Postado em 01/12/2012
Se perguntados, muitos de nós hesitariam em responder tratar-se de uma exposição de arte contemporânea a responsável por tal enorme público. Mas é este o caso.
Estamos diante dos dados de visitação da última edição da Documenta, realizada de junho a setembro de 2012 em Kassel, Alemanha. Considerada uma das mais importantes mostras de arte do mundo - título ao qual faz juz por suas cuidadosas pesquisas curatoriais, comprometidas com o pensamento e a práxis artística na contemporaneidade – a exposição ocorre a cada 5 anos nesta cidade de pouco mais de 200.000 habitantes, localizada no centro da Alemanha. E se os números impressionam, sua história ainda mais.
Kassel fora praticamente devastada na Segunda Guerra Mundial, tendo grande parte de seus edifícios destruídos. Destruição maior testemunhava a cultura na Alemanha, frente às perseguições nazistas que sufocaram inúmeras vertentes artísticas no país. Em tal cenário é o gênio criativo do professor de arte Arnold Bode que idealiza e ergue o evento. Ocupando inicialmente os espaços públicos e as ruínas dos edifícios a Documenta agia como fênix, a promover o renascimento da vida na cidade para muito além da mera reconstrução de suas edificações.
O sucesso da primeira edição, em 1955, que contou com surpreendentes 130.000 visitantes, levou os organizadores a uma nova empreitada 4 anos depois. De lá pra cá, a Documenta sedimentou uma importante trajetória na história da arte recente, despertando a atenção o fato de que em todas as suas 13 edições, os curadores mantiveram-se fiéis a um mesmo princípio: abrir o debate sobre as potencialidades de diálogo entre público e arte contemporânea.
Indagada sobre o que o público deveria esperar do conjunto de obras reunido na Documenta 13, a curadora Carolyn Christov-Bakargiev destaca o entendimento sobre o que artistas, cientistas e escritores que compuseram o projeto pensam sobre o que é crítico e urgente no mundo atual – conduzindo-nos com esta fala a pensar na arte antes como indício, e não verdade, sobre as paradoxais condições da vida contemporânea.
Felizmente a mostra de Kassel, a despeito de se manter como grande paradigma para a arte internacional, não representa a única plataforma de acesso à questões primordiais da arte hoje. Que o digam as bienais de arte de diversas cidades do mundo, com merecido destaque para a Bienal de São Paulo, protagonistas de importantes discussões na cena artística nacional e internacional.
Mas o que mais chama a atenção, ao vivenciarmos a experiência promovida pela incrível Documenta: o que se vê é uma cidade, com suas ruas e parques, espaços públicos e privados, tomada por peregrinos em busca de uma só coisa: arte. Arte entendida em ampla complexidade que se pauta por subjetividades, poéticas pessoais, múltiplos materiais, métodos e formas de conhecimento – algo que envolve diretamente muitos pensamentos e, portanto, mais perguntas do que respostas. Como na vida, em suma, cuja necessidade de saber propulsiona a si mesma.
E a importância disso não poderá jamais ser medida apenas em números.
Juliana Braga de Mattos, historiadora, é assistente técnica para a área de Artes Visuais na Gerência de Ação Cultural do Sesc