Postado em 17/03/2014
O mercado de livros e o futuro digital no Brasil
Alexandre Martins Fontes é o atual presidente da livraria e editora WMF Martins Fontes, dona de um catálogo de mais de 1.500 títulos. Seguindo os passos do pai, Waldir Martins Fontes, que fundou o negócio, Alexandre mantém a filosofia de publicar livros de qualidade e de grandes autores. “Temos um catálogo que é realmente respeitado no Brasil e fora do Brasil, porque reúne uma série de autores fundamentais”, afirma. “Mas qual é o lado negativo? O lado negativo é que nós publicamos poucos autores jovens, publicamos poucos novos autores.” Neste Encontros, Alexandre falou sobre o mercado nacional, o mercado universitário, a parceria com o Sesc e a entrada do livro digital no gosto do brasileiro. A seguir, trechos.
Aposta na qualidade
Cada decisão que a gente toma tem um lado positivo e um lado negativo. Desde o primeiro momento, nós apostamos em livros de altíssima qualidade e de grandes autores, então temos um catálogo que é realmente respeitado no Brasil e fora do Brasil, porque reúne uma série de autores fundamentais. Mas qual é o lado negativo? O lado negativo é que nós publicamos poucos autores jovens, publicamos poucos novos autores. Certos autores e certas obras são absolutamente básicas e incontornáveis. O que temos tentado fazer desde nossos primeiros anos é publicar essas obras. Isso se reflete em números: durante muitos anos temos publicado 90 novos títulos por ano. O nosso papel é lançar os 90 livros mais importantes que podemos publicar.
Mercado universitário
Se todos os universitários brasileiros lessem o que deveriam ler, o mercado seria de dezenas de milhares de alunos espetaculares. Infelizmente, você passa por qualquer campus universitário e vai ver os bares lotados, os botecos lotados e as livrarias, quando existem, vazias. O mercado de livros no Brasil é um mercado pequeno, pobre, que poderia ser muito maior do que é, mas ele existe. Tanto existe, que há empresas como a nossa.
Parceria com o Sesc
Essencialmente, somos distribuidores daquilo que importamos, temos alguns contratos com editoras internacionais, contratos de exclusividade, só nós podemos importar esses livros. Importamos, distribuímos, fazemos todo o trabalho de divulgação com essas editoras. Não quero me tornar um distribuidor de editoras nacionais, mas temos algumas exceções à regra hoje. O nosso grande desafio, ao trabalhar com o Sesc, é dar a atenção que cada título pede, com a qualidade e a profundidade com que temos feito com os nossos.
Tiragens limitadas
Alguns anos atrás nem havia a possibilidade tecnológica de produzir somente 300 exemplares de um livro, ou de um catálogo. Era necessário rodar, no mínimo, mil exemplares para justificar a tiragem. Hoje, existem tecnologias digitais que permitem tiragens superpequenas. E nós, em um passado recente, fizemos uma experiência nessa área. O que eu posso falar dessa experiência é que eu não quero nem ouvir falar em tiragem de 300 exemplares por uma série de razões. Primeiro porque a qualidade gráfica de um livro impresso dessa maneira ainda fica devendo. Segundo, não adianta, o livro fica caro, o custo individual fica caro. Pessoalmente, acho o seguinte: ou você aposta no livro e faz uma tiragem maior, ou vai publicar alguma outra coisa. No caso de obras esgotadas, essa talvez seja uma posição extremamente ¿radical. Posso pensar: em nome da sociedade e do interesse cultural, vou produzir este livro, e não vou ganhar nada com ele, mas vou prestar um serviço não permitindo que ele esteja esgotado. No entanto, é óbvio que isso tem que ser para uma minoria absoluta do catálogo porque vivemos única e exclusivamente dos livros que a gente publica.
Livro digital
Até o ano passado, a informação que eu tinha era de que o livro digital no Brasil representava menos de 1% das vendas de livros. Recentemente, saiu uma matéria na Folha de S.Paulo, assinada pela Raquel Cozer, na qual ela diz que no ano passado chegamos a 3% ou perto de 3%. É um crescimento importante, mas acho que a gente tem que partir do princípio de que esse mercado ainda é absolutamente marginal. Hoje, os livros mais comerciais que nós lançamos, já temos lançado no formato digital, mas as vendas são realmente muito pequenas. Por que esse mercado é tão pequeno se compararmos com os Estados Unidos, por exemplo? A leitura que faço é a seguinte: os Estados Unidos são um país muito mais rico, e as pessoas tiveram acesso a esses equipamentos (de leitura digital) muito mais rapidamente. Houve um crescimento importante nesses últimos três, quatro anos, a ponto de a indústria ter começado a se preocupar: o livro de papel iria morrer? O que a gente tem visto nos Estados Unidos é que esse crescimento se estabilizou. O livro digital chegou a representar 20% das vendas de livros em algumas áreas. Mas no ano passado não houve crescimento. Na minha opinião, o livro digital veio pra ficar, mas no Brasil é um mercado praticamente inexistente, e fora do país é um mercado que se estabilizou. Fico me perguntando se a gente não verá, no caso específico do livro digital, um decréscimo das vendas. Mas não sou um expert nesse assunto para fazer uma leitura do que pode acontecer no futuro.
O diretor executivo da Martins Fontes Editora, Alexandre Martins Fontes, esteve presente na reunião do Conselho Editorial ¿da Revista E em 12 de janeiro de 2014
“Na minha opinião, o livro digital veio pra ficar, mas no Brasil ¿é um mercado praticamente inexistente, e fora do país é um mercado que se estabilizou. Fico me perguntando se a gente não verá, no caso específico do livro digital, um decréscimo das vendas