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O que você faz com o seu tempo de lazer?

Na metrópole marcada pelo ritmo do trabalho, espaços públicos se transformam em locais de descontração num ambiente saudável e sustentável


Matéria Principal - Revista E Fevereiro 2017

 

A Avenida Paulista é a síntese de uma cidade que não para. A qualquer hora do dia ou da noite, ela é tomada por deslocamentos apressados, principalmente no período das 7h às 19h, com as atividades de comércio, serviço e escritórios. Enquanto isso, convivem na mesma via os transeuntes em busca de descontração: corredores, skatistas, ciclistas e pedestres a passeio. Estes, por sua vez, são os donos da via aos domingos – quando, fechado para carros, o local se torna uma espécie de parque. Esse tipo de metamorfose pode ser observado cada vez mais em São Paulo. Conscientes do valor do tempo de lazer, mais pessoas têm ocupado os espaços públicos em busca de atividades ao ar livre e programas culturais gratuitos.

“A cidade é uma construção social, e seus espaços são para a apropriação dos que nela habitam, sendo transformados de acordo com as possíveis necessidades dos habitantes”, analisa o professor da pós-graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza José Clerton de Oliveira Martins, coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares sobre Ócio e Tempo Livre (Otium). “Seja qual for o espaço da cidade, ele se ajusta às necessidades dos que nela vivem e necessitam de espaços apropriados como sendo seus. Afinal, é isso que é uma cidade, uma polis, o lugar onde o cidadão habita e torna este seu lugar.”

Em uma metrópole com 12 milhões de habitantes como São Paulo, o tempo dedicado ao lazer é tão importante para o curso da vida na cidade quanto o tempo dedicado ao trabalho. A separação clara entre esses dois momentos, porém, vem se diluindo cada vez mais, explica o pesquisador do Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo (NAU-USP) Rodrigo Chiquetto. “Assim como não se pode compreender o ‘tempo livre’ somente como um momento do ‘cuidado de si’, também se deve ter ressalvas ao delimitar o ‘tempo do trabalho’ como aquele voltado tão somente a um mundo de privações extenuantes e monótonas”, esclarece. “Isso porque o trabalhador institui em seu ambiente de trabalho relações de afinidade, amizade e diversão. De casa, levam-se demandas para o local de trabalho e, do trabalho, sempre são encaminhadas questões para o ambiente familiar.”

Sobre a apropriação dos espaços públicos para o lazer, Rodrigo afirma que a cidade sempre foi tomada por seus habitantes para o estabelecimento de relações sociais de convívio e divertimento, o que vem se intensificando recentemente. “Desde aqueles que jogam futebol de rua, até os que circulam por casas de comida vegetariana, por aqueles que grafitam os muros, ou por aqueles que frequentam determinados espaços religiosos, o que se vê é uma postura ativa de circular e ocupar espaços”, exemplifica. “O que vem mudando de alguns anos para cá é a postura do poder público. Tem-se visto muitos prefeitos e prefeitas valorizarem o espaço público da calçada, da rua, da praça em detrimento dos empreendimentos privados, o que favorece e estimula o lazer dos diferentes coletivos que habitam a metrópole.”

"Consumo de experiências"

Basta circular pelo centro de São Paulo em uma tarde de domingo para observar iniciativas espontâneas, como grupos que realizam espetáculos, exibição de filmes e ocupação de espaços públicos com arte e cultura gratuita (veja mais no boxe De graça, na rua). É como se o lazer voltado ao consumo de produtos passasse, aos poucos, a ser substituído pelo consumo de experiências. “O sociólogo francês Joffre Dumazedier, grande nome da sociologia do lazer, dizia que para ele o melhor lazer que existia era passear com a namorada no parque comendo pipoca. Nesse cenário, o único item de consumo monetizado é a pipoca, que ainda assim é só um mero detalhe”, exemplifica o professor do curso de Lazer e Turismo da USP Luiz Octávio de Lima Camargo. “Existe uma pressão para que as pessoas usem o tempo de lazer gastando dinheiro, mas existe um outro tipo de lazer em que o importante é o consumo de uma experiência, de uma nova forma de viver o tempo sem esgotar os recursos naturais e sem agredir o meio ambiente.”

Luiz Octávio acrescenta ainda que, justamente por esses motivos, uma das bases do lazer moderno e uma das formas de lazer que mais crescem são as atividades ao ar livre, em que o indivíduo vive o contato com a natureza. “É uma forma de viver um lazer dentro dos padrões que o momento atual exige, no qual o desafio da ecologia se faz presente”, completa.

Pensar o lazer, assim, quer dizer também ressignificar os demais momentos da vida, avalia Rodrigo Chiquetto. “Temos que parar de pensar no tempo livre somente como um ‘tempo livre de…’ e passar a contextualizá-lo como um ‘tempo livre para’, ou seja, o tempo livre para fazer algo com alguém”, explica. “O tempo do lazer é aquele em que se pode circular pela cidade, entrar em contato com os outros, ver o diferente ou rever o igual, instituir novas relações ou restabelecer as antigas. No entanto, é importante lembrar que o lazer não pode mais ser visto em oposição ao trabalho. Esses são, sempre, universos que se interpenetram.” 


De graça, na rua

É possível desfrutar de inúmeras ações culturais ao ar livre sem precisar pagar nada por isso

Música
Na última sexta-feira de fevereiro, a unidade do Sesc Florêncio de Abreu apresenta, no espaço Centro Aberto (próximo à estação São Bento do metrô), o projeto Blues na Esquina, com apresentações musicais dos grupos Blues Negro Blues, às 13h, e Vasco Faé Trio (foto), às 16h30.

Teatro
Uma das iniciativas que unem a ocupação de espaço público e teatro gratuito é o espetáculo Esparrama pela Janela, do Grupo Esparrama (foto). Apresentado desde 2013, realiza uma intervenção cênica na janela de um apartamento a cerca de dez metros do Minhocão, que aos fins de semana é fechado para os carros. Até 12 de fevereiro, aos domingos, às 16h, o grupo apresenta seu novo projeto, Navegar.

Parques
Além de parques conhecidos, como Ibirapuera, Villa-Lobos, Horto Florestal, Aclimação e Carmo, há diversos outros espaços verdes na cidade, como o Parque do Piqueri, no Tatuapé, e o Instituto Butantan, no Butantã. Este último possui um serpentário onde é possível observar serpentes e até manipulá-las com acompanhamento de biólogos (toda quinta-feira, das 14h30 às 15h30). Em dois dos mais conhecidos parques de São Paulo, Ibirapuera (foto) e Carmo, há ainda atividades gratuitas como os planetários, que até 24 de fevereiro terão quatro sessões diárias, de quarta a domingo.

Sesc
As unidades do Sesc em todo o estado possuem acesso livre e gratuito – incluindo as unidades campestres de Interlagos, com 500 mil metros quadrados, e Itaquera, com 350 mil metros quadrados, que desde 2014 possuem catracas abertas, sem cobrança de ingresso.


Hábitos de lazer

Pesquisa mapeia as práticas culturais e esportivas dos frequentadores do Sesc

Realizada em 2015 e divulgada no ano passado, a pesquisa Cultura e Lazer: As Práticas Físico-Esportivas dos Frequentadores do Sesc levantou as motivações e hábitos de cultura e lazer dos frequentadores das unidades do estado de São Paulo. Participaram da coleta dos dados o Centro de Estudos Contemporâneos (Cedec) e o Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo (NAU-USP), combinando metodologias quantitativas e qualitativas. No total, foram realizadas 3.181 entrevistas. A pesquisa também incluiu a observação etnográfica, feita por dez antropólogos.

Os resultados apontam, por exemplo, os interesses esportivos do público e a identificação do Sesc como opção de lazer para a família toda, principalmente nas férias, com a programação do Sesc Verão, em janeiro e fevereiro.

Conheça alguns dos resultados sobre os frequentadores das unidades do Sesc: