Postado em 04/07/2014
Por: REGINA ABREU
Muito (ainda) se fala que o Brasil é o país do futuro. Mas e o passado? Como era nosso país antes de Cabral? E antes dos índios? E antes ainda? “A Terra nasceu às 9 horas da manhã do dia 23 de outubro do ano 4004 antes da era cristã”, afirmou o arcebispo da Irlanda, James Ussher (1581-1656), no livro Annales Veteris et Novi Testamenti, a prima mundi origine deducti, publicado por volta de 1650. Hoje, os cientistas são bem mais modestos e sabem que não é possível precisar o nascimento de nosso planeta. O que se acredita, pela medição da radioatividade das rochas, é que ele tem aproximadamente 4 bilhões e meio de anos – e que ainda há muita coisa a descobrir.
E o Brasil? Que notícias temos sobre sua pré-história? De norte a sul há um enorme quebra-cabeça a desafiar quem se dispõe a descobrir as respostas para um número infinito de perguntas sobre a terra, os animais e os Homens que aqui viviam. Enquanto não inventam uma máquina que permita viajar no tempo, uma iniciativa do Museu de História Natural de Nova York dá uma boa e fascinante ideia da vida na pré-história e de um animal extinto há milhares de anos, o pterossauro, parente voador dos dinossauros. Trata-se de uma exposição interativa, que fica em cartaz até o dia 4 de janeiro de 2015, e reúne diversas espécies brasileiras, com destaque para a reconstituição de detalhes da vida daquele gigante com asas que habitou o Nordeste brasileiro, durante o período Cretáceo (entre 145 milhões e 65 milhões de anos atrás).
Com penas, cristas e cores chamativas, várias das cerca de 150 espécies conhecidas desse réptil parecem ter saído de um filme de ficção científica. Equipamentos modernos ajudam os visitantes da exposição a mergulhar no mundo desses animais. Os curiosos podem até utilizar um simulador de voo e fazer uma viagem acompanhando um dia de caça com um pterossauro. Diversos entre si, alguns desses bichos cabiam na palma da mão, outros eram do tamanho de um planador. “Esses incríveis animais tinham características que só começaram a ser desvendadas pela ciência nas últimas décadas”, explica o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos curadores da mostra e um dos maiores descobridores de espécies de pterossauros do mundo. A exposição em Nova York chama também a atenção para a região do Brasil que abrigou um terço de todos os exemplares fósseis desse réptil voador já achados no mundo: a Chapada do Araripe.
Turismo científico
A região, que abriga o Parque dos Pterossauros, a quatro quilômetros de Santana do Cariri, no Ceará, serviu de campo de estudos para a concepção de alguns dos animais mostrados no filme Jurassic Park, de Steven Spielberg. Ali são expostas réplicas artísticas desses animais voadores que tinham até cinco metros de envergadura. Ao lado de dinossauros de cerca de três metros de altura e oito de comprimento, os pterossauros ocuparam espaço num território que corresponde aos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí há cerca de 100 milhões de anos.
Além disso, a Chapada do Araripe é o maior sítio paleontológico de peixes fósseis do mundo. Suas rochas, de cerca de 110 milhões de anos, conservam animais em que é possível pesquisar células musculares e aparelhos digestivos com as últimas refeições. Foi também o primeiro lugar da Terra onde surgiram flores, datadas do período Cretáceo – quando as placas continentais do Brasil e da África ainda se separavam. Incrustados em rochas, os fósseis de plantas deram origem às flores de hoje.
Em 2006, foi aprovado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) um projeto para transformar a área de pesquisas paleontológicas, geológicas e arqueológicas da Chapada em geoparque – uma região de turismo científico e ecológico que propicia o crescimento autossustentado da população. O local abrange 5 mil quilômetros, oito municípios e nove sítios de observação.
“Se a idade da Terra for comparada à duração de um dia de 24 horas, o surgimento do Homem se deu nos últimos dez minutos”, afirma o professor Paulo Antonio Dantas DeBlasis, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP). Mas são dez minutos que representam milhões de anos. Análises de fósseis indicam que o Homem surgiu na África há cerca de 7 milhões de anos. De lá, espalhou-se pelo mundo.
No Brasil, isso fica demonstrado na região de São Raimundo Nonato, no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, atualmente uma área de caatinga. Mas, muito tempo depois dos pterossauros e dinossauros, há 9 mil anos, ali existiu floresta amazônica e mata atlântica. Algumas espécies de vegetais daqueles tempos ainda estão por lá, junto à maior concentração de pinturas rupestres do país.
A região abriga ossadas de animais e vestígios humanos que remontam a 60 mil anos. A descoberta mostrou que a região já era habitada muito antes do que se imaginava, e pôs em xeque as teorias até então mais aceitas sobre o povoamento pelo Homem nas Américas, que consideravam uma migração única partindo da Europa e atravessando o Estreito de Bering (o ponto mais próximo entre os continentes asiático e americano), chegando ao Brasil através da América do Norte.
“A hipótese é que as ondas migratórias mais antigas vieram da África para o nordeste do Brasil”, explica a presidente da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), Niéde Guidon. Já há várias décadas ela afirmava que as primeiras migrações teriam 40 mil anos a mais do que o imaginado, e que o Homem teria vindo por rotas diferentes das comumente aceitas. Finalmente, análises feitas em 2006 por Emílio Fogaça, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás, e Eric Boëda, da Universidade de Paris, mostraram que Niéde estava certa. As ferramentas de pedra descobertas em São Raimundo Nonato foram realmente feitas por humanos e têm entre 33 mil e 58 mil anos.
A brasileira Luzia
Há também, todavia, muitos outros tesouros arqueológicos no Brasil, comparáveis, em importância, aos principais achados do Velho Mundo. É o caso, por exemplo, de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Quando desembarcou no Brasil, em 1825, o cientista dinamarquês Peter Wilhelm Lund se surpreendeu com o que encontrou. Estudioso de botânica e zoologia, Lund viu no país um imenso potencial para as suas pesquisas. Passou a esquadrinhar a região de Lagoa Santa em busca de vestígios do passado. Explorou mais de 200 grutas, descobriu cerca de 12 mil fósseis e um grande achado: um cemitério com 30 esqueletos humanos, ao lado de ossos de mamíferos da chamada megafauna. Eram animais de dimensões bem maiores que as atuais, como os gliptodontes (tatus de cerca de um metro de altura), as macrauquênias (herbívoros semelhantes a lhamas com trombas) e preguiças de até seis metros de comprimento e cinco toneladas.
O Homem de Lagoa Santa, como foi nomeado aquele fóssil humano, ajudou a escrever um importante período da pré-história brasileira. Os achados sugeriam que ele teria sido contemporâneo desses animais de grandes dimensões, e que, por muito tempo, acreditou-se que estivessem extintos quando surgiram os seres humanos. A teoria de Lund só seria confirmada mais de um século depois, em 2002, com base em análises de datação das ossadas. Do século 19 até recentemente, foram extraídos restos de aproximadamente 250 esqueletos humanos.
Na década de 1970 foi encontrado um crânio feminino de cerca de 11.680 anos, provando que a região já era habitada pelo Homem muito antes do que se imaginava. O crânio e outros ossos do mesmo corpo foram descobertos por uma equipe franco-brasileira, coordenada pela arqueóloga francesa Annete Laming-Emperaire, e hoje se encontram no acervo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em 1998, técnicas de reconstituição permitiram vislumbrar a face da jovem encontrada em Lagoa Santa: tinha aproximadamente 20 anos, olhos arredondados e nariz largo. Batizada de Luzia – referência abrasileirada a Lucy, fóssil humano de mais de 3 milhões de anos encontrado na Tanzânia, em 1974 – , é considerada, até o momento, a primeira brasileira de que se tem notícia. O estudo morfológico desses ossos, realizado pelo antropólogo e arqueólogo Walter Neves e equipe, levou a novas teorias sobre a ocupação humana em nosso continente.
Variação climática
O professor Astolfo Gomes de Mello Araujo, do MAE-USP, geólogo de formação e um dos integrantes do grupo de pesquisas de Walter Neves, explica que a reconstituição da face de Luzia lembra os aborígenes da Austrália e os negros da África – bem diferentes dos indígenas que imaginamos como os primeiros moradores do Brasil, com traços mongoloides. A descoberta deu força à hipótese, até então polêmica, de que o continente tenha sido ocupado não por uma, mas por diversas correntes migratórias, vindas inclusive por terra na última Idade do Gelo, durante a baixa do nível dos mares. O grupo de Luzia teria habitado o sul da China e sudeste da Ásia e migrado para a América e para a Oceania, há cerca de 11 mil anos.
Os estudos feitos em Lagoa Santa demonstram que os humanos chegaram àquela região há cerca de 12 mil anos AP (Antes do Presente). O “Presente”, por convenção, é o ano 1950. Pois em 1952 descobriu-se a técnica de datação através do carbono 14. Um processo químico que auxilia na identificação da idade dos fósseis em até 70 mil anos. Há 8 mil anos AP eles se afastaram; 4 mil anos depois voltaram, ficaram 800 anos e, depois, desapareceram de novo. Como, segundo Araujo, no período do Holoceno Médio (mais ou menos há 5 mil anos AP) há registros globais de temperatura mais alta que nos dias de hoje, com muita variação climática, é possível que aqueles habitantes tenham saído à procura de clima mais estável, existindo a possibilidade de terem migrado para o norte de Minas Gerais.
Em seu trabalho com Walter Neves, Araujo pesquisou a formação de sítios arqueológicos tanto em cavernas quanto em áreas externas – tendo descoberto, por exemplo, que uma enorme acumulação de cinzas numa caverna de quatro metros de altura, foi o que restou de fogueira feita por mãos humanas. Era mais uma peça do quebra-cabeça da presença do Homem no Brasil em tempos pré-históricos.
Além de ossadas, outros vestígios encontrados na região de Lagoa Santa contam os hábitos dos antigos habitantes do Brasil. Machados trabalhados e outros artefatos mostram que eles viviam na Idade da Pedra Polida ou Neolítico (entre 12 mil e 4 mil anos antes de Cristo). A caça e a coleta de alimentos também eram praticadas – como mostram os restos de fogueiras e coprólitos (fezes pré-históricas fossilizadas), que indicam o tipo de alimentação da época: frutos, folhas e raízes, além de carne, quando havia caça.
Aqui cabe um parêntese: é possível que a caça tenha sido um dos fatores responsáveis pela extinção dos gliptodontes e preguiças gigantes. Outros fatores, como a mudança climática e possíveis epidemias transmitidas pelo Homem, podem ter provocado a mortandade em massa daqueles animais. Essa última hipótese encontra reforço em pesquisas recentes realizadas na Oceania. Lá, constatou-se que 55 espécies de vertebrados, como cangurus gigantes e pássaros do tamanho de perus, desapareceram por volta de 46 mil anos atrás, ou seja, cerca de 5 a 10 mil anos depois do surgimento do ser humano naquele continente. A mesma correlação entre a chegada do Homem e a extinção da megafauna pode ser constatada na Nova Zelândia e em Madagascar.
Dor de dente
Voltando à questão da ocupação do território brasileiro, em Santana do Riacho, na Serra do Cipó, em Minas Gerais, encontraram-se esqueletos encolhidos, depositados em redes, às vezes salpicados com pó vermelho e adornados por colares de contas vegetais. Ingeriam pequi e jatobá, coquinhos de licuri, caça de porco-do-mato e roedores, com abundância de alimentação vegetal – que levava à cárie dentária (é fácil imaginar as dores terríveis que os homens pré-históricos amargavam). Sobreviver era uma luta diária: pelo estudo dos ossos humanos foi possível saber também que havia doenças inflamatórias, falta de alimentos e até fome na fase de crescimento de crianças e adolescentes.
Já os pioneiros habitantes da floresta tropical, na Amazônia, usavam pontas de lança de pedra, alimentavam-se da caça e da pesca e também da coleta de frutos e vegetais. Comiam peixes, roedores, morcegos, moluscos, jabutis, pássaros, anfíbios, cobras e grandes mamíferos terrestres, além de frutos da palmeira, da castanha-do-pará e de várias espécies de leguminosas – o que demonstra a incrível capacidade do Homem de comer absolutamente qualquer coisa, ao contrário de outros animais.
A ocupação do Centro-Oeste também é muito antiga – há vestígios de 15 mil e 22 mil anos AP no Mato Grosso, e de 10.700 e 9 mil anos AP em Goiás. Eram áreas habitadas por pequenos grupos organizados em famílias denominados caçadores-coletores. O estudo da ocupação no litoral em tempos remotos fica muito prejudicado pelo aumento do nível do mar no Holoceno, que recuou a costa atual para muitos quilômetros a oeste em relação ao que era há milhares de anos.
Existem ainda outros sítios também muito antigos em diversos lugares do Brasil, como no interior de São Paulo, na região de Rio Claro, a 190 quilômetros da capital, com registros de ocupação há 14.200 anos AP. No sul também predominaram as sociedades do tipo caçador-coletor. No litoral viviam grupos sambaquieiros (construtores de sambaquis, que são montões de conchas, restos de cozinha e de esqueleto, depositados em praias, rios etc.), entre 8 mil e 2 mil anos AP. Mas em todas as regiões as datas poderão recuar ainda mais com o avanço das pesquisas. Há tantos sítios arqueológicos espalhados pelo Brasil que é razoável supor que as áreas sem evidência humana são espaços onde ainda não foi realizada nenhuma pesquisa.
Ascensão e queda
Os arqueólogos costumam dividir a ocupação do território brasileiro pelo Homem em três etapas. A primeira seria a das populações que predominavam em grande parte do país até 12 mil AP. A segunda etapa iniciou-se com a colonização mongoloide, a partir do noroeste da América do Sul, que se espalhou pelo litoral, e é representada pelas populações sambaquieiras desde 10 mil a 9 mil AP. A terceira teve origem com os povos mongoloides que originalmente se fixaram na Amazônia e criaram a agricultura, a cerâmica e novos padrões culturais e demográficos de economia e organização social, a partir de 10 mil a 9 mil AP. Eram semelhantes na aparência física aos habitantes da segunda etapa; porém, produziram uma cultura material distinta, caracterizada por populações maiores, pela modificação no formato das aldeias, pelo acréscimo da cerâmica a partir de 7 mil AP e de novas ferramentas (como o machado polido) e de utensílios (como o ralador e o pilão).
Entre 4 mil e 2 mil AP, uma grande explosão demográfica na Amazônia causou a expansão geográfica de povos ceramistas e agricultores. A agricultura contribuiu para o acesso à alimentação e o crescimento da população, causando assim novas maneiras de organização social e política, com maior capacidade de conquistar e manter novos territórios.
Os povos envolvidos nesta expansão mudaram o panorama antropológico do Brasil à medida que avançaram sobre as áreas até então ocupadas pelos caçadores ou pescadores-coletores. Estes últimos acabaram sendo absorvidos ou eliminados pelo aumento das populações agricultoras. Mas o conhecimento dessas populações era ainda mais abrangente: além das plantas em si, as áreas cultivadas atraíam animais, que acabavam virando novas opções de comida. Para isso, espalharam diversos e engenhosos tipos de armadilhas para capturar desde os maiores mamíferos até roedores, aves e répteis. A pesca também era praticada de várias formas: arco e flecha, armadilhas, lança, redes e veneno. Havia ainda a coleta de moluscos e insetos e o consumo de determinadas plantas e fungos que garantiam proteínas e lipídios.
Além do consumo imediato, era possível estocar os alimentos, conservando-os com moqueamento – ou seja, defumavam o animal e podiam assim guardá-lo por vários meses. Os vegetais também podiam ser conservados sob a forma de farinha, bolos e massas fermentadas. Essa capacidade de obter e armazenar alimentos certamente resultou da contínua troca de informações entre as populações durante 10 mil anos. O professor Paulo DeBlasis observa que, na época do descobrimento, havia redes de interação continentais. Para ele, as sociedades humanas passam por diferentes fases ou estágios, que não são mais do que maneiras diferentes de viver.
Hoje, a arqueologia se faz com o emprego de tecnologias (o Google Earth é um bom exemplo), métodos geofísicos de pesquisa, como o uso do radar de solo, e, finalmente, com escavações, que dão informações pontuais. Segundo o professor Astolfo Araujo, a arqueologia está crescendo bastante no Brasil graças aos estudos de impacto ambiental – como no caso da construção de hidrelétricas, antes de tudo ficar inundado. Ou seja: quanto mais se destrói, mais se conhece. Infelizmente, como os relatórios permanecem nas mãos dos órgãos de licenciamento e a divulgação é muito pequena, o grande público fica sem acesso às informações.
De qualquer modo, Araujo reitera que a grande contribuição da arqueologia é permitir compreender que as coisas são como são, agora, porque têm uma raiz no passado. Por esta ciência é possível, portanto, entender o presente, projetar o futuro e adquirir uma consciência de longo prazo da história da humanidade – que deveria nos deixar mais humildes, pois mostra que mesmo grandes civilizações têm suas fases de ascensão e queda.
O parque pede socorro
Localizado em São Raimundo Nonato, no Piauí, o Parque Nacional da Serra da Capivara é um monumental museu a céu aberto, entre belíssimas formações rochosas, onde estão sítios arqueológicos e paleontológicos espetaculares, que testemunham a presença do Homem e de animais pré-históricos num período de tempo que oscila entre 10 mil e 100 mil anos. Criado, em grande parte, graças ao trabalho de três décadas da arqueóloga Niéde Guidon, que hoje dirige a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), instituição responsável pelo seu manejo, o parque foi tombado em 1991 como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Com potencial turístico de 3 milhões de visitantes por ano, no local foi construída uma infraestrutura completa e um aeroporto que continua inacabado. Várias redes hoteleiras já manifestaram interesse pela região, mas condicionam a construção de hotéis ao funcionamento desse aeroporto. Assim, o turismo, que poderia tornar o parque autossustentável e transformar-se em importante fator de desenvolvimento, continua inviável.
Niéde Guidon explica que a falta de recursos federais levou à quase devastação da fauna e flora do lugar, por meio da caça, desmatamento, exploração de calcário e depredação de sítios arqueológicos históricos. O Parque Nacional da Serra da Capivara foi considerado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2011, o mais bem estruturado entre os sítios dos patrimônios culturais mundiais de arte rupestre.
Hoje, não há, entretanto, mais condições de continuar administrando o parque sem um orçamento fixo. Estradas, passarelas para visitação, centro de visitantes e guaritas não podem ser mantidos como deveriam. Niéde mandou uma carta ao senador Eduardo Suplicy, em março de 2013, relatando a situação e pedindo sua intermediação junto ao poder central na tentativa de obter recursos para salvar aquele sítio arqueológico – calculados em cerca de R$ 380 mil mensais –, para proteger a fauna e conservar limpos os locais de pintura rupestre, de modo a evitar a propagação de incêndios e a destruição. Suplicy a leu em plenário, mas parou nisso; não houve resposta e não foi tomada nenhuma providência.
Com as últimas chuvas, em abril, as estradas ficaram intransitáveis. Niéde, com mais de 80 anos, doente, e ainda ativa, vê tudo desmoronar se algo não for feito rapidamente. “Minha última tentativa é apelar para a generosidade do povo brasileiro”, argumenta. Em maio deste ano, uma campanha nesse sentido foi lançada no site oficial do parque na esperança de levantar doações numa conta bancária aberta com aquele propósito no Banco do Brasil.