Postado em 04/03/2015
A artista concilia sensibilidade e experiência ao gerir projetos educacionais e culturais
Stela Barbieri nasceu em Araraquara, onde teve as primeiras experiências com arte e educação. Na cidade de São Paulo, vivenciou importantes experiências profissionais em ambas as áreas, tornando-se referência. Foi diretora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake de 2002 a 2014, curadora do Educativo da Bienal de Artes de São Paulo de 2011 a 2014. É assessora de artes na educação infantil e ensino fundamental (ciclo 1) da escola Vera Cruz e prestou assessoria nas escolas Castanheiras e Nossa Senhora das Graças. Desde 2012, faz parte do Conselho Consultivo do PGECC – Programa Gulbenkian Educação para a Cultura e Ciência, de Lisboa, Portugal. Stela também é artista visual, contadora de histórias e escritora.
Entre seus projetos de arte e educação está “Lugares - Lugar para ler e Lugar para desenhar”, que convida o público a interagir com obras-oficinas no Sesc Belenzinho, de 12/3 a 24/5.
Acompanhe a conversa de Stela com a Revista E.
Desde cedo
A arte e a educação estão presentes na minha vida desde cedo. Tive três tias, todas educadoras, e sempre me lembro do quintal de minha casa em Araraquara – onde nasci e cresci. Ele era para mim um espaço de criação, livre, onde fazia experiências com materiais nas brincadeiras e nas aulas de arte das quais participava. Aos 14 anos eu comecei a ser babá, então tinha uma investigação própria do universo das artes nesses encontros com as minhas tias e no contato com as crianças. Aos 17 mudei para Campinas, onde fui professora da Escola do Sítio e no Museu de Arte Contemporânea da cidade.
Depois comecei a fazer aulas em São Paulo com Carlos Fajardo, Guto Lacaz, entre outros. Na mesma época trabalhei como monitora da Bienal e tive aulas de História da Arte. Meu primeiro trabalho de gestão em educação foi em meu ateliê, onde dava aulas. A partir do trabalho cooperativo que desenvolvia lá, pensei em como seria estruturar uma proposta para uma diversidade de públicos a fim de dialogar com pessoas de diferentes formações e profissões. Fui convidada pelo Agnaldo Farias e Ricardo Ohtake para ser diretora da ação educativa do Instituto Tomie Ohtake, onde fiquei por 12 anos. No instituto uma das nossas maiores intenções era, justamente, esse diálogo com a diversidade de público. Pessoas das mais variadas áreas e profissões passavam por ali. Organizamos projetos que aproximavam o trabalho do artista e a educação. Fizemos muitos cursos voltados à formação de professores, cursos com aspectos teóricos/conceituais sempre aliados à prática, porque nos interessava bastante pensar em como as pessoas aprendem de formas diferentes, sempre pautados pela abordagem poética e prática de ateliê. Algo muito forte nesse trabalho com o instituto e no meu jeito de lidar com arte e educação é que pensar arte é fazer arte, ou seja, pensar fazendo.
Essa experiência me deu uma visão da estrutura do trabalho que foi importante para a minha atuação na Fundação Bienal. Cheguei a ter uma equipe de 500 pessoas e, nesse contexto, o trabalho da equipe é fundamental. Ações colaborativas em equipe fazem a densidade de um setor educativo que lida com a parte afetiva das instituições.
Empatia e curadoria
Para mim é um grande prazer entrar em contato com os jovens aspirantes a curadores ou com pessoas de outra formação profissional que têm esse objetivo, porque todos estão pensando sobre curadoria, o universo cultural, o sistema da arte e como chegar até ela. Sinto que isso tem aumentado, pois o número de museus e de manifestações artísticas acompanha esse crescimento. Há muitos coletivos e grupos independentes fazendo arte pela cidade, em trânsito entre um lugar e outro. Isso faz com que o universo cultural demande profissionais e com que a procura de pessoas que já têm a empatia por esse universo mostre-se ainda maior.
O valor da experiência estética
A formação das pessoas e a ampliação de público para as artes não devem ser ações mercadológicas para criar consumidores. Não é essa a ideia. Mas sim uma possibilidade de contato que possa ampliar o universo visual, não só o ligado às artes. O estado da arte não está restrito às obras, mas aos deslocamentos que as várias experiências estéticas nos proporcionam. Então o fato de ter filas e de milhares de pessoas irem a exposições não garante que elas tenham boas experiências; porém, a possibilidade de ver e o interesse podem ser uma coisa boa na formação de todos. Tudo depende da maneira pela qual esse contato se dá. Nesse sentido, as exposições também criam situações de encontro que possibilitam que cada um entre em contato consigo mesmo. Há muitos aspectos positivos quando mais pessoas têm contato e se interessam pelas exposições, mas acho que é uma bobagem ir só para registrar na agenda, para ficar up no currículo de exposições. Afinal, se você está lá e vê só um trabalho que se torna significativo e amplia as suas sensações, isso já é uma experiência reveladora e impactante.
É interessante expor em lugares diferentes dentro e fora do Brasil. Agora atuo como conselheira da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, e lá participo de um conselho de educação, cultura, arte e ciência. Ainda neste ano farei instalações no Sesc Belenzinho, Bom Retiro e Santana: Lugar para ler e lugar para desenhar; Lugar para semear e lugar de combinações líquidas, lugar para criar espaços. Meu grande desejo é fazer essas obras de arte nas escolas públicas, porque sinto que mudanças no ambiente impactam fortemente o cotidiano.