Postado em 29/10/2013
por Nicolas Behr
não tente gostar
de brasília
tão rápido assim
blocos de verdade
sobrevoam
superquadras imaginárias
superquadras
à procura
de uma cidade
••••••
subo na caixa d’água
de ceilândia
e lá de cima
eu vejo o sertão
do cariri ao carinhanha
euclides da cunha desafia
guimarães rosa a provar
que antonio conselheiro
conheceu lampião
padre cícero
entra na discussão
conheceu não
conheceu sim
conheceu adão
conheceu caim
••••••
antes de brasília
houve
infinitas outras
sagradas & malditas
soterradas, profanadas
e reconstruídas
sobre estas sete:
sodoma
gomorra
herculano
pompeia
hiroshima
nagasaki
canudos
••••••
ideias enfileiradas
se repetindo ao longo
de uma linha imaginária
mas o que vejo
são esqueletos
de superquadras desossadas
onde blocos fossilizados
esperam datação
cidade branca
mediterrânea lagoa
admiração solar
linhas cenozoicas
riscos paleozoicos
era dos burocrossauros
••••••
as superquadras
quando soterradas
respiram
pelos cobogós
narinas fragmentadas
pelo ar despedaçado
dos alvéolos
quadrangulares
esqueça o poema
e me dê um abraço
meus pulmões aos cacos
na cidade
que respiro pelos olhos
••••••
Nicolas Behr é poeta, autor, entre outros, de Poesília – Poesia Pau-brasília (LGE, 2002), Menino Diamantino (LGE, 2003) e Laranja Seleta (Língua Geral, 2007), finalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em 2008.