Postado em 08/11/2010
Eu não gosto de perfume. Meu sabonete é neutro, meu creme de corpo inodoro e meu desodorante sem perfume. O máximo que me permito é um xampu com leve aroma de erva doce.
Tenho convivido, desde o início de 2010, com cheiros de poeira, tinta, solda, cola de carpete, poeiras de todos os tipos, espessuras e texturas.
Há também partículas de gesso lixado pairando pelo ar, madeiras aparadas, pregos e parafusos, batalhões de operários frenéticos esticando quilômetros de fios de energia elétrica, cabos de computador e telefonia, fiação de áudio, instalação de equipamentos de cozinha e odontologia, sofás, pufes, bancos, mesas e mais uma infinidade de máquinas.
Aqui tem início nosso compromisso com a transformação social. Transformação de uma região, que se fosse uma cidade – segundo informações recentes – seria a terceira cidade mais povoada do Brasil, e, em função desse dado, nosso comprometimento se torna muito maior com o nosso entorno, com a população que mora na vizinhança e também que se desloca por todo o corredor da Radial Leste, indo e vindo do trabalho para casa.
Das lajes ainda abertas da obra cansamos de ver pequenas casas residenciais serem reformadas, estabelecimentos comerciais ganharem nova vida, só com a perspectiva de receber o movimento que virá. Vimos também o chamado progresso transformando a paisagem com empreendimentos imobiliários e grandes torres residenciais sendo erguidas.
É um novo começo espelhando o que já aconteceu com a região do Sesc Vila Mariana, Santo André, Santana, Pinheiros e o que acontecerá com as futuras Unidades de Santo Amaro, Bom Retiro e tantas outras que virão.
Nós, que estamos aqui com todos esses cheiros há meses, não vemos a hora de ter a população se apropriando de todos os espaços. Crianças, idosos, jovens e adultos ocupando o que por anos está sendo construído com intenso carinho para ser presente para a coletividade.
Presente para a população da Zona Leste e toda a queridíssima São Paulo. O pressuposto do arquiteto previu uma grande praça para o convívio, simplesmente. O sol do início da manhã e do fim da tarde, o “dolce farniente”, a paquera, a leitura à sombra de uma árvore, isso tudo é parte do nosso presente, mas, temos certeza, já faz parte do futuro.
A instalação do Sesc Belenzinho, a mais nova unidade do Sesc na cidade de São Paulo, vem precedida da experiência da entidade em ocupar espaços físicos e de políticas públicas voltadas ao interesse não só do trabalhador do comércio de bens e serviços, mas de toda a população que, segundo pesquisa recente publicada no jornal Folha de S.Paulo, “gostaria que sua cidade tivesse mais espaços para atividades culturais”.
Antecipando o desejo dessa população, já se avista do topo de um dos prédios mais altos do centro da cidade, o Terraço Itália, um pontinho vermelho e branco – é o nosso mais novo prédio, cheio de suor de gente dedicada: Cláudias, Josués, Mários, Edis, Anas, Níveas, Andressas, Alessandras, Antonios, Ricardos, Zés, Celinas e mais uma infinidade de anônimos a quem dedicamos mais um centro de atividades.
Dedico o suor da minha jornada para que o Sesc continue a oferecer por mais 64 anos x 1.000 os nossos novos cheiros, a partir de 4 de dezembro. Tenho certeza de que esses cheiros agora oferecidos, de teatro, alimentação saudável, circo, educação informal, piscina, música, futebol, odontologia, ginástica e ocupação do tempo livre no caminho da melhoria da qualidade de vida e, sobretudo, da cidadania, jamais me trarão problemas alérgicos.