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Estar no mundo sem fazer história não é possível!

Ilustração: Marcos Garuti
Ilustração: Marcos Garuti

Estar no mundo, com o mundo e com os outros implica necessariamente fazer história! Exige reconhecer o pertencimento ao território em que se vive, mais que isso, quando esse reconhecimento se traduz na luta diária pela melhoria da qualidade de vida nesse território, não só como espaço físico, mas como lugar de construção de referências culturais de cada um. Essa ação permanente de transformar o mundo, a si e aos outros é o exercício mais singelo de protagonismo. Seja lá qual for sua idade ou geração.

Não é de hoje, tenho observado uma verdadeira constelação de manos e minas, protagonistas da sua história, filhos das quebradas e favelas dos grandes centros urbanos, ou da zona rural, que questionam o discurso de que estão fadados ao fracasso e de que os jovens brasileiros estão acomodados e submissos às adversidades. É possível listar uma legião deles em busca de um bom lugar, como diria Sabotage, o rapper do Canão. Expressando-se sob diversas linguagens, das mais variadas formas, seja em slams de poesias; saraus de gênero, raça, LGBT; seja no funk, no hip-hop, no samba etc. Subvertem aquilo que lhes foi predestinado pela exclusão social e ocupam o lugar que escolheram nas escolas, terras improdutivas, praças,  faróis, prédios e galpões abandonados... Falam várias línguas... São de diferentes nações, inventam saídas para a crise por meio de ações culturais, economia solidária, criativa, experimentam alternativas de trabalho, emprego, renda inclusivas e sustentáveis. As juventudes estão no corre! Assumiram a responsabilidade da escrita da sua história para si! Salve geral!

A pauta do dia é saudar esse protagonismo juvenil potente, que brota em solo árido, ácido de opressões, produz frutos fartos e doces. Uma galera que faz da criatividade nas ações de produção cultural uma forma de resistência! Sua arma é a poesia, a dança, a literatura, a moda, a música, a culinária, a comunicação, as artes visuais, o teatro... O tambor do protagonismo ecoa novos brados juvenis. Gente que faz muito barulho bom! Falando em barulho, o programa Juventudes do Sesc é um bom exemplo para entender esse fluxo de troca de experiências e aprendizados em busca de um mundo melhor. Tudo junto e misturado.

Dizia Paulo Freire que somos seres condicionados. Seres que, ao se perceberem condicionados, mas conscientes de serem inacabados, se tornam seres possíveis de ir além, de conquistar um bom lugar! Desse encontro de possibilidades entre jovens e adultos surgem alternativas para construir juntos um bom lugar no mundo.

Aos mano e às mina que representa, pode pá, é nois que tá, é nois que é! Minha singela homenagem aos jovens da favela do Moinho, das ocupações e pensões do Bom Retiro e região que lutam para superar a condição de exclusão que o mundo lhes impôs.

 

Paula Bernardo é historiadora, mestre em Educação pela Universidade de São Paulo e animadora cultural responsável pelos programas Espaço de Brincar, Curumim, Juventudes e TSI do Sesc Bom Retiro.

 

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