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Simbolismo cultural
Simbolismo cultural
Uso de adornos expressa resistência e a manifestação da cultura dos povos indígenas
Acima: galeria de imagens da exposição Adornos do Brasil Indígena: resistências contemporâneas
Se numa espécie de desafio um grupo formado por crianças, jovens e adultos fosse reunido para, de olhos fechados, dizer o que vem à mente ao pensar na palavra índio, uma forte carga simbólica se manifestaria. Por mais que as referências e as imagens formadas fossem distintas, é provável que fossem citados colares, penas, plumas e pinturas corporais – materiais que, utilizados pelos índios, servem para adornar o corpo e, através disso, manifestar em cores e formas uma identidade particular e coletiva. “Os adornos exercem papéis relevantes na manutenção e continuidade das culturas indígenas, na medida em que eles são a expressão clara e exteriorizada da identidade da pessoa e do grupo. Identidade no sentido de autocompreensão da pessoa e do grupo e de compreensão sobre o mundo em que vive, que define o tipo de relações estabelecidas. Os adornos possuem um poder simbólico e prático muito grande no cotidiano das pessoas e das coletividades indígenas, pois representam o sentido, os desafios e o prazer de viver”, explica Gersem Baniwa, professor adjunto da Faculdade de Educação e Diretor de Políticas Afirmativas da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e representante indígena no Conselho de Educação.
Resistência social
A expressão da cultura indígena no país é longa e também se transforma com o passar do tempo, manifestando-se, além de nos adornos corporais, em objetos etnográficos e na arte produzida pelas próprias comunidades, as quais resistem e continuam abrangendo diferentes regiões brasileiras, como Suyá (MT), Krahô (TO), Bororo (MT), Guarani (SP), Kayapó-Xikrin (PA), Kaxinauá (AC), Karajá (GO). Na capital paulista, encontramos mais de 38 povos indígenas que se comunicam em até dez línguas. Já na Grande São Paulo, são contabilizados cerca de 54 povos indígenas, segundo dados do projeto Índios na Cidade.
Coordenador do projeto, Marcos Aguiar trabalha há mais de 12 anos com indígenas, em especial os que vivem fora de suas aldeias. Na sua experiência, acredita ser importante ter noção dessa pluralidade, uma vez que todos são indígenas, mas possuem especificidades culturais e cotidianas. “Adornar passa pela escolha de colocar algo em você ou no outro ou, até mesmo, não colocar nada, sempre com a consciência de que tal escolha te representa. Esse simbolismo pode auxiliar na compreensão do que é a cultura indígena, principalmente no espaço urbano”, detalha. Para ele, há diferentes tipos de adorno, e existe resistência mesmo com o contato cada vez maior entre a comunidade indígena e o ambiente externo, neste caso o urbano.
“Posso me pintar, mas usar relógio; cantar e dançar, mas usar um tênis”, destaca Aguiar, aludindo a situações que acompanha em sua vivência com os grupos indígenas. “Eles fazem incursões indígenas em músicas tradicionais, mas existe o hip hop Guarani Kaiowá, por exemplo, que também considero um modo de adornar”, opina, expandindo a discussão sobre o alcance e as formas da cultura indígena, expressa entre a tradição, o simbolismo e a contemporaneidade.
“Entender a importância e o lugar dos adornos no processo histórico das relações sociais pode ajudar na compreensão dos desafios e possibilidades dos povos indígenas do Brasil no contexto atual da história”, completa Baniwa.
Identidade e resistência
Exposição Adornos do Brasil Indígena: resistências contemporâneas ocupa a fachada e o espaço expositivo do Sesc Pinheiros
A exposição marca o programa de cooperação entre o Sesc e a Universidade de São Paulo (USP), com foco na formalização de projetos expositivos e de ação educativo-cultural, iniciado por meio da cooperação com o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
“Aliado ao fato de que a Universidade de São Paulo possui diversas coleções em seus museus e institutos, estava o desejo conjunto de dar visibilidade e potencializar o encontro de variados públicos, que muitas vezes não têm acesso ao espaço da universidade, com esses importantes acervos. Entre eles, está a coleção de adornos indígenas pertencente ao Museu de Arqueologia e Etnologia, que somada a um recorte de obras de arte contemporânea dá força à discussão sobre as variadas formas de resistência, tão presentes em nossos dias”, contextualiza a gerente de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc São Paulo, Juliana Braga.
O visitante encontrará um conjunto de 201 peças, entre objetos e documentos indígenas preservados no MAE-USP, além das obras de arte contemporânea que foram selecionadas para esse projeto, divididos em três módulos: Adornos: o corpo como suporte de resistência; Adornos: os testemunhos de resistência; Adornos: as celebrações indígenas como resistência.
A curadoria museológica ficou a cargo de Maria Cristina Oliveira Bruno, Carla Gibertoni Carneiro, Ana Carolina Delgado Vieira e Francisca Figols (MAE-USP) e a curadoria de arte contemporânea foi feita por Moacir dos Anjos, pesquisador e curador de arte contemporânea da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.
A exposição também contempla programação integrada formada por atividades paralelas que proporcionam a contextualização mais profunda entre instituições culturais/educativas e o público. “O trabalho educativo desenvolvido em torno de uma exposição pode ir além das visitas mediadas e ser materializado de maneiras distintas considerando os diversos públicos e possíveis abordagens. Dessa maneira, propor ações que orbitam o tema geral da exposição e que verticalizam as discussões propostas é uma das maneiras de cumprir o papel educativo da instituição, enfatizando as informações trazidas pela exposição e dando subsídios para que os visitantes façam suas próprias leituras de maneira crítica e sensível”, informa Juliana Braga.
Com entrada gratuita, a visitação está aberta de terça a sábado, das 10h30 às 21h30, e aos domingos e feriados, das 10h30 às 18h30, até 8 de janeiro de 2017.
Mais informações sobre a exposição Adornos do Brasil Indígena: resistências contemporâneas no portal.
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