Postado em 22/01/2011
Adote uma chuteira, ou um tênis, sapatilha, bicicleta, raquete, traje de banho, bola, sabre, aparelho de ginástica, cavalo, barco, arco e flecha, patins, halteres; saia para a rua, vá a uma montanha, uma praia, venha ao Sesc, procure uma quadra, uma pista de atletismo, um parque da sua cidade.
A lista é grande e é difícil esgotá-la. Não importa o que, onde, se sozinho ou em grupo. Escolha o que lhe dá prazer, de acordo com suas habilidades e possibilidades. O senso comum aponta a falta de tempo como empecilho para a prática esportiva regular, mesmo admitindo o seu grande valor para a saúde e para a qualidade de vida. Há um consenso bem próximo da unanimidade sobre os benefícios para a saúde física e psicológica decorrentes das práticas corporais.
Eu aprendi uma vez e procuro incorporar aos meus hábitos que se gastamos diariamente, em média, sete horas dormindo, uma hora e meia nos alimentando e oito horas trabalhando, podemos nos reorganizar para dispensarmos duas horas, POR SEMANA, para nos exercitarmos por meio do esporte.
Desde criança o esporte esteve presente na minha vida, estimulado pela rua de terra onde morava e por uma boa experiência nas aulas de Educação Física. Fui atleta de algumas modalidades quando jovem e, atualmente, faço parte de um grupo que joga basquetebol no Parque do Ibirapuera, a um custo zero. Nesse grupo, há três sexagenários, um septuagenário, mesclado sempre com qualquer jovem interessado em jogar.
De minha parte, já estou, digamos, com um pé na fila de atendimento preferencial, mas ainda sinto enorme prazer, não só pelo esforço físico, mas, sobretudo, pela competição e pelo convívio com o grupo. E ao contrário do que muita gente pensa, o esporte como recreação não exige uma habilidade técnica avançada.
O Sesc reservou para o programa Sesc Verão deste ano o esporte como tema, respeitando uma pedagogia voltada para o aprendizado e a recreação, e entende o esporte como conteúdo e não como um fim em si mesmo, um pouco em oposição à ideia de esporte que a Educação Física escolar, em grande parte das vezes, promove e na qual os mais hábeis são privilegiados, reproduzindo um modelo focado no desempenho de alto nível.
Os resultados advindos desse equívoco comprometem a continuidade da prática além do tempo escolar.
E prepare-se: de agora até 2016, com a realização seguida da Copa do Mundo de Futebol e dos Jogos Olímpicos (os únicos precedentes históricos foram na Alemanha, em 72 e 74, e nos Estados Unidos, em 94 e 96), seremos bombardeados com todo tipo de propaganda, de informação e de programas esportivos, à quase exaustão.
A boa notícia é que certamente haverá um aumento significativo do número de praticantes, que, espera-se, aproveitem o apelo do momento e o transforme em hábito saudável.
Por outro lado, há uma tendência mundial de incremento das atividades artísticas de um modo geral, não em detrimento do esporte, mas como fenômeno social. Explico: no decorrer do último século os esportes se prestaram, com louvor, à difusão de valores sociais inerentes ao modelo de produção industrial.
Competição, alta performance, precisão cronometrada do tempo, entre outros. Com o advento da sociedade do conhecimento, as atenções se voltam para valores mais focados na criatividade, na sensibilidade, na harmonia, muito mais próprios dos conteúdos artísticos, porque é isso que vai gerar riqueza. Podemos claramente perceber já um movimento nesse sentido.
Obviamente, isso não significa que os esportes deixarão de existir. O marketing esportivo é poderosíssimo e o espetáculo esportivo agrada muito aos olhos e muito mais ainda aos corações.
Mas, pelo menos, diminuindo-se, em certa medida, a relação direta entre algumas das qualidades do esporte e os modelos de produção, a sua prática, desassociada do desempenho olímpico, acabará por aliviar a pressão psicológica do jogo esportivo, tornando-o mais saudável e prazeroso.