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Prazer no Esporte

Quando se fala em esporte é comum pensar em superatletas, quebra de recordes e habilidades quase inatingíveis. Mas, assim como inúmeras atividades físicas, o esporte está aí para ser praticado por todos. Claro, algumas práticas precisam ser adaptadas às necessidades do indivíduo ou do ambiente.

Porém, uma coisa é certa, quando realizado com prazer e boa orientação, o esporte só traz benefícios – seja na qualidade física, na inclusão social, na aprendizagem. E isso independentemente da destreza ou vocação de cada indivíduo. 

Para o preparador físico da seleção brasileira feminina adulta de vôlei, José Elias Proença, o Zé Elias, a prática física pode estar vinculada desde à alta “performance” do atleta até ao simples ato de subir uma escada. “Por isso, a atividade é importante tanto para a saúde de quem vive sua relação de afazeres cotidianos como para quem a usa como meio profissional”, explica o especialista.

A boa notícia, portanto, é que qualquer pessoa pode e deve praticar esporte. Mas, para Zé Elias, o problema é que muitos fazem atividade física preocupados apenas com o rendimento. Quem vai jogar vôlei já externa a vontade de sacar bem, realizar o movimento com perfeição. “No entanto, as pessoas deveriam fazer com que esse jogo fosse adaptado e colocado de forma mais tranquila”, orienta. “Muitos procuram uma atividade inclusiva, mas se eles forem apenas cobrados pelo lado competitivo isso pode afastá-los da prática (veja boxe Dicas inteligentes).”

O importante é praticar

Por que mesmo aqueles que não possuem habilidade podem se beneficiar com a prática esportiva? A ex-jogadora de vôlei e diretora do Instituto Esporte Educação, Ana Moser, responde tão rápido quanto atacava a bola nas quadras: “O indivíduo deve praticar esporte porque é uma atividade motora, e o benefício está no diálogo, na participação com o próximo, na inclusão”, destaca.

De acordo com ela, aquele que participa da atividade pelo prazer transpõe a falta de habilidade. E, por consequência, melhora a performance em outras áreas, como sociabilidade, saúde, conhecimento, autoestima. “O esporte é, portanto, uma estratégia de integração social e reúne as pessoas das mais variadas características”, reitera.

Além do receio de não levar jeito para a coisa, Ana Moser considera a falta de orientação um potente desestímulo para a prática esportiva. “Infelizmente existe a ideia de que só há espaço no esporte para aquele que possui um grau de habilidade, mas esse conceito existe porque não há ainda uma organização em larga escala para a prática esportiva nas escolas”, defende.

Dessa forma, fazer esporte sem se preocupar tanto com o desempenho significa transcender alguns valores. É o que acredita, por exemplo, o armador esquerdo de handebol Bruno Souza, que defendeu em 2008 a seleção brasileira nas Olimpíadas de Pequim. O que conta realmente, segundo ele, não é se tornar um nadador, jogador de futebol ou um grande esportista. “Mas o importante é praticar esporte periodicamente”, garante. “O ideal é ter uma prática que lhe preencha, ofereça qualidade física e psicológica.”

O atleta em você

Nem todo mundo terá as qualidades físicas e comportamentais para compor uma equipe profissional, mas nem por isso precisa deixar de usufruir os benefícios da prática esportiva (conheça as novidades do Sesc Verão 2011 no boxe Cultura esportiva). “Ou seja, essa é a forma de enxergar o esporte sob outra ótica”, analisa o doutor em educação física Edison de Jesus Manoel.

“Por isso ‘esportear’ é algo que todo mundo pode fazer dentro de determinadas regras conhecidas historicamente, mas que podem ser adaptadas à realidade de cada um ou de grupos”, diz. Segundo o especialista, a adaptação foi a grande “sacada” com as pessoas com deficiência.

“Como alguém ia pensar que um deficiente visual pudesse jogar futebol?”, pergunta. “Hoje a pessoa com deficiência não só joga, como disputa as paraolimpíadas quando sobressai aos outros da mesma característica.”

Em grupo ou sozinho

O esporte, de acordo com Manoel, pode ser trabalhado ainda de duas formas: o pessoal, pelo qual o indivíduo testa seus limites; e o coletivo, como pular na piscina acompanhado de dez pessoas. “Em grupo, a motivação pode ?ser bem maior do que estar sozinho porque você pode nadar atrás do seu colega, depois pode ir à frente, e, assim, vivenciar várias situações na água”, explica.

O especialista lembra que a competição não deve deixar de existir, mas, na sua opinião, é preciso recuperar a gênese esportiva e buscá-la como um passatempo dos mais sérios, de origem milenar. Isto é, os elementos presentes na prática devem ser preservados – como a integração entre as pessoas, a percepção de si, do próximo e do “adversário”, o desenvolvimento de habilidades e potências (veja boxe Benefícios do movimento).

“No esporte que vemos todo dia, os atletas demonstram uma técnica que define o melhor caminho para alcançar os resultados”, lembra. “Porém, o melhor caminho não pode ser confundido com único caminho, porque existe o conhecimento dos limites de cada um, a reflexão sobre o perder e o ganhar, a compreensão da dinâmica da situação tática do jogo e sua relação com a vida diária.”

Meninos e meninas, fracos e fortes

Foi por meio das brincadeiras e dessas experimentações que a ex-jogadora de vôlei Ida Álvares encontrou seu caminho no esporte. A medalhista de bronze nas Olimpíadas de Atlanta de 1996 praticou várias modalidades na escola, que iam da “queimada” ao vôlei e basquete. Para ela, quando a pessoa tem aptidões para ser um profissional do esporte, isso ocorre de forma natural. “Existe o momento certo; eu, por exemplo, tenho uma filha que faz capoeira, skate, tênis”, afirma. “Quero que ela experimente o máximo, porque ela precisa se encontrar, descobrir, ter prazer no que pratica.”

Fazer uma boa relação entre o jogo e o exercício é outra sugestão para aproximar as pessoas das atividades. Segundo o professor de educação física Abel Ardigó, esse processo faz parte de uma metodologia triangular: “Ensinar esporte para todos; ensinar bem esporte para todos; e ensinar mais esportes para todos”, sintetiza. “Essa metodologia busca uma relação motivacional entre jogar e se exercitar.”

Para Ardigó, um bom jogo é aquele que inclui a todos. E em que haja respeito à diversidade: onde meninos jogam com meninas, os “fracos” jogam com os “fortes”, os mais altos com os mais baixos. Isso é possível porque todos têm inteligências múltiplas para praticar esporte, conforme ele próprio diz.

Ou seja, uns podem ter uma habilidade corporal melhor, enquanto outros podem ter uma lógica matemática diferenciada e resolver dificuldades no esporte em relação aos demais. “Então, foi-se o tempo do olho clínico em que se falava: ‘aquele menino vai ser um craque’; isso não existe mais”, avalia o professor. “No entanto, se o indivíduo tiver sucesso na prática do esporte pelo prazer, pela motivação, ele certamente vai poder cultivar essa atividade a vida toda.”

Benefícios do movimento

Conheça algumas modalidades que praticadas corretamente podem propiciar ganhos à saúde

Natação
Ela é única ao estimular o maior órgão sensorial do corpo humano: a pele. O deslocamento no meio aquático nos ajuda a sentir o corpo de forma inusitada, a maior densidade desse meio nos permite realizar movimentos que nunca faríamos no meio aéreo, como posturas invertidas, giros de 180, 360 graus, rolamentos e tantos outros mais.

Ciclismo
Sentimos o ambiente físico por meio do instrumento que ganha vida em nossos movimentos, a transferência de nossa energia para a bicicleta permite adquirir um conhecimento do nosso próprio corpo. Essa modalidade permite uma experiência coletiva singular, em grupo cada um está na sua bike, mas todos se deslocam em sincronia, exercitamos o ritmo pessoal em harmonia com o ritmo social.

Tênis
Revela um saber que funciona na escala de milissegundos, lida com velocidades de uma centena ou mais de quilômetros por hora. Parece sobre-humano, afinal o nosso pensar cotidiano milita na escala de muitos segundos, de vários minutos, e aí a bola já passou. O tênis significa deixar o corpo pensar nos milissegundos que lhe são tão humanos. A ideia de timing nasceu com o tênis.

Atletismo
Ele nos traz para o chão, nos dá a noção exata dos limites: quão rápido podemos ser, quão longe ou alto podemos lançar objetos e nos lançar, quão resistente somos. Ele é duro, mas justo e democrático, o mesmo cronômetro que registra o recorde mundial dos 100 metros não para enquanto não marca o nosso tempo. A trena que cobre a distância do salto olímpico repousa ali paciente para medir o nosso salto.

Dicas inteligentes

Acompanhe algumas orientações para que a prática esportiva continue prazerosa e não se torne uma armadilha

Acompanhamento profissional: Com auxílio, o indivíduo pode ter um contato importante e responsável com o esporte. A companhia do profissional também propicia orientação, avaliação, estímulo e incentivo numa determinada atividade física.

Espaço: Pode-se praticar esporte no clube, em associações, no parque, na praia ou em outro ambiente que também esteja adaptado à atividade física.

Ansiedade: Manter controle sobre a busca rápida por resultados, como, por exemplo, obter formas físicas ou habilidades privilegiadas em pouco tempo de atividade físico-esportiva.

Reconhecer os limites: Não buscar ser um atleta de alto rendimento sem ter as condições físicas e comportamentais ideais exigidas.

Cultura esportiva

Com inúmeras propostas espalhadas pelas unidades, o Sesc Verão 2011 convida a uma prática consciente e inclusiva

Quase todos apreciam um belo espetáculo esportivo. Mas que tal deixar de ser mero espectador e participar também de uma atividade física? É isso o que propõe o Sesc Verão, que nesta edição de 2011 tem como intuito sensibilizar as pessoas sobre a importância do jogo. “E reconhecê-lo como fonte de autoconhecimento e, sobretudo, como uma atividade lúdica e de grande prazer”, enfatiza a gerente de desenvolvimento físico-esportivo do Sesc, Maria Luiza Dias.

O objetivo será apresentar a relevância de escolher uma atividade físico-esportiva para o cotidiano das pessoas como forma de obter melhor qualidade de vida. “Vamos trabalhar o esporte como um meio de transformação das pessoas, principalmente como elas podem se desenvolver dentro dele”, informa o assistente da Gerência de Desenvolvimento Físico-Esportivo (GDFE), Afonso Elísio Corrêa Alves.

“Procuramos estimular quais as relações intrínsecas entre os indivíduos e o esporte, como o prazer, o convívio social e o aprendizado de uma ação motora.” Já Maria Luiza reitera que a proposta apresenta a importância da prática da atividade físico-esportiva como ferramenta de sensibilização da sociedade sobre a cultura esportiva. “Buscamos ampliar o entendimento das pessoas com relação às questões que envolvem a prática do esporte, cuja proposta faz parte de uma inovação contínua da instituição em propiciar atividades que realmente agreguem valor ao cotidiano das pessoas”, conclui.

Deu a louca nos esportes

Entre os destaques das unidades, o Sesc Consolação elaborou uma ambientação com cinco espaços distintos no ginásio. O local está preparado com materiais e acessórios adaptados, que inclusive podem atender crianças de zero a cinco anos. Há também local direcionado à prática de esportes com rodas – como patins, skate, bicicleta, além de outra área para atividades radicais.

Já o Pompeia, sob o tema Dê corda a esta ideia, alude aos esportes que são praticados com redes, como o vôlei, o basquete, o futebol, e outros. Além disso, oferece um circuito de arvorismo com cerca de 100 metros de comprimento que está instalado no deck da unidade. Embora ofereça o esporte de aventura como escalada e outras apresentações, o circuito tem vários níveis que possibilitam a participação de todos.

Para mais destaques da programação Sesc Verão 2011,
acesse
www.sescsp.org.br