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História do samba e Golpe Militar de 64
Na madrugada do dia 31 de março para 1º de abril de 1964, enquanto as tropas militares tomavam as ruas do Rio de Janeiro, o operário Sabino (Gero Camilo) e o estudante Jucelino (Victor Mendes) fogem da polícia e encontram abrigo no Zicartola, antigo restaurante administrado pelo casal Dona Zica (Fabiana Cozza) e Cartola (Adolfo Moura). Tomados pelos medos e tensões do novo regime político que estava prestes a se instaurar no Brasil, os dois personagens se juntam a sambistas icônicos da época numa reflexão sobre o seu tempo e também sobre a trajetória do samba, gênero musical de resistência e engajamento político que comemora seu centenário em 2016.
Esse é o enredo de Razão Social, espetáculo com temporada no Sesc Bom Retiro.
Apaixonado por samba há anos, Victor, que divide a direção com Gero Camilo, conta que a ideia de montar um espetáculo com o tema é antiga, mas ganhou consistência quando Gero o presenteou com o livro Desde que o Samba é Samba, de Paulo Lins (autor de Cidade de Deus). Durante a criação do texto, elaborado a quatro mãos, o conhecimento de samba de Victor juntou-se ao entendimento político de Gero - mas com espaço para trocas e atravessamentos dos artistas o tempo inteiro.
O espetáculo recria ficcionalmente o bar Zicartola no Rio de Janeiro, reduto de pensadores, intelectuais e artistas da década de 1960, dando também lugar em cena a grandes sambistas como Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Zé Keti, Clementina de Jesus entre outros. As músicas são encenadas ao vivo pelos atores e pelos músicos Everson Pessoa, Gerson da Banda e Nino Miau.
Em certo momento, Victor se transforma em Noel Rosa e Fabiana Cozza dá vida à Clementina de Jesus e Nara Leão. Até mesmo a banda entra em atuação ora como policiais, ora como estudantes e também como outros sambistas afins do restaurante.
O título da peça brinca com o nome oficial do Zicartola que, por registro, chamava-se Razão Social: Refeição Caseira Ltda. “Razão social é um nome de registro de pessoas jurídicas, mas ao pé da letra tem muito a ver com a função do Zicartola, enquanto ele funcionava. Ele tinha uma razão social de estar ali, recebendo artistas e intelectuais que pensavam muito sobre seu tempo”, explicam os diretores.
O cenário é uma ficção representativa do restaurante. O figurino, um estudo da vestimenta popular da época.
Vale lembrar que a peça é uma obra de ficção, os fatos acontecidos foram imaginados pelos autores.