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A casa é sua


Espaço de leitura da biblioteca da unidade Jundiaí | Foto: Alexandre Nunis.

 

Corredores mantêm uma distância regulamentar de prateleiras onde romances de cavalaria acenam para livros de história. Sobre a mesa, na entrada, uma placa sinaliza “Boa leitura”. E assim, ao longo de séculos, mantiveram-se bibliotecas mundo afora. De uns tempos para cá, alguns desses espaços vêm somando à experiência de leitura solitária e silenciosa um convite para trocas, encontros e oficinas literárias, bem como para apreciação de filmes e apresentações musicais e teatrais. Fixas ou itinerantes, as bibliotecas cativam novos leitores, convidando-os a partilharem ideias e se sentirem em casa.

Estudante de uma escola pública onde não havia um espaço para leitura, consulta ou empréstimo de livros, a bibliotecária Tatiana Amorim teve contato com uma biblioteca, pela primeira vez, aos 13 anos de idade. Na época, juntou-se a outros colegas da turma da escola, liderados pelos professores, para organizar, limpar e transformar uma sala de aula em acervo para publicações didáticas e obras da literatura brasileira e estrangeira.

Esse fato despertou seu interesse e, de lá para cá, já são 16 anos dedicados à profissão, e sete de atuação na biblioteca do Sesc Sorocaba, por onde passam, aproximadamente, 120 pessoas todos os dias. Entre as atividades de maior movimento, está o clube de leitura. “Tem gente que ainda tem essa visão da biblioteca silenciosa, mas tentamos quebrar essa ideia. Aqui também é um local para os pais virem contar histórias aos filhos, para leitores trocarem informações uns com os outros, por exemplo. Não é só um lugar de introspecção, mas de convívio”, destaca a bibliotecária.

Espaço multiuso

O bibliotecário Marco Antônio Rosa Júnior, que exerce a profissão há pouco mais de 20 anos, também observa que uma visão sacralizada da biblioteca está sendo ultrapassada por novas formas de uso do espaço. Na biblioteca do Sesc 24 de Maio, onde trabalha desde a inauguração da unidade, em 2017, é possível notar que os frequentadores veem o lugar como uma extensão da própria casa. Sensação que ele também teve quando criança, ao se encantar por aquele cenário preenchido por volumes de todos os tamanhos, cores e assuntos.

Lá a programação é intensa: contação de histórias aos sábados, mediação de leituras aos domingos, intervenções literárias que circulam por todos os espaços da unidade e também na biblioteca. Há ainda um clube de leitura nas últimas quintas de cada mês, além de cursos de escrita e análise literária.

“Uma média de 250 pessoas passam por aqui, por dia. Gente que entra de manhã bem cedo e sai só no fechamento, pela noite. Nos finais de semana, quando o espaço fica mais concorrido, percebemos muitos sentados ou em pé mesmo lendo, conversando ou nas mesas, cochilando entre uma página e outra. Depois de um tempo, alguns frequentadores se sentem em casa e cuidam ainda mais do espaço”, afirma Marco Antônio. 


Foto: Ricardo Ferreira.

 

Sobre quatro rodas

Era para ficar entre drummonds e lobatos que a bibliotecária Cristiane Gasiglia dava um jeito de escapar de algumas aulas da escola. Há cinco anos, ela trabalha no projeto BiblioSesc do Sesc Campo Limpo. “Desde pequena tenho essa ligação com bibliotecas. No instituto de ensino, onde estudava, eu frequentava as quatro bibliotecas. Infernizava a vida das funcionárias com perguntas”, brinca.

Uma oportunidade bem diferente daquela que Tatiana Amorim teve, assim como a de muitas outras pessoas que moram longe de uma biblioteca ou que desconhecem que aquele é um espaço para todos. Fato que conduziu à criação do projeto BiblioSesc (leia boxe Sozinho ou em Grupo). Sobre quatro rodas, um caminhão carrega leitura e outras atividades culturais e literárias para bairros distantes de equipamentos culturais.

No caso do Sesc Campo Limpo, a biblioteca móvel estaciona no entorno desse bairro da Zona Sul de São Paulo, além de circular por regiões como Jardim Magdalena, Jardim Comercial, Embu-Guaçu, Embu das Artes, Cotia e Taboão da Serra. Basta chegar, que logo se formam rodas de crianças, adultos e mais velhos curiosos para se inscrever em oficinas e outras ações culturais, além de pegar emprestado um dos mais de quatro mil títulos do acervo itinerante.

Entre os 60 empréstimos realizados por dia pelo BiblioSesc do Campo Limpo, os pré-adolescentes devoram títulos como Diário de um Banana (Vergara & Riba). Já os mais velhos preferem a literatura policial assinada por Caco Barcellos, MV Bill e Férrez. “Não é porque muitas pessoas não compram livros que elas não querem ler. O livro é muito caro para quem sobrevive com um salário mínimo. Mas, quando há acesso, existe a busca pela leitura e por atividades literárias”, constata Cristiane Gasiglia.

Para o bibliotecário Gustavo Barreto, que trabalha no BiblioSesc da Unidade Santana, as bibliotecas, sejam elas fixas ou móveis, são polos culturais. “Não são lugares estagnados, nem somente de estudo e de silêncio. São núcleos de aprendizagem, de compartilhamento de saberes, de troca de experiências. A biblioteca é um organismo vivo, múltiplo, interdisciplinar”, arremata.
Pode entrar! A biblioteca também é sua.

 

Vocação renovada

Conheça três bibliotecas na cidade de São Paulo que se tornaram locais de convivência e que abraçam a palavra em novos contextos

Biblioteca Mário de Andrade

Localizada no Centro da capital paulista e uma das mais importantes bibliotecas de pesquisa do país, a BMA foi fundada em 1925 como Biblioteca Municipal de São Paulo, e só foi ganhar o nome do escritor modernista na década de 1960. Atualmente, essa é a maior biblioteca pública da cidade e a segunda maior do país, superada, apenas, pela Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro. Todo mês ainda há uma vasta programação de espetáculos musicais e teatrais, exibição de filmes, feira de troca de livros, oficinas e outras atividades.

(Saiba mais: www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bma)


Foto: Sylvia Masini. 

Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

Órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (USP), localizada na Cidade Universitária, essa biblioteca foi criada em janeiro de 2005 para abrigar e integrar a coleção brasiliana reunida ao longo de mais de 80 anos pelo bibliófilo José Mindlin e sua esposa Guita. Obras de literatura, história, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários, documentos, periódicos, mapas, livros científicos e didáticos, entre outros. Além do acervo, há uma programação de espetáculos musicais, exposições e leituras.

(Saiba mais: www.bbm.usp.br)

 


Foto: Marcos Santos | USP Imagens.

Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato

Criada em 1936 como parte de um amplo projeto de incentivo à cultura elaborado por um grupo de intelectuais liderado por Mário de Andrade, então diretor do Departamento Municipal de Cultura, esta é a mais antiga biblioteca infantil em funcionamento no Brasil. Localizada na Vila Buarque, conta com um acervo de 90 mil livros de literatura, além de revistas, materiais multimídia e uma Gibiteca – espaço dedicado ao universo das Histórias em Quadrinhos, com sete mil exemplares. O local também realiza uma programação mensal de eventos como: contação de histórias, exibição de filmes, espetáculos teatrais e musicais, saraus, oficinas e exposições.

(Saiba mais: www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/monteiro_lobato)

 


Domínio Público.

 

 

 

 

Sozinho ou em grupo

Mediações, exposições, contação de histórias e outras atividades somam-se à programação das bibliotecas

Leitura e convivência. Dois pilares que descrevem o perfil das bibliotecas do Sesc em unidades na capital, litoral e interior de São Paulo. Um acervo com mais de 94 mil títulos, composto de obras de literatura brasileira, estrangeira, juvenil, infantil, quadrinhos, poesia e artes, entre outras. Espaços voltados para consulta de revistas e jornais, além de trocas de experiências literárias, culturais e educativas. De um total de 16 bibliotecas, 12 delas atendem leitores com deficiência visual (parcial ou total), dotadas de equipamentos especializados, como scanner de voz, linha braille e ampliador de caracteres e imagens.

Para nenhum leitor voraz ou futuro amante das letras ficar de fora, há também o trabalho itinerante do BiblioSesc, projeto coordenado pelo Departamento Nacional do Sesc, em atuação desde 2005 e com 56 bibliotecas volantes em todo o país, que celebra uma década de ações em São Paulo. Um projeto que leva Machado de Assis, Clarice Lispector e outros autores para passear pelos bairros da Grande São Paulo, até chegar às mãos de leitores de todas as idades. Atualmente, seis bibliotecas volantes, com mais de quatro mil títulos (cada uma) visitam diversos bairros das regiões dos Sesc Campo Limpo, Itaquera, Interlagos, Osasco, Santana e São Caetano, atendendo quinzenalmente 46 pontos.

“As bibliotecas são espaços privilegiados de encontros de narrativas e diálogos entre públicos diversos. E, no Sesc, um centro cultural, essas características são potencializadas, tornando as bibliotecas espaços de convivência e acolhimento de todos os públicos. O objetivo é incentivar a prática da leitura e a formação de leitores, por meio de bate-papos, clubes literários, intervenções poéticas, narrações de histórias e encontro com escritores”, explica Juliana Santos, assistente da Gerência de Ação Cultural do Sesc.

 

Confira algumas atividades em destaque na programação e embarque na leitura – a sós ou em boa companhia.

SESC AV. PAULISTA

Quatro Séculos de Poetas Silenciadas

Durante o mês, a poesia é o gênero em destaque no acervo da biblioteca da unidade. Por isso, nesta vivência ministrada pelo Collectivus de Leitura serão abordadas as diferentes estruturas e formas de poemas. A atividade ainda celebra o Dia Nacional da Poesia (14 de março), data escolhida para homenagear o poeta Castro Alves. (De 10 a 31/3)

SESC ITAQUERA

Ilustríssimo Ilustrador: Angola Janga – Uma História de Palmares

Realizada de maneira itinerante pelo BiblioSesc no bairro Itaquera, a exposição de ilustrações do autor e professor Marcelo D’Salete se baseia em imagens do livro Angola Janga: Uma História de Palmares. Angola Janga ou “pequena Angola” como descrevem os livros de história a terra de Palmares foi, por mais de um século, um reino africano dentro da América do Sul. (De 2 a 30/3)

SESC BOM RETIRO

Tecendo Histórias: A Moda Como Instrumento de Reafirmação Cultural, com Ronaldo Fraga

Estilista e pesquisador, o mineiro Ronaldo Fraga é reconhecido por projetos que valorizam saberes e fazeres manuais no Brasil. A partir do tema Tecendo Histórias: A Moda Como Instrumento de Reafirmação Cultural, o autor de Caderno de Roupas, Memórias e Croquis (Cobogó, 2015) fala sobre moda, música e literatura como inspiração. O encontro será realizado na Biblioteca. (Dia 16/3)

 


Foto: Ana Colla.

SESC SANTO ANDRÉ

Mulheres que Constroem a Cidade

Neste bate-papo na Biblioteca, é proposto um percurso lúdico e crítico pela trajetória de mulheres negras, a fim de compreender as múltiplas faces da cidade construída pelas mãos dessas protagonistas. Para isso, os participantes terão contato com mapas, fotografias, memórias, literatura e musicalidades que apresentam histórias, dilemas, desafios e vitórias coletivas da população negra. Aspectos que evidenciam tradições e formas de organização na cidade de São Paulo. (Dia 9/3)

SESC CARMO

A Resistência, de Julián Fuks – Clube de leitura com mediação de Luiz Ruffato

Neste mês, o encontro, que faz parte do Clube de Leitura, será mediado pelo escritor Luiz Ruffato e abordará o livro A Resistência, de Julián Fuks. No enredo, cabe ao narrador o exame de um passado e a reescritura do enredo familiar. Essa atividade integra uma série de encontros mensais na Biblioteca, onde leitores se reúnem para conversar sobre livros sugeridos pelos participantes, em parceria com o Sesc São Paulo. (Dia 26/3)

 


Foto: Piu Dip. 

 

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