanha, peripécias de caçadas ou eventos tribais em que surge a essencial representação do tempo em que a ação decorre e das modificações que a sua passagem acarreta no fato a ser descrito ou pintado.
Esse mesmo desejo de sequenciamento (de contar a “historinha”) está presente na arte mural e hieroglífica do antigo Egito; nos baixos-relevos romanos que descreviam os feitos heroicos de seus generais sob arcos e colunas triunfais; nas ilustrações xilográficas da Bíblia; nas tapeçarias medievais e nos retábulos que nas igrejas contavam aos fiéis, em pequenos quadros sucessivos, as peripécias das vidas dos santos – tanto na pintura sacra de um Giotto como na profana e satírica de Bosch. Transposta para outras artes, essa técnica nos deu – para citar um exemplo, apenas – o admirável “Retábulo de Santa Joana Carolina”, do escritor brasileiro Osman Lins (1924-1978), um dos mais belos contos da literatura em língua portuguesa.
Entretanto, foi somente com o desenvolvimento da imprensa, na segunda metade do século 19, que as HQ, evoluindo a partir da charge e da sátira política, passaram a ocupar posto quase obrigatório em revistas e jornais. No decorrer do século 20, à medida que as tecnologias da comunicação iam se aperfeiçoando e incorporando procedimentos vindos de outros setores artísticos, as HQ iam se impondo cada vez mais e provocando o entusiasmo das massas, recebendo nomes diferentes segundo a região de que provinham: “comics” nos Estados Unidos, “bandes dessinées” na França, “fumetti” na Itália, “tebeos” na Espanha, “historietas” na Argentina, “muñequitos” em Cuba, “mangás” no Japão. Em língua portuguesa: “histórias aos quadradinhos”, em Portugal, e “histórias em quadrinhos” e “gibis”, no Brasil.
Como designação genérica tem sido chamada de “a nona arte” – que vem se juntar às seis ditas “clássicas”, acrescidas, no século passado, do cinema e da televisão. A “arte sequencial” foi definida por um dos expoentes dos quadrinhos, Will Eisner (1917-2005), como “o arranjo de fotos ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia”. Hoje, com a interação cotidiana de novas formas de arte e de processos de comunicação, sua expansão atinge também um grande contingente de adultos, principalmente por meio das graphic novels, perfeitamente adequadas para a adaptação e a divulgação da obra dos mais sofisticados escritores clássicos, de Dostoievski a Kafka. Muitas delas têm felizes versões para televisão, teatro e cinema, como exemplifica o espetáculo Avenida Dropsie, tirado de histórias de Will Eisner passadas no Bronx e que teve temporadas de muito sucesso em 2005 e em 2009 no Teatro do Sesi de São Paulo e em turnê por outras capitais.
Sinal do prestígio do gênero foi, por exemplo, a concessão de um Prêmio Pulitzer Especial, em 1992, ao livro And Here My Troubles Began (volume 2 da série “Maus”), de Art Spiegelman, que conta a história de como seus pais sobreviveram ao Holocausto. O quadrinista está atualmente incluído em uma lista das cem pessoas mais influentes do mundo e tem destacada atuação política em âmbito internacional.
Marcos significativos
O mais antigo registro da adoção das HQ como gênero aparece quando o artista gráfico e escritor suíço Rodolphe Töpffer (1799-1846) cria, em 1827, o livro Les Amours de Monsieur Vieux Bois, que em 1842 já aparecia editado também nos Estados Unidos. Dizia Töpffer: “Há duas maneiras de escrever histórias: uma, em capítulos, linhas e palavras, e a isso chamamos literatura; ou, alternativamente, por uma sucessão de ilustrações, e a isso chamamos história ilustrada”. Segundo ele, por ser conciso e claro, esse tipo de história poderia dirigir-se com mais agilidade a um número maior de leitores e acabaria levando vantagem sobre “os que falam por capítulos”.
Outros pioneiros foram Wilhelm Busch (1832-1908), com Max and Moritz, de 1865 – livro traduzido por Olavo Bilac com o título de Juca e Chico – História de Dois Meninos em Sete Travessuras –, e Christophe (pseudônimo de Georges Colomb, 1856-1945), com La Famille Fenouillard, cujos primeiros capítulos foram publicados em 1889. Há também quem veja nas séries de ilustrações eróticas do inglês Thomas Rowlandson (1756-1827) características que o incluiriam entre os precursores do gênero. Todos esses artistas aliavam qualidades literárias ao desenho e, frequentemente, mostravam situações cômicas. As histórias mais antigas apresentam desenhos divididos em quadros acompanhados de legendas que complementam as ações.
Lugar destacado entre os primeiros nomes da HQ em âmbito mundial, porém, é ocupado por Angelo Agostini (1843-1910), jornalista e desenhista nascido na Itália que desenvolveu toda a sua carreira em nosso país, terminando por se naturalizar brasileiro (ver Problemas Brasileiros nº 400). Ele introduziu nas revistas da época os desenhos de sátira política e social e em 1869 lançou pioneiramente histórias em quadrinhos com personagens populares, Zé Caipora e Nhô-Quim, mantidas até 1898. Em 1905 Agostini participou da criação da revista infantil “O Tico-Tico”, considerada a primeira do gênero no Brasil, e que duraria mais de 50 anos, contando com os melhores chargistas e quadrinistas do país.
Nos Estados Unidos, “The Yellow Kid”, criada em 1896 por Richard Fenton Outcault (1863-1928), é considerada a primeira história em quadrinhos do país. Ela introduziu um elemento essencial, nunca mais abandonado: o “balão” com as falas dos personagens. Se nas primeiras décadas as HQ americanas eram essencialmente humorísticas (donde seu nome, comics), a partir de 1929, mudado o panorama do país pela Grande Depressão, o gênero cresceu em importância, invadindo o campo das aventuras. Iniciava-se a era dos “heróis”, de feitio épico – para compensar, no imaginário popular, as agruras da histórica crise. As figuras emblemáticas de Tarzan, Flash Gordon, Dick Tracy, Mandrake e Super-Homem começaram a atopetar bancas de jornais e livrarias, dotadas de um poder de comunicação com as massas sem precedentes.
Dali por diante espalharam-se os quadrinhos americanos pelo mundo, em décadas sucessivas, até se defrontarem com a concorrência dos mangás japoneses, e aos poucos as duas vertentes foram deixando em segundo plano, embora inesquecidos, alguns personagens europeus, como os belgas Tintim e Smurfs, ou os impagáveis franceses da série “Asterix”. Na década de 1970 chega aos Estados Unidos uma revista francesa de muito sucesso, “Métal Hurlant”, (“Heavy Metal”), criada pelo grupo Les Humanoïdes Associés (Moebius, Druillet, Dionnet e Farkas), que abrilhanta o gênero com suas criações mistas de viagens psicodélicas, corpos nus, novas diagramações e literatura. A Itália foi também produtora tradicional de quadrinhos famosos desde a época das fotonovelas sentimentais, e nos anos 1970 fez sucesso com “Ken Parker”, de Berardi e Milazzo, e “Corto Maltese”, de Milo Manara, entre outros.
Super-heróis machos
Nas décadas de 1940 e 50, as HQ começaram a sofrer pesadas críticas de educadores, tanto por seu conteúdo como por sua forma – os gibis eram vistos por muitos como uma forma “preguiçosa” de leitura, que não estimulava o pensamento abstrato, a reflexão, como faziam os livros “normais”. Um psiquiatra alemão-americano, Fredric Wertham, lançou um livro de 400 páginas, Seduction of the Innocent (“Sedução do Inocente”), denunciando as HQ como incentivadoras da violência e da delinquência juvenil e descobrindo ideias sadomasoquistas na personagem da Mulher-Maravilha, bem como o homossexualismo implícito no relacionamento de Batman e Robin. Nos Estados Unidos, moralistas se ergueram para exigir a criação de um código de ética aplicável às HQ, no mesmo estilo do usado pela famosa Legião da Decência para censurar as produções hollywoodianas. Seguiu-se uma verdadeira caça às bruxas, tanto nos Estados Unidos como em outros países em que o gênero já estava muito difundido, como o Brasil, registrando-se nas duas décadas seguintes um acentuado decréscimo na criatividade das produções do gênero.
A censura perdeu força, porém, quando durante a 2ª Guerra Mundial os super-heróis foram compulsoriamente recrutados pelo próprio presidente Franklin Delano Roosevelt para o esforço de guerra, e os quadrinhos se tornaram armas ideológicas para elevar o moral das tropas e dos civis. O maior ícone desse período foi o Capitão América, criado especificamente para a ocasião como Sentinela da Liberdade, em aventuras secundadas por um pequeno cortejo de figuras femininas idealizadas de acordo com os padrões machistas usuais, como a Miss América. Durante o longo período da Guerra Fria, processou-se uma ressurreição dos super-heróis, empenhados também compulsoriamente no combate aos comunistas comedores de criancinhas e na difusão do American way of life.
Em 1950, surgia nos jornais uma tira chamada “Peanuts”, série criada por Charles Schulz, cujo principal personagem, Charlie Brown, com seu cão Snoopy, um beagle filósofo, marcou o início da chamada “era intelectual dos quadrinhos”, caracterizada por uma valorização maior do texto em relação às ilustrações. Na década de 1960, autores underground como Robert Crumb e numerosos colaboradores de um gibi artesanal, “Zap Comix”, começaram a vender nas esquinas quadrinhos extremamente criativos e inteligentes, que acabariam por mudar completamente o cenário do gênero, enriquecido de conteúdo intelectual, de crítica social e de combate à paranoia anticomunista que grassava nos Estados Unidos. Em plena era hippie, seus trabalhos tornaram-se sinônimo de anticonformismo e do espírito de 1968, espalhando-se pelo mundo. Bastante conhecido no Brasil, Crumb teve quadrinhos publicados recentemente no país pela revista “Piauí”.
E suas parceiras debiloides
Por sua própria natureza, pelo poder de representação que detêm, incorporando elementos visuais e intelectuais de outras artes, pela variedade de temas de que tratam em um número notável de países, as HQ são tomadas como o meio de avaliação por excelência da realidade político-social-ideológica do mundo e do conteúdo ilimitado do imaginário humano. Campo privilegiado, portanto, para se proceder a um exame da representação feminina na realidade do mundo contemporâneo e de como a figura da mulher tem evoluído no imaginário masculino, em todos os lugares – visto que até recentemente a arte das HQ constituía feudo privilegiado de desenhistas homens.
A crítica feminista que tem se desenvolvido sistematicamente pelo menos desde os anos 1960/70 – com antecessoras no século 19 e um expoente como Virginia Woolf nas décadas de 1920/30 – já fez um inventário aprofundado da “personagem feminina” na literatura, “construída e produzida no registro masculino, [e que] não coincide com a mulher”, como afirma Ruth Silviano Brandão no livro A Mulher Escrita (Milman/Casa Maria, 1989). A idealização de um ser sublime, que se submetia dulçoroso a todas as renúncias e abnegações, “companheira do homem”, “anjo do lar” etc., teve sempre como contrapartida a demonização da “mulher decaída”, “anjo do mal”, “vamp sedutora”, enfim, Eva-Pandora que acarretara todos os males do mundo. No amontoado de clichês e falsidades, a civilização masculina insistiu – e de certo modo faz isso até hoje – em desconhecer aquele “continente negro”, aquele “outro lado da Lua”, como repetia o mago da psicanálise Sigmund Freud, e que é, simplesmente, a mulher.
No campo das HQ, a criação de tiras e de revistas esteve quase integralmente a cargo de homens, em vários países ocidentais, inclusive o Brasil, até pelo menos a década de 1970, como podemos ver em artigo disponível na internet, de uma especialista, a professora doutora Sonia Luyten, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). No Japão, embora desde 1953 já existisse o shojo mangá, dirigido especificamente a meninas, criado pelo maior desenhista do país, Osamu Tezuka, o conteúdo até recentemente foi fiel à idealização da “menina boazinha”, que se transformaria obrigatoriamente na figura estereotipada da “boa esposa/mãe sábia”.
Outra tese, “Representações Femininas nas Histórias em Quadrinhos da Ebal”, da professora mineira Natania A. Silva Nogueira, desmistifica as heroínas tradicionais do gênero, como Mulher-Maravilha (Miss América), Supermoça e Batmoça (ou Mulher Morcego). Diz Natania Silva: “Mesmo nos quadrinhos de super-heróis as mulheres sofrem preconceitos. Por anos a fio, foram retratadas ora como mocinhas indefesas que precisavam de heróis para salvá-las, ora como vilãs sem moral, que provocam os heróis virtuosos. Nos dois casos sempre saem perdendo, seja pela dependência que desenvolvem em relação ao homem, seja por suas ações imorais, suas roupas decotadas, sua falta de pudor ao desfilar sua feminilidade – ou pelo menos aquilo que os autores transformaram em feminilidade”.
As parceiras criadas para os super-heróis representam no imaginário americano do tempo da 2ª Guerra Mundial duas coisas: o ideal amazônico de uma supermulher como Miss América, “a mulher mais poderosa e atraente dos tempos modernos”, e o exemplo que deveria influenciar o esforço feminino de guerra, pois ela era também “a jovem que renunciou à sua herança de paz e felicidade para ajudar a América a lutar contra o mal e a agressão”. Quando, porém, após a vitória contra o Eixo, os homens voltam para suas profissões, a heroína aceita seu título de ex-heroína e se recolhe, humilde, às posições de esposa e mãe que ocupava antes, ficando menos inteligente e cuidando mais de sua aparência física. Como diz Natania Silva, “nas aventuras da Liga da Justiça, por exemplo, até cafezinho foi obrigada a servir”.
Outro aspecto curioso das heroínas fabricadas às pressas: na maior parte dos casos pareciam representar um verdadeiro “estorvo” que o machão triunfante era obrigado a carregar perto de si, pois sempre nos momentos culminantes atrapalhavam sua ação por algum motivo frívolo, como arrumar a máscara (Mulher Morcego, em história da Ebal de 1969), verificar o desfiado na meia ou retocar a maquiagem. Isso quando não tentavam conscientemente, por inveja, derrubar o mito do super-herói, como a Batmoça.
Peripécias brasileiras
Ao contrário do que acontecia nos anos 1940, quando foram inclusive condenadas oficialmente pelo nosso Ministério da Educação, atualmente as HQ desempenham importante papel na educação das crianças, preparando-as inclusive para leituras mais sérias. Como diz outra pesquisadora da ECA, Valéria Aparecida Bari, na tese “O Potencial das Histórias em Quadrinhos na Formação de Leitores: Busca de um Contraponto entre os Panoramas Culturais Brasileiro e Europeu”: “Afinal, é preciso lembrar que a formação do leitor só chega ao amadurecimento se a pessoa gostar de ler. O vínculo emocional é um elemento fundamental. Nesse sentido, as histórias em quadrinhos, além da facilidade de mostrar conteúdos complexos para leitores iniciantes, também amadurecem a relação emocional entre o leitor e sua leitura”.
Em matéria publicada na edição 368, Problemas Brasileiros apresentou o que foi, no Brasil, a batalha editorial e ideológica de que o especialista Gonçalo Junior se ocupou extensamente no livro A Guerra dos Gibis – A Formação do Mercado Editorial Brasileiro e a Censura aos Quadrinhos, 1933-64 (Companhia das Letras, 2004). Ele focalizou o papel primordial desempenhado pelo jornalista e editor Adolfo Aizen, fundador da Ebal (Editora Brasil-América), a qual se manteve desde sua criação, em 1945, até a década de 1970 como a principal empresa de publicação de revistas de HQ. De 1934 ao ano de sua morte, 1991, Aizen esteve empenhado em demonstrar o grande potencial educativo do gênero e chegou a publicar adaptações de obras literárias e de livros de história do Brasil, quadrinizados por artistas importantes, nacionais e estrangeiros.
Como criador de quadrinhos e historiador, Gonçalo Junior continua em primeiro plano, dando prosseguimento a suas pesquisas, e acaba de lançar mais uma obra fundamental tanto para os aficionados do gênero como para o público geral, por abordar fatos históricos: é um respeitável volume de 500 páginas com título curioso, Maria Erótica e o Clamor do Sexo – Imprensa, Pornografia, Comunismo e Censura na Ditadura Militar (1964-1985), a continuação de sua obra anterior, em edição da Peixe Grande.
A obra é rica em detalhes, resultado de anos de entrevistas e de pesquisa em arquivos de editoras, artistas e editores. Em entrevista concedida ao jornalista Pedro Brandt no “Correio Braziliense” de 29 de agosto de 2010, Gonçalo descreve a repressão ao gênero pelos militares: “O sexo era considerado uma coisa subversiva, uma ferramenta dos comunistas para destruir a família e permitir a entrada do comunismo no Brasil. Além das editoras pequenas, me refiro às grandes, como Abril, Bloch, Editora Três, que lançaram ‘Playboy’, ‘Status’ e ‘Ele & Ela’, e também sofreram censura”. Ele pesquisou no próprio arquivo do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo sobre as perseguições sofridas pelos quadrinistas e em 2006 entrevistou o artista Paulo Fukue, que foi preso e torturado juntamente com Marcílio Valenciano, um dos donos da editora Edrel, sob acusação de publicarem um texto comunista. Diz ainda o autor: “Minami Keizi, da Edrel, guardou mais de 300 documentos, cartas que ele mandou e recebeu da censura [...] Foi perseguido durante sete anos e teve 28 títulos censurados, o que o levou à falência”.
Um dos artistas mais perseguidos pela ditadura foi o cartunista, quadrinista, jornalista e escritor Henfil (Henrique de Souza Filho, 1944-1988), que iniciou sua carreira em 1964. Criador do personagem Fradim – seu porta-voz contra o regime militar e a censura –, Henfil teve destacada atuação em movimentos sociais e políticos brasileiros.
Desde a década de 1970 um outro artista nacional, Mauricio de Sousa, deu início à produção de HQ com os personagens da Turma da Mônica, que se mantêm até hoje à frente no gênero infanto-juvenil, no Brasil e em numerosos outros países. Mauricio começou a vida profissional como repórter policial, na “Folha da Manhã”, mas em 1959 já resolvera ser somente artista e começou a vender suas “tiras” de quadrinhos para jornais. Teve sempre um espírito prático e conseguiu em dez anos montar um sistema de distribuição para seus trabalhos que abrangia 200 periódicos. Em 1963 criou seu personagem mais famoso, a Mônica, cuja revistinha, lançada em 1970, atingiria logo uma tiragem nacional de 200 mil exemplares. Dali por diante foi expandindo para outros setores sua produção – livros, série de revistas, filmes, criação de parques de diversões infantis –, e sua firma, bem como os personagens da Turma da Mônica, continuam até hoje uma trajetória privilegiada, derrotando até a concorrência, que era temida, dos famosos mangás japoneses.
Devido ao grande desenvolvimento que as HQ tiveram entre nós não é possível inventariar todo o imenso acervo de que dispomos historicamente, e que a cada dia cresce, de desenhistas e autores brasileiros prestigiados, aqui e no exterior. A capital mineira, Belo Horizonte, tem-se revelado como o maior polo nacional para eventos ligados à nona arte. Desde 1997 passou a abrigar a Bienal Internacional de Quadrinhos, que foi substituída a partir de 1999 pelo Festival Internacional de Quadrinhos, mais capaz de atender à demanda de um evento que reproduzisse o dinamismo contínuo da criação do gênero entre nós.