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Charles Bradley: performance da alma
Cantor norte-americano Charles Bradley mantém vivo o espírito da soul music e se consagra como um dos principais representantes do estilo na atualidade
Quando pequeno, Charles Bradley não sabia da existência de palavras como segregação ou racismo, mas convivia diariamente com esse sentimento a sua volta. “Eu não podia atravessar a rua. Tinha que ficar de um lado, enquanto os brancos caminhavam pelo outro”. Nascido em 1948, em Gainesville, na Flórida, foi criado por sua avó até os oito anos de idade, quando conheceu sua mãe, que o convidou para morar junto dela no Brooklyn, em Nova Iorque, numa época em que ser negro nos Estados Unidos era viver com medo e sem direitos.
Bradley teve uma adolescência difícil. Fugiu de casa e morou nas ruas por dois anos. “Eu era constantemente enquadrado pela polícia”, lembra. Trabalhou como cozinheiro durante anos, atravessou os Estados Unidos, Canadá e Alasca, até voltar ao Brooklyn, em 1996, para viver novamente com sua mãe.
A semelhança com James Brown o levou a se apresentar em casas noturnas como cover da lenda do funk e do soul, adotando o nome Black Velvet. Ele conta que, desde criança, queria seguir os passos do cantor: “pegava uma corda, amarrava em uma vassoura, jogava e puxava de volta”, imitando os movimentos do ídolo com o microfone, que repete até hoje em seus shows.
Com voz potente e grande sensibilidade, Charles Bradley foi descoberto apenas aos 64 anos, pela Daptone Records, que gravou seus primeiros singles e três álbuns, No Time For Dreaming, em 2011, Victim of Love, em 2013, e Changes, em 2016. “Quando tive a chance de fazer minha própria música, comecei a falar através dela. Aquilo foi minha fuga para me expressar ao mundo”, revela.
O cantor se apresentou com a banda His Extraordinaries no Festival Jazz na Fábrica de 2015, no Sesc Pompeia. No repertório, músicas como Confusion e Why is It so Hard reforçam o desejo de Bradley: “Humildemente, com todas as dores e alegrias que já passei, espero apenas que o mundo me escute”.