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Habitar Palavras: Edilene Pedro

Tristes momentos

Tempos que pensei que não iriam voltar, 
histórias contadas de uma triste doença, que vinha assustar 
Doença que chegou silenciosa na aldeia a entrar 
Avião que sobrevoava o céu, 
pensavam ‘será que veio nos contaminar?’... 
Medo dos não índios, achando que queriam aproveitar, 
do triste momento que estavam a passar 
Relatos de mortes e mais mortes que chegavam a assustar 
Parentes sendo enterrados um atrás dos outros 
sem um ritual a celebrar 
Será que essa doença veio para nos exterminar?
Kaingang grandes guerreiros da terra que estava a habitar 
foram muitos mortos, mas também grandes guerreiros 
que conseguiram a doença enfrentar 
Sobraram-se poucos kaingangs que vieram a contar, 
uma das tristes histórias que o povo kaingang viera a vivenciar 
Dos tempos que ouvimos os mais velhos a contar 
Hoje mais um vírus veio a nos assustar 
Com fé em ituko`oviti esperamos a passar 
Este momento para um dia contar 
Para nosso povo kaingang e Terena que hoje na 
Terra Indígena vem a habitar... 

 

Covid-19

E do estrangeiro ela chegou, 
Sendo comparada como uma gripinha. 
Não demorou para mostrar 
que era para temê-la 
fique em casa!  
sem abraços apertados, 
sem aperto de mão, 
sem aglomeração, 
usar a máscara e álcool em gel 
tornou-se obrigatório.  
Algumas pessoa temiam, 
outras as ignoravam. 
Muitas pessoas sofriam com as perdas, 
Outras felizes por ter vencido a doença,  
mas para todos nós só há uma esperança, 
a vacina. 
quando descobrirem uma vacina para combatê-la 
tudo vai passar 
tudo vai voltar ao normal e alguns com grande aprendizado 
que vai levar pra vida toda.

 

Quando tudo teve que ser diferente 

Quando a Covid-19 começou nos outros países, até chegar no Brasil, a rotina era tudo normal. Então os estados e municípios começaram tudo a parar, todos respeitando as devidas recomendações de saúde. 

Em seguida, chegaram às aldeias, mudando o ano de 2020 e a rotina dentro delas. Como gostamos de viver sempre juntos, tudo que acontece na aldeia nos reunimos para comemorar ou chorar, não podíamos mais, porque isso significava aglomeração. As danças que realizamos em abril não aconteceram, onde tínhamos venda de artesanato e de nossas comidas típicas, que eram mostrados aos visitantes, ainda assim continuávamos a nossa cultura em família.  

Houve até um museu que criou o ‘Museu em casa’ para ajudar as famílias artesãs a divulgar seus artesanatos, tivemos também uma vaquinha virtual para ajudar a nossa comunidade. Tivemos que nos reinventar, criar outras formas para nos ajudar e ajudar nossas comunidades. 

Como os casos da doença nos municípios vizinhos começaram a aumentar, o cacique preocupado com a pessoas da aldeia criou uma barreira sanitária. Onde ele tomou a frente para que as pessoas evitassem a sair e ainda outras a entrar. Também não podíamos visitar nossos parentes de outros lugares e nem eles poderiam vir a nossa visita. 

A comunidade viu a mudança de rotina na aldeia, e como em todos os lugares uns respeitavam e outros ignoravam as regras estabelecidas pelo cacique. Durante meses foi essa rotina, mas como os municípios estavam com um melhor controle dos casos da doença, a comunidade decidiu reabrir a aldeia. De novo, todos continuavam a se cuidar, mas havia os que ignoravam a doença. Neste entra e sai, uma família foi contaminada, mas graças a Deus estão bem, apenas um segue em recuperação devido a algumas complicações. 

Atualmente, nossa comunidade segue se cuidando, para que não haja mais contaminação. E assim como o mundo inteiro, estamos aguardando uma vacina pra que tudo volte ao normal e que possamos voltar a mostrar a vivência em nossa aldeia. 

Com graça de Ituko`oviti tudo vai passar!!! 

 

Sobre a autora

Edilene Pedro, mulher indígena de etnia Terena, é moradora da Terra Indígena Icatu, Braúna, São Paulo. Formada em matemática pela Fundação Educacional de Penápolis (FUNEPE) e em Pedagogia Intercultural pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, leciona na escola indígena da aldeia e numa escola municipal de Braúna. É filha dos indígenas Sr Rodrigues e D. Silvia Antonio, mãe de Rodrigo Pedro Iaiati, Rafhael Pedro Iaiati e Maria Eduarda Lery Elias. Pelo gosto de ouvir as histórias contadas por seu pai e outros anciãos da aldeia, agora registra também seus sentimentos e sua herança cultural por meia da escrita.

 

Habitar Palavras - Biblioteca Sesc Birigui

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