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Realidade Submersa
Madeira, laser, projeções e água. Como tudo isso mostrará os rios de São Paulo?
A instalação Rios Des.Cobertos foi uma maquete com projeção interativa mapeada que permite ao público descobrir a quantidade de cursos d'água e a complexidade do relevo do munícipio de São Paulo. Em 2016, o projeto teve inicio no Sesc Vila Mariana. Em 2017, a mesma instalação foi recebida pelo Sesc Carmo e Sesc Pinheiros.
Para edição de 2018 as unidades do Sesc Piracicaba, Jundiaí e Campinas, receberão o projeto, que contará com duas maquetes, uma tratando de questões macro, incluindo toda a região do médio Tietê, incluindo a bacia do PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí); e outra sobre a cidade (para cada uma das cidades haverá uma maquete específica), onde a população conseguirá perceber a interface homem e ambiente em uma escala humana.
O público poderá conhecer mais sobre a Bacia do PCJ e suas questões socioambientais através das maquetes e outros elementos da instalação como pranchas informativas com conteúdo disponível ao visitante, expedições de descobrimento dos rios encobertos e outras atividades complementares na Unidade.
Esse trabalho foi concebido pelo Estúdio Laborg, que atua no desenvolvimento de projetos que utilizam o audiovisual como instrumento principal para transmitir informações, sensações e sentimentos, juntamente da Iniciativa Rios & Ruas, entidade que visa promover o reconhecimento dos elementos naturais das cidades. Uma das estratégias é revelar os rios “invisíveis”, cursos d’água soterrados ou escondidos sob avenidas, ruas, praças ou edificações, tudo isso através de ações educativas como formação de educadores e expedições com o público nesses rios submersos.
A EOnline conversou com o Alexandre Gonçalves, do Estúdio Laborg, e José Bueno e Luiz de Campos, da iniciativa Rios & Ruas.
EOnline: Quanto tempo levou para realização do projeto? Quais foram as etapas e o que vocês têm utilizado para viabilizar a maquete interativa?
Alexandre Gonçalves: Rios Des.Cobertos passou por um processo de criação de aproximadamente um ano. Foi um processo bastante rico, porque incluiu uma pesquisa complexa. Foram muitas as reuniões para a escolha das questões a serem abordadas, para levantamento das informações e dos dados a serem apresentados.
Esta etapa da pesquisa foi o ponto central do projeto. Porque é justamente este processo de descoberta que gostaríamos que o público compartilhasse, um pouco do encantamento que tivemos com cada foto histórica encontrada, cada nascente descoberta nas expedições urbanas, cada morador que se lembra do córrego de sua região.
A parte técnica, a programação e a projeção mapeada, é sempre uma etapa trabalhosa, mas com a qual já estamos muito acostumados. O grande desafio desta etapa é encontrar as maneiras mais efetivas de colocar estas tecnologias a serviço da ideia, como potencializar a experiência do público e permitir que as técnicas sejam um meio para apresentar o projeto e não um fim em si.
EOnline: Como tem sido essa experiência de trabalhar com a perspectiva artística dentro da educação?
Alexandre Gonçalves: É sempre um desafio, mas a gente gosta muito. O Estúdio Laborg sempre buscou a intersecção entre teoria e prática, arte e ofício. Desde os primeiros trabalhos a gente já tinha esta preocupação em equilibrar a pesquisa técnica com a dramaticidade, com a narrativa. E, sem saber o que estávamos produzindo, eram trabalhos que, hoje, catalogamos como artemídia. É esta área das artes onde a tecnologia e os formatos tradicionais se encontram, onde o conceito de colaboração e fusão é bem central.
E isto tem muito a ver com a produção para a educação, porque necessariamente você tem uma troca muito grande entre os pesquisadores, os artistas e os técnicos. Por isso muito do foco do estúdio é a produção para museus e exposições de obras conceituais.
Mas Rios Des.Cobertos é um marco para o Estúdio Laborg, porque é a primeira obra nossa que foi criada como peça central de uma exposição que lhe é dedicada. Uma peça que foi, desde o princípio, planejada para se desdobrar em ações e atividades. Porque o tema é tão vasto que a única forma de pensar esta obra era desta maneira, como uma peça lúdica, de descobrimento, que coloque o público nesta função exploratória.
EOnline: O que mais chamou atenção ao realizar esse trabalho?
Alexandre Gonçalves: Sem dúvida o que mais chamou a atenção de todos é o fato de que procurando rios embaixo do cimento, encontramos muito mais.
Existe uma São Paulo que, juntamente com os rios, desapareceu. Uma São Paulo de morros, vales e várzeas. Uma geografia complexa e rica, que determinou a própria história do município. E, o mais importante, nada disso está acabado, fossilizado. Os rios estão vivos, os peixes estão vivos, tem uma cachoeira escondida no meio da Vila Mariana!
A história desta São Paulo cheia de rios não acabou, apenas estamos entrando num novo capítulo, de redescoberta.
Isto chamou a atenção também no levantamento de dados. Plantas e mapas cujas informações são diferentes, não por erro, mas porque as transformações continuam ocorrendo. E isto evidencia que existe ainda um espaço muito grande para mudança.
Uma nascente, encontrada por alguém, pode não estar listada em nenhum mapa. Existem rios a serem descobertos. Esta é, afinal, a nossa grande constatação: esta obra será sempre incompleta, parcial, porque a história dos rios de São Paulo está longe de ser concluída.
José Bueno: Fazia tempo que tínhamos a ideia de elaborar uma grande maquete que desse a perspectiva de uma terceira dimensão aos mapas que sempre usamos.
A surpresa veio do potencial da artemídia que a equipe do estúdio Laborg nos apresentou. Nela percebemos a possibilidade de incluir outras representações dinâmicas a instalação: dimensões do tempo e até de sonhos!
EOnline: O que as pessoas podem esperar dessa obra?
Alexandre Gonçalves: Atingindo nosso objetivo, a obra vai mostrar o que as pessoas podem esperar da cidade.
Ao evidenciar o que se esconde embaixo do concreto, e quão recentes são estas mudanças, esperamos que o público perceba que a cidade é uma obra aberta, que todas as mudanças que ocorreram foram por vontade das pessoas.
E isso é o mais importante desta obra, mostrar que a cidade que teremos é a cidade com a qual sonhamos. E por isso é fundamental ter um sonho para a cidade, aonde existe uma vontade, existe um caminho.
Luiz de Campos: Trabalhamos no sentido de criar uma exposição excitante, em que as pessoas sintam que estão descobrindo uma nova cidade que jamais imaginaram existir. Que depois de interagir com a instalação tenha uma visão de uma cidade de São Paulo onde existem – e não existiam! – vales, várzeas, nascentes, e centenas de riachos.
O making of do projeto está no Facebook do Laborg.
Gostou?
Você poderá acompanhar a instalação em 2018 nas unidades do Sesc Piracicaba (março até maio), Sesc Jundiaí (junho até agosto) e Sesc Campinas (setembro até novembro).