Postado em 09/03/2014
As heranças de um tempo de indescritível riqueza ainda são visíveis, e dois exemplos marcantes retratam fielmente o fausto experimentado pela região Norte do Brasil, entre 1860 e 1912: o Theatro da Paz, em Belém, inaugurado em 1878 e, à época, a maior casa de ópera da nação, e o Teatro Amazonas, em Manaus, aberto em 1896. Naquele período de 52 anos, que a historiografia nacional cunhou com o nome Ciclo da Borracha, o país foi o maior fornecedor mundial da matéria-prima, chegando a responder por 90% das necessidades do planeta. Anos em que as duas capitais se ombreavam às grandes metrópoles europeias, notadamente no aspecto cultural, e a borracha ocupava o segundo lugar na pauta de exportações brasileiras, uma era extraordinária que contrasta com o panorama de agora.
A reportagem de capa desta edição (“Borracha, da Glória ao Declínio”) mostra como tudo começou e como tudo acabou quando, no início do século passado, a semente da seringueira do Amazonas, a árvore que produz o látex, chegou contrabandeada às colônias inglesas na Ásia. Assim que a oferta dos novos plantadores inundou o mercado mundial, a indústria nacional do setor murchou como um pneumático sem pressão e nunca mais se recuperou. Atualmente, o Brasil participa com pouco mais de 1% da produção mundial de borracha natural, dependendo da importação para suprir suas necessidades.
A mesma perda de espaço que mudou a história do látex brasileiro vem, sistematicamente, levando ao desaparecimento de um sem-número de profissões. A reportagem “A Um Passo da Extinção” revela como as novas tecnologias estão riscando do mapa ocupações que reinaram soberanas e intocáveis durante séculos, casos do alfaiate, do amolador de faca, do datilógrafo, do engraxate, do ferreiro, do reparador de guarda-chuva e de máquina de escrever, do tintureiro e do tipógrafo, para citar apenas algumas.
Problemas Brasileiros, porém, também trata de assuntos atuais e altamente promissores. A reportagem “Dê Ouvidos aos seus Sonhos” destaca que o país está se transformando no paraíso dos pequenos empreendedores, pessoas que não titubeiam diante da chance de subir na vida tirando suas ideias do papel. Pesquisas apontam que mais de 40% da população brasileira cultiva planos de abrir um negócio próprio e que boa parte desses pretensos empresários são jovens, mudança significativa em relação a outros tempos, quando apenas pessoas maduras denotavam apreço pelo empreendedorismo. Boa leitura.
Abram Szajman
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac